sábado, 28 de junho de 2014

Quadro econômico do Brasil divide a opinião de especialistas


Déficit fiscal, inflação, balança comercial e recessão são pontos de discórdia

Jornal do BrasilLouise Rodrigues*
O quadro econômico do Brasil tem divido a opinião dos economistas. Nesta sexta-feira (27), o Tesouro Nacional informou que o déficit primário do Governo Central (que compreende o Tesouro, a Previdência e o Banco Central) superou a arrecadação em R$ 10,502 bilhões em maio. Este foi o pior resultado para o mês desde o início da série histórica, em 1999.
Também nesta sexta-feira, a Receita Federal divulgou os dados de arrecadação de impostos e contribuições federais no mês de maio. Os números mostram uma redução de 5,95% em comparação ao mesmo período de 2013. Este é o valor mais baixo para meses de maio desde 2011 e também representa a primeira baixa do ano. Ainda segundo a Receita Federal, nos primeiros cinco meses de 2014 a arrecadação teve crescimento real de 0,31%.
Na terça-feira (24), o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou a contratação sem licitação da Petrobras para exploração do volume excedente de óleo em quatro campos de pré-sal. Na ocasião, o ministro afirmou que a União vai receber R$ 2 bilhões pelo bônus de assinatura do contrato. A medida gerou polêmica e, acompanhada de dados negativos, torna a situação econômica do Brasil ainda mais polêmica.
Para o coordenador dos cursos de gestão e professor do mestrado em Economia Empresarial da Universidade Cândido Mendes, Roberto Simonard, “a Petrobras está vivendo um período de grande intervenção do governo nos preços. Porém, os lucros da empresa estão em queda. Então, é uma época ruim para isso acontecer. O Brasil tem pré-sal e precisa de investimento. Sabemos que o governo tem feito manobras contábeis para conseguir saldos positivos. A Petrobras vai adiantar uma quantia de 2 bilhões de reais de um dinheiro do futuro para o governo, ou seja, uma receita extra”.
O professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Francisco Lopreato, por sua vez, avalia de forma positiva a assinatura do contrato. “Qualquer empresa que estivesse fazendo o esforço de investimento que a Petrobras está fazendo seria monstruoso. O que está se demandando é um volume hercúleo de investimentos. O ritmo, a expectativa, os desafios... tudo isso não pode estar em uma situação maravilhosa. Os investimentos estão altíssimos. Vamos ter que esperar uns cinco anos para a Petrobras receber um retorno. A empresa está sobrecarregada, com uma exigência muito grande. Além de tudo, teve o baque com a perda dos preços de combustíveis. Isso deu uma esvaziada no caixa da Petrobrás. O governo se atrapalhou com isso. A situação problemática é incompatível com os investimentos. Sobre o novo acordo da Petrobras com o governo, os recursos serão pagos com a venda desses campos [Búzios (antigo campo de Franco), Entorno de Iara, Florim e Nordeste de Tupi]. Dois bilhões de reais não é uma quantia significativa. O custo adicional vai ser pequeno porque ela já atua nessa área. Foi uma vantagem para a Petrobras esse acordo. O governo quis se assegurar que aqueles campos sem licitação já são da Petrobrás, não tem volta”, defende Lopreato.
Déficit fiscal
Lopreato e Simonard também diferem em opiniões sobre o déficit fiscal, que é a diferença entre todas as receitas do governo e as suas despesas, sendo as despesas maiores que as receitas.
Simonard acredita que “o déficit fiscal está em uma trajetória de expansão preocupante. Está expandindo rapidamente e o governo não dá mostras de tomar um posicionamento para resolver. Pelo contrário”. Ele diz que “é preciso controlar os gastos porque a atual administração pública tem uma política de expansão econômica baseada em gastos públicos”.
Já para Lopreato, “a economia está crescendo pouco e existe a expectativa de queda da receita. Mas eu não vejo uma situação catastrófica. Claro que poderia ser melhor, mas não está um caos generalizado. Temos um superávit primário positivo e que tem sido mantido sobre controle. O governo recorre a ações extraordinárias, mas faz parte”.
Balança Comercial
A balança comercial, que registra as importações e as exportações de bens e serviços entre os países, contudo, preocupa os dois economistas. A diminuição da demanda e dos preços das commodities, para ambos, agrava o problema de uma balança comercial negativa.
Simonard analisa: “Desde o começo do século XXI, houve um boom econômico e o Brasil, que é um grande produtor de commodities, disparou nas exportações. Contudo, desde 2011, a economia vem desacelerando e, consequentemente, a demanda por commodities diminuiu. O Brasil já não recebe o mesmo dinheiro e não tem o mesmo lucro de antes. O saldo externo brasileiro se deteriorou”.
Lopreato adianta que “a balança comercial é um quadro que preocupa”. Para ele, “é uma situação que talvez tenha melhorado, mas como reflexo da baixa atividade econômica. Não teve um quadro favorável ao aumento das exportações. Nós estamos apostando tudo em petróleo, mais dois ou três anos vai deslanchar e regular. Sobre as commodities, a demanda da China está meio devagar e a situação da Europa e nos Estados Unidos não é muito boa. O que estava salvando, eram as commodities, que aumentaram em montante, mas caíram em valor”.
Inflação
Sobre a inflação, a opinião dos economistas difere em alguns pontos. Embora os economistas concordem que o quadro é estável, Simonard aponta que “a inflação está do topo da faixa, acima da meta”,já Lopreato se mostra mais otimista dizendo: “não tenho a perspectiva que estoure a meta”.
Simonard justifica dizendo que “o Brasil tem uma infraestrutura ruim, mão de obra pouco qualificada e taxa de juros e carga tributária altas. Não tem uma produtividade boa. A situação se agrava com o fato de que o governo tem alavancado com o aumento dos gastos”
Já Lopreato afirma não acreditar que “vá ter uma mudança significativa e nem que vá sair de controle”. Ele explica: “não existe uma situação favorável para cair e nem para estourar. Acredito que vai ficar em redor dos 6%. Os serviços continuam altos e os preços dos alimentos também. Talvez a Copa tenha ajudado a aumentar o preço dos serviços. A inflação está estável nos últimos dois anos, mas tendência é que haja uma queda no segundo semestre”.
Recessão
A possibilidade de uma recessão não é afastada pelos economistas, diante do quadro econômico do Brasil. Contudo, para alguns, como Simonard, o país já passa por uma recessão. Para outros, como Lopreato, o panorama ainda não é tão grave, mas também não é descartável.
Simonard alega que “o Brasil tem crescido pouco de 2011 para cá. Os investimentos no país diminuíram nos últimos tempos, desde 2012. Como a inflação está acima da meta, ela contribui para contrair os investimentos e prejudica o consumo. Já estamos vivendo uma recessão”.
Já Lopreato minimiza: “São dois trimestres de queda do PIB, agora está desacelerando. Se vai configurar como uma recessão, vamos esperar para ver. Existe a chance. Estamos caminhando para um PIB baixo. Uma recessão não é totalmente descartável. Ainda mais com essa quadro de eleição. Esse quadro de incerteza prejudica a questão econômica, segura os investimentos”.
* Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil

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