Novos empreendimentos surgem no Estado para atender mercado que deverá movimentar R$ 21 bilhões no Brasil em 2015
Mercado São Jorge, em Florianópolis, é espaço para a venda de produtos orgânicos
Foto:
Marco Favero / Agência RBS
Janaina Cavalli
Vegetarianos, veganos ou simplesmente consumidores em busca de uma
alimentação saudável em Santa Catarina já podem se considerar bem
abastecidos. Cresce no Estado o número de empreendedores interessados
por uma fatia do mercado que deve movimentar R$ 21 bilhões no Brasil em
2015, segundo a consultoria Euromonitor. Bom para o consumidor, que
encontra mais opções de preços e sabores, e bom para o empreendedor,
beneficiado por um nicho de mercado de crescimento exponencial.
No Brasil, quase 16 milhões de pessoas (8% da população) já se consideram vegetarianas, de acordo com dados do Ibope de 2012. A evolução do mercado de produtos saudáveis é tão palpável nos últimos 10 anos, como lembra a presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), Marly Winckler, que até as empresas alimentícias tradicionais estão tendo que se adaptar.
A Coca-Cola, por exemplo, usou pela primeira vez o adoçante natural estévia na versão light do suco de laranja caseira Del Valle Mais. Segundo relatório da Euromonitor, o foco da mudança foi no consumidor brasileiro, bem mais preocupado com a alimentação do que antes. Já a catarinense BRF, lançou no mercado o hambúrguer de soja das marcas Sadia e Perdigão.
Segundo a presidente da SVB, que também é moradora de Florianópolis, Santa Catarina se destaca na rota do consumo saudável no Brasil por apresentar características que favorecem a qualidade de vida e o contato com a natureza. Um bom exemplo da evolução desse mercado no Estado é a empresa Quebra-Cabeça, de Bombinhas, no Litoral Norte.
Em 2009, Pedro Santana e Ellen Stellet, então estudantes de Engenharia e História na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), montaram um dos primeiros carros de lanches veganos do Brasil. Uma das opções era o sanduíche Quebra-Cabeça, que hoje dá nome à loja, um lanche prensado na chapa com mais de 20 opções de recheio.
O sucesso de vendas do carrinho na universidade foi mais um sinal da carência de produtos deste tipo no mercado. Pedro, que é vegano há nove anos, conta que quando decidiu mudar sua alimentação não conseguia encontrar quase nenhum produto sem origem animal no supermercado.
— Há nove anos, mal existiam restaurantes vegetarianos em Florianópolis e, no mercado, encontrava só os alimentos básicos, como hambúrguer de soja — observa.
O casal decidiu então investir no segmento da alimentação vegana e desenvolver produtos. Ellen, que já vinha testando receitas de queijos vegetais da internet, chegou em 2010 ao que hoje é o carro-chefe da empresa: o mandiokejo, feito à base de mandioca e feijão, sem corantes e aromatizantes.
Ellen e Pedro comprovaram a aceitação da novidade em feiras de Florianópolis, mas perceberam que os custos de conservação do produto limitariam a venda para outras cidades do Brasil.
Ellen debruçou-se novamente sobre o desenvolvimento e criou um mandiokejo em pó. Com o investimento inicial de R$ 2 mil, o casal formalizou a loja online, que passou a vender o produto para todos os Estados do país. Em 2012, a Quebra-Cabeça vendia 300 quilos do mandiokejo ao mês. Hoje, comercializa 1,2 tonelada mensalmente.
Junto com outros produtos que fogem da soja como o primeiro ingrediente da alimentação vegana, a exemplo do bife vegetal à base de feijão carioca e o hambúrguer de quinoa, o faturamento da empresa saltou de R$ 106 mil em 2012 para R$ 677 mil em 2013, um aumento de quase 540%. Atualmente a Quebra-Cabeça tem uma carteira de 400 clientes, entre compradores online e redes especializadas.
Estado no topo nacional da produção de orgânicos
A forte presença da agricultura familiar em Santa Catarina favoreceu o fortalecimento da produção orgânica no Estado. Santa Catarina disputa com Minas Gerais a quarta posição no ranking nacional do cultivo de orgânicos, com 40 a 60 mil toneladas anuais de hortifruti no mercado.
DIÁRIO CATARINENSE
No Brasil, quase 16 milhões de pessoas (8% da população) já se consideram vegetarianas, de acordo com dados do Ibope de 2012. A evolução do mercado de produtos saudáveis é tão palpável nos últimos 10 anos, como lembra a presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), Marly Winckler, que até as empresas alimentícias tradicionais estão tendo que se adaptar.
A Coca-Cola, por exemplo, usou pela primeira vez o adoçante natural estévia na versão light do suco de laranja caseira Del Valle Mais. Segundo relatório da Euromonitor, o foco da mudança foi no consumidor brasileiro, bem mais preocupado com a alimentação do que antes. Já a catarinense BRF, lançou no mercado o hambúrguer de soja das marcas Sadia e Perdigão.
