sábado, 28 de junho de 2014

Por que nossa oposição não pode se limitar ao esquerdismo?

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Indo para uma reunião de negócios, de taxi, aproveitei o tempo para ler dois capítulos do ótimo livro de Kevin Williamson, O Livro Politicamente Correto da Esquerda e do Socialismo. Foi quando eu notei que, mesmo sendo tão direitista como Williamson, sou um ferrenho opositor dele em relação à como o esquerdismo deve ser percebido.
Veja este trecho, após ele narrar as barbáries do socialismo:
Devemos também considerar que a causa de todo esse sofrimento não foi a presença de homens maus, mas de ideias equivocadas [...] Cada ditador do século XX parecia singularmente perverso – até que sua crueldade fosse equiparada ou ultrapassada pelo ditador da nação vizinha. Qual a probabilidade de que homens perversos pudessem chegar ao poder, mais ou menos na mesma época, na Alemanha, na Itália, na Rússia e na China? Uma explicação mais plausível é que, por mais malévolos que fossem esses ditadores, foi a ideologia que seguiam, e não o caráter moral peculiar deles, que assumiu o papel de fator decisivo. A ideologia do planejamento central é um convite ao exercício do poder ditatorial e da repressão, como argumentou Hayek com tanta habilidade em O Caminho da Servidão.
À primeira vista, o parágrafo acima parece não encerrar qualquer forma de problema, certo? Errado. Observe as duas visões comuns que possuímos a respeito da esquerda:
  1. O esquerdismo é apenas uma ilusão, que não funciona – essa é a posição de Kevin Williamson, assim como de uma boa parte dos direitistas
  2. O esquerdismo é a melhor opção, e com certeza funciona – essa é a posição dos esquerdistas
Minha forma de tratar a questão é tão oponente da primeira quanto da segunda. A visão que defendo aqui é de que o esquerdismo é a melhor opção para pessoas com segundas intenções, ou seja, a obtenção do poder a partir da intervenção estatal, e nada mais que isso.
Esta visão que defendo faz surgir, naturalmente, algumas objeções, sejam elas vindas tanto da direita que é tratada na hipótese 1, como da esquerda em geral (ou seja, a hipótese 2). Uma dessas objeções nos diz que pode ser injusto dizer que o esquerdismo foi elaborado de forma proposital para enganar incautos e dar poder a burocratas. Principalmente os esquerdistas hão de se incomodar com esta constatação que, se não justificada, pode complicar radicalmente minha hipótese. Lembro que sendo minha hipótese a mais válida e corroborada pelas evidências, crer no esquerdismo passa se tornar um problema moral.
Porém, elenco alguns pontos que, em conjunto, corroboram fortemente a hipótese 3 (o esquerdismo não é um “engano”, mas uma fraude deliberada para dar poder a burocratas). São eles:
  • Falta de alinhamento com a realidade de pessoas como Jean Jacques Rousseau e Karl Marx. Todavia, estas pessoas tinham uma bagagem suficiente de conhecimento para não incorrer nos erros em que incorreram.
  • Falta de alinhamento proposital com a realidade dos ideólogos do esquerdismo. Note que aqui o termo “proposital”, não utilizado para o ponto anterior, surge. O fato é que esse ponto é identificado quando refutamos o material de esquerdistas, usando coisas como guias de falácias e afins, e mesmo assim eles prosseguem mantendo o discurso. Sendo assim, a hipótese de “engano” é eliminada já a partida.
  • A solicitação de inchaço estatal é sempre parte dos discursos da esquerda, mesmo que eles digam lutar por “igualdade”. Só que as mesmas propostas podem ser feitas por outras soluções além do inchaço estatal. Fica claro que todas as solicitações de inchaço estatal sempre são convenientes para quem quer se aproveitar do inchaço estatal. Em adição, quaisquer alternativas para a melhoria de vida dos pobres são descartadas caso não envolvam inchaço estatal. Qualquer pessoa adulta já percebe as segundas intenções logo de cara.
  • Quando obteve sucesso pleno, o esquerdismo sempre levou ao totalitarismo, com a capacidade dos donos do inchado inchado de exterminarem seus opositores, como vimos em vários casos no século XX. Não é uma coincidência que todos eles sejam esquerdistas.
Claro que estes pontos são apenas alguns exemplos, mas é o suficiente para termos a noção de que acreditar em “erro” esquerdista chega a ser um erro infantil.
Não me entendam mal: eu não digo que vários autores da direita são infantis. O livro de Williamson é um petardo, assim como a obra de Hayek. Entretanto, na avaliação da essência do esquerdismo, ambos erraram ao tratar uma fraude como se fosse um equívoco. E essa distinção muda absolutamente tudo no momento de tratarmos o fenômeno esquerdista. Eles seriam muito mais assertivos em suas críticas ao esquerdismo se não tivessem cometido tal erro.
Na visão tradicional (hipótese 1), a tendência é sentirmos compaixão pelos esquerdistas, pois são pessoas “enganadas”. Com isso, são criados certos bloqueios psíquicos que nos impedem de sermos assertivos suficientemente com eles. Esses bloqueios só são eliminados quando encaramos um fraudador como ele realmente é.
Basta imaginar todas as vezes em que você esteve diante de uma fraude, prestes a lhe vitimar. Em seguida, lembre-se de todas as vezes em que você esteve diante de um erro alheio, que lhe causou dano. A reação diante do primeiro caso é capaz de ativar vários mecanismos de defesa para uma ação de contenção. Já no segundo caso, os tais mecanismos de defesa se confundem a uma mixórdia de sensações que incluem comiseração pela outra parte. O problema mais grave surge, é claro, quando consideramos um fraudador como alguém apenas “enganado”. Esse é o erro tanto de Williamson como de Hayek.
Williamson questiona a “probabilidade de que homens perversos pudessem chegar ao poder, mais ou menos na mesma época, na Alemanha, na Itália, na Rússia e na China” em favor de sua tese. Mas estudos recentes sobre a psicopatia mostram que cerca de 2% da população é composta de psicopatas. É natural que psicopatas busquem formas de obter poder. E, na disputa de posições pelo estado, o esquerdismo se torna a casa natural de psicopatas. O esquerdismo, nos exemplos do século XX, foi o meio usado para que psicopatas pudessem executar suas barbáries, exatamente por que serve para dar poder a burocratas.
Eu costumo citar Luiz Felipe Pondé, que muitas vezes faz ótimos textos. Mas discordo dele quando diz tremer quando vê alguém “prometer um mundo melhor”. Na verdade, o problema está em pessoas que usam jogos sujos para chegar ao poder (ou dar poder aos que ele segue) e ao mesmo tempo usam o argumento dizendo “querer o mundo melhor”.
A esquerda hoje se tornou um problema para nós por que ao mesmo tempo em que é um engodo para dar poder a pessoas com as piores intenções possíveis, também infelizmente é compreendida por uma boa parte dos direitistas como se fosse apenas um “erro de julgamento” ao invés de uma fraude com objetivos claros. Assim, este blog defende uma oposição não apenas ao esquerdismo, mas à qualquer forma de direitismo que insista em querer visualizar o esquerdismo como “um engano” ao invés de uma fraude.

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