O escabroso
racialismo - na verdade, uma versão pretensamente abrandada de racismo -
passou para trás outros "movimentos sociais", consolidando-se em todas
as instâncias. Estupidamente, divide o Brasil em "raças": a negra e as
outras. Racismo se combate com leis, não com quotas e privilégios.
Editorial do jornal o Globo:
O grupo
político de pressão dos racialistas, um dos que chegaram a Brasília em
2003 na caravana vitoriosa do PT, deve ser o que mais obteve vitórias
nestes 12 anos de poder, na constelação de agrupamentos aliados a esse
partido. Mais, por exemplo, que os sem-terra, mesmo que o MST e
satélites tenham podido aparelhar órgãos como o Incra e até o Ministério
do Desenvolvimento Agrário. Já os racialistas ganharam um ministério
próprio, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Também
com representantes no Congresso e tendo obtido a simpatia do Judiciário —
o Supremo terminou por avalizar as cotas como constitucionais —, os
racialistas tiveram, infelizmente, êxito na construção de um política de
discriminação pela cor da pele no acesso ao ensino superior público e,
agora, na obtenção de emprego na máquina burocrática. Nesta batida, um
dos próximos passos será a imposição de cotas às empresas privadas.
Este
modelo de política afirmativa foi importado dos Estados Unidos —
sociedade que se constituiu em cima do conceito de “raças” — para um
país, o Brasil, no qual o colonizador português, o negro e o índio se
miscigenaram. A cor não tinha o mesmo caráter discriminador existente
nos Estados Unidos, a ponto de haver registro de negros senhores de
escravo. É indiscutível que, abolida a escravidão, faltaram políticas de
integração do negro à cidadania, por meio da educação, a melhor rota
para a ascensão social.
Hoje se
vê que o neglicenciamento com o nível de qualificação da população é a
causa básica da chamada dívida social —com os pobres de qualquer cor de
pele. E como a obtenção de resultados neste tipo de investimento é
lenta, grupos organizados buscam ganhar tempo por meio de políticas
afirmativas, principalmente cotas. Por se constituir, por definição, uma
ação discriminatória a favor de algum grupo, outros serão prejudicados.
Caso dos brancos pobres.
É
ilusório achar que não existe discriminação racial no Brasil. Há, mas
não se equaciona o problema por meio de cotas. Ao contrário, pode
agravá-lo. Discriminação e racismo se combatem com leis e sua aplicação.
Como as já existentes no Brasil.
Em vez de
se adotar a melhor das políticas afirmativas — elevar para valer a
qualidade do ensino público, a fim de beneficiar alunos de qualquer cor
—, o Estado, sob influência racialista, optou pelo populismo e
imediatismo das cotas raciais. Teria sido melhor usar o critério social,
do nível de renda.
Mesmo que
o erro da importação do racialismo já tenha sido cometido, o debate
precisa continuar. Até que a sociedade se convença de que há mais pretos
pobres não por serem pretos, mas por terem nível de instrução mais
baixa, por serem pobres. A cota apenas mascara a questão. É uma
anestesia, e com vários efeitos colaterais maléficos. Mesmo nos Estados
Unidos, com décadas de vigência de políticas afirmativas, a Supremas
Corte acaba de permitir que estados decidam revogar programas de cotas. E
alguns o fazem. Têm motivos para tal.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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