Grupo também realiza procissão marítima na baía da capital.
Realizada desde 1929, esta é a mais antiga festa comunitária de Vitória.
"Pescador tem que ter fé", diz presidente de Colônia em Vitória (Foto: Viviane Machado/ G1)
Pescador tem que ter fé". É assim que Álvaro Martins da Silva explica a
devoção dos pescadores a São Pedro. Filho de um dos fundadores da
tradicional Festa de São Pedro, em Vitória, Alvinho, como é conhecido,
também é presidente da Colônia de Pescadores da capital. Para ele, a
festa representa muito mais do que uma comemoração. É um momento de
união, fé, tradição e alegria. Em 2014, a 86ª edição do evento acontece
entre os dia 27 e 29 de junho, na Praça do Papa.
Decoração da festa relembra cenários de vila
em Festa Junina (Foto: Viviane Machado/ G1)
Foi o pai de Alvinho, o pescador português Belmiro Rodrigues da Silva,
que começou a tradição da Festa de São Pedro. "Ele era um dos primeiros
moradores. Aqui na Praia do Suá não tinha nada. Juntos com os irmãos e
os amigos, que vieram de Portugal, começaram a festa. Era tudo mato.
Essa Colônia de Pescadores foi fundada e a Igreja de São Pedro também",
relatou.em Festa Junina (Foto: Viviane Machado/ G1)
Festa
Após a morte de Belmiro, há 20 anos, a família continuou firme na tradição. Na última quinta-feira (26), véspera da festa, a esposa Onorina Martins, as filhas Arlete e Rosa, a neta Kelly e uma bisneta ainda bebê foram até a Praça do Papa para conferir os preparativos para a festa.
Arlete e Rosa lembraram com saudade dos tempos de Festa do São Pedro, quando ainda eram crianças. "Não acontecia na Praça do Papa, porque isso era tudo mar. Fazíamos a festa em uma rua ali da Praia do Suá. Nós chamávamos os rapazes para dançar quadrilha, era tudo simples, mas uma festa bonita. A gente participava de tudo, inclusive indo à procissão. A fé do santo é uma tradição, porque vimos nosso pai, irmãos, primos e tios, todos com devoção ao santo", contou Arlete.
Tradição passa por quatro gerações da família Martins da Silva (Foto: Viviane Machado/ G1)
De acordo com Alvinho, neste ano, a expectativa é fazer uma festa
diferente da que acontece nos últimos anos. "Nós estamos fazendo algo
diferente. Ficou bonito, é só não chover, mas acho que isso não vai
acontecer. Vai ter arraiá com música, artesanato, brincadeira e comida
típica", explicou.Uma cidade cenográfica foi montada na Praça do Papa para reproduzir uma vila do interior. Nela, foram usadas mais de 30 mil metros de bandeirinhas para decorar o espaço, além de barraquinhas em formato de casas, uma igreja e uma fogueira, que será acessa durante o evento.
Devoção ao santo atravessa gerações, em Vitória
(Foto: Chico Guedes/ A Gazeta/ 27/06/1994)
Procissão Marítima(Foto: Chico Guedes/ A Gazeta/ 27/06/1994)
A procissão marítima existe desde de 1929, quando a Festa de São Pedro foi realizada pela primeira vez. "Naquela época era barco a remo, barco a motor era muito difícil de ter. O percurso também era pequeno por causa disso. Mas os barcos sempre ficaram enfeitados e homenageavam o santo. Por nossa tradição, em um determinado ponto da procissão acontece a Benção do Anzol. Nós pedimos fartura de peixes até o ano que vem. Pescador tem que ter fé. Tem que acreditar", disse.
