Os casos Santander e Empiricus são apenas os dois mais recentes de uma lista que já conta até com o FED e o NY Times.
IMPLICANTE
Há alguns dias, o banco Santander enviou
a seus clientes de alta renda uma mensagem na qual sugeria que, caso
Dilma Rousseff fosse reeleita, a economia brasileira pioraria, com alta de juros, câmbio desvalorizado e queda da bolsa.
“Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir”, diz o texto sob o título “Você e seu dinheiro”. “O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes. Esse último cenário estaria mais de acordo com a deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos”, acrescenta a análise.
Após o ocorrido, a presidente classificou o episódio como inadmissível e lamentável, ignorando o fato de que a economia de fato melhora com a sua possível queda. No entanto, funcionários do banco acabaram demitidos por falar a verdade, o que apenas evidencia a tendência petista de culpar o mensageiro que traz as más notícias.
Mas este não foi o únco caso recente. A Empiricus Research, empresa de análise de ações. teve peças publicitárias retiradas do ar pelo Google por determinação judicial. Elas, segundo o PT, faziam “terrorismo econômico”. A empresa, no entanto, recusou-se a pedir desculpas.
A Empiricus diz que fez o mesmo que o Santander, que também foi acusado de fazer campanha a favor dos candidatos de oposição em relatório enviado aos clientes do varejo de alta renda, com renda acima de R$ 10 mil, ao afirmar que os mercados financeiros reagiriam mal á reeleição da presidente Dilma. “A diferença é de que nós não pediremos desculpas por falar a verdade e aconselhar, sem qualquer parcialidade, apoiados apenas em fatos, nossos clientes e leitores”, diz o relatório. Para a consultoria, a coligação tenta censurar a Empiricus.
No início do ano, a maneira petista de
lidar com os problemas respingou até mesmo no FED, o banco central dos
Estados Unidos. Mesmo com todas as evidências, a senadora Gleisi Hoffmann apresentou no Plenário do Senado voto de censura a uma avaliação do banco que classificou a economia brasileira como a segunda mais vulnerável entre os 15 países emergentes presentes em uma lista.
Gleisi Hoffmann acusou o FED de ter extrapolado “seu mandato”, argumentando que “o banco central de um país não pode fazer, oficialmente, avaliação da situação econômica de outro”. Segundo a parlamentar, foi uma ação tendente a interferir nos mercados, “uma vez que os investidores, com base nas conclusões do FED, poderão alterar suas decisões de futuros investimentos”.
A própria Gleisi também já foi a
causadora de problemas no IBGE. Após o órgão alterar a forma de
levantar a taxa de desemprego, com a divulgação da PNAD Contínua, que é
mais ampla, os índices apresentaram alta,
o que não deixou a então ministra satisfeita. Desta forma,
Gleisi pressionou para que a divulgação da pesquisa fosse interrompida,
fato que não foi bem recebido no Instituto.
Após a decisão do IBGE de interromper as divulgações trimestrais da Pnad Contínua, a diretora de Pesquisas do instituto, Marcia Quinstlr, pediu exoneração do cargo, o mais importante da diretoria do IBGE.
A coordenadora da Escola Nacional de Estatísticas e integrante do conselho diretor do IBGE, Denise Britz do Nascimento Silva, também discordou da decisão do colegiado e pediu exoneração.
Contudo, a prática petista de perseguir
os profissionais que trazem ao mundo informações que desagradam o
partido vem desde o mandato de Lula, quando ficou notório o caso de
Larry Rohter, correspondente do New York Times que foi expulso do Brasil após afirmar que o então presidente teria problemas com álcool.
O perigo de tantas atitudes aparentemente inofensivas aos brasileiros mora no fato de o PT pretender num segundo mandato de Dilma finalmente desengavetar o que chama de “Controle Social da Mídia”.
Em recente reunião no Palácio da Alvorada, Dilma deixou claro a petistas não ter a intenção de regular conteúdo, mas sinalizou que topava tratar da parte econômica: “Não há quem me faça aceitar discutir controle de conteúdo. Já a regulação econômica não só é possível discutir como desejável”, disse.
Se por ingenuidade ou esperteza, só a
presidente poderá esclarecer. Mas “regulação econômica” de veículos de
mídia é, sim, mesmo que indiretamente, uma regulação de seu conteúdo.
Basta que as manchetes soem desagradáveis a quem se encontra no poder e o
governo poderá pressionar seus autores da mesma forma que agiu com o
Santander. O melhor exemplo talvez se encontre nas atitudes do governo
venezuelano, parceiro do brasileiro no Mercosul, que não se furtou de cortar o fornecimento de papel a publicações
que criticavam a administração do país. Fato é que poucas coisas soam
tão obscuras quanto um possível segundo mandato de Dilma. Ela já andou
dizendo que que não repetirá os erros de seus primeiros anos na presidência. Falta ficar mais claro, no entanto, se o que ela considera “erro” está em sintonia com o que o eleitor também considera.
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