Procisão marítima em 1987, na tradicional Festa de São Pedro (Foto: José A. Magnago/ A Gazeta/ 28.06.87)
A comunidade de pescadores se reúne na Igreja Católica da Praia do Suá,
às 8h, para reverenciar e fazer orações ao seu santo protetor, São
Pedro. Após a missa, a imagem do santo é conduzida por uma banda de
congo, em procissão até o terminal pesqueiro, localizado próximo à
Capitania dos Portos.De acordo com Alvinho, por volta das 9h30, as embarcações partem em procissão em direção ao centro de Vitória. "Próximo ao Museu da Vale, volta ao ponto de partida. Depois, voltam para a Cruz do Papa, na Enseada, para a benção", explicou.
Neste ano, um dos mais antigos pescadores da Colônia, Antônio Cristelo, de 77 anos, vai lançar ao mar a linha de anzol. "O Antônio vai substituir José Pedro Rodrigues, que faleceu há três meses. Ele era o nosso pescador mais antigo. Vai deixar saudades. A comunidade ainda sente a perda dele, que se foi aos 82 anos", completou Alvinho.
José
Pedro Rodrigues era o pescador mais antigo e lançou o anzol ao mar nos
últimos anos, na Procissão Marítima (Foto: Viviane Machado/ G1)
LembrançasJosé Pedro Rodrigues deixou uma esposa, quatro filhos e muita história para a Colônia de Pescadores da Praia do Suá. Um de seus filhos, o aposentado Carlos Alberto Rodrigues, de 51 anos, participava da Festa de São Pedro com o pai. "Ele era apaixonado pela sua profissão e pela comemoração da Festa de São Pedro. Esse ano a festa sem ele vai ser cheia de lembranças. Ele sempre participou da procissão marítima e era o responsável por jogar o anzol no mar", disse.
Filho lembra do pai, um dos pescadores
mais antigos (Foto: Viviane Machado/ G1)
Carlos Alberto Rodrigues, o Beto, e lembra com carinho do espaço onde a
festa era feita antes de ir à Praça do Papa, na Enseada do Suá. "Ela
era feita em uma rua da Praia do Suá, quando quase tudo aqui perto era
mar. Me lembro de quando criança ir com meu pai, mãe e irmãos. Tinha as
barracas de roleta, pescaria, de sorteio, aquelas comuns, tradicionais
de festa junina. As mulheres dos pescadores também iam, de casa em casa,
pedindo as coisas para colocar na festa. Era muito tradicional isso.
Agora, se perdeu", recordou.mais antigos (Foto: Viviane Machado/ G1)
Ao reunir as fotos antigas de seu pai, Beto contou que o pai tinha muitas histórias do local. Para ele, a 86ª edição da Festa de São Pedro vai ser triste sem José Pedro Rodrigues. "Espero que façam uma homenagem a ele. Foi um pescador muito importante para nossa cidade. Ele dizia que amava o mar e a profissão que tinha. Só não quis que eu e meus irmãos seguíssemos pelo mesmo caminho. Ele se foi, mas tenho certeza de que foi um homem muito feliz", completou.
Prêmios
A organização do evento, para estimular a participação dos pescadores, oferece um prêmio em dinheiro para os 10 barcos mais enfeitados. Cada barco participante também recebeu uma ajuda de custo que podia variar de R$150 a R$400, dependendo do tamanho da embarcação. A participação é livre.
A Capitania dos Portos exige apenas que as pessoas embarcadas estejam vestidas com coletes salva-vidas e que os barcos não ultrapassem a capacidade. Os prêmios variam de R$600 a R$2,5 mil.
Programação
Durante a festa, shows animaram os devotos de São Pedro. Atrações nacionais também marcaram presença no evento, como o cantor Zé Geraldo e Falamansa. Bandas locais se apresentaram no evento, como Macucos, Rodrigo Balla, Wallace Santana, a dupla Breno e Lucas, o Trio Mafuá e o Forró Raiz.
Pescadores admiram procissão marítima em Vitória (Foto: CEDOCMI/ A Gazeta)
Procissão é tradicional na festa de São Pedro, desde 1929 (Foto: Chico Guedes/ A Gazeta/ 03/07/1988)
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