Segundo a presidente da SVB, que também é moradora de Florianópolis, Santa Catarina se destaca na rota do consumo saudável no Brasil por apresentar características que favorecem a qualidade de vida e o contato com a natureza. Um bom exemplo da evolução desse mercado no Estado é a empresa Quebra-Cabeça, de Bombinhas, no Litoral Norte.
Em 2009, Pedro Santana e Ellen Stellet, então estudantes de Engenharia e História na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), montaram um dos primeiros carros de lanches veganos do Brasil. Uma das opções era o sanduíche Quebra-Cabeça, que hoje dá nome à loja, um lanche prensado na chapa com mais de 20 opções de recheio.
O sucesso de vendas do carrinho na universidade foi mais um sinal da carência de produtos deste tipo no mercado. Pedro, que é vegano há nove anos, conta que quando decidiu mudar sua alimentação não conseguia encontrar quase nenhum produto sem origem animal no supermercado.
— Há nove anos, mal existiam restaurantes vegetarianos em Florianópolis e, no mercado, encontrava só os alimentos básicos, como hambúrguer de soja — observa.
O casal decidiu então investir no segmento da alimentação vegana e desenvolver produtos. Ellen, que já vinha testando receitas de queijos vegetais da internet, chegou em 2010 ao que hoje é o carro-chefe da empresa: o mandiokejo, feito à base de mandioca e feijão, sem corantes e aromatizantes.
Ellen e Pedro comprovaram a aceitação da novidade em feiras de Florianópolis, mas perceberam que os custos de conservação do produto limitariam a venda para outras cidades do Brasil.
Ellen debruçou-se novamente sobre o desenvolvimento e criou um mandiokejo em pó. Com o investimento inicial de R$ 2 mil, o casal formalizou a loja online, que passou a vender o produto para todos os Estados do país. Em 2012, a Quebra-Cabeça vendia 300 quilos do mandiokejo ao mês. Hoje, comercializa 1,2 tonelada mensalmente.
Junto com outros produtos que fogem da soja como o primeiro ingrediente da alimentação vegana, a exemplo do bife vegetal à base de feijão carioca e o hambúrguer de quinoa, o faturamento da empresa saltou de R$ 106 mil em 2012 para R$ 677 mil em 2013, um aumento de quase 540%. Atualmente a Quebra-Cabeça tem uma carteira de 400 clientes, entre compradores online e redes especializadas.
Mercado São Jorge: empório quer fortalecer cadeia
Mais do que um ponto de venda de produtos orgânicos, o
Mercado São Jorge, em Florianópolis, é parte de uma iniciativa de
empresários do segmento de fortalecer a cadeia produtiva da alimentação
orgânica no Brasil.
A proprietária Carolina Araújo Teixeira, dona também
das três unidades do restaurante Central na cidade, conta que a sua
primeira intenção ao abrir o mercado, em fevereiro de 2013, foi oferecer
aos consumidores alimentos orgânicos a preço acessível e, aos
produtores, uma opção rentável de negócio. O objetivo de abrir uma
empresa lucrativa, segundo ela, veio em segundo plano.
— A ideia do Mercado São Jorge surgiu do contato com
os agricultores que forneciam para o Central. A nossa ideia era fazer
diferente do que vinha acontecendo na comercialização de orgânicos, com a
elevação das margens de lucro dos lojistas e os agricultores tendo que
absorver o prejuízo do que não era vendido. No mercado, nos preocupamos
em vender toda a entrega do agricultor, nada volta para ele com
prejuízo — explica.
Carolina também viaja para grandes cidades do país
para entender como funciona a cadeia e oferecer aos empresários
propostas de melhorias na logística. O que sobra em São Paulo, ela
explica, pode ser consumido em Santa Catarina.
Ela conta que a ideia é formar uma rota sustentável
da produção orgânica e que outros empresários brasileiros estão se
engajando no objetivo. O Mercado São Jorge tem um caminhão refrigerado
para testar as melhores alternativas de transporte dos orgânicos. Muitas
das tentativas, segundo ela, já resultaram em prejuízo.
Apesar de não ser o foco do novo empreendimento, a
empresária enxerga que o segmento da alimentação orgânica é um bom
negócio. Ela afirma que o mercado tem saúde financeira, com crescimento
contínuo do faturamento a cada mês.
— Toda semana alguém me procura propondo parcerias para um novo
mercado em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba... Ainda não estou
prevendo ir para outras cidades, mas é algo que me interessa. É o que
chamamos de economia de escala. Aumentando o volume de vendas, causamos
um impacto maior na cadeia produtiva — diz.Estado no topo nacional da produção de orgânicos
A forte presença da agricultura familiar em Santa Catarina favoreceu o fortalecimento da produção orgânica no Estado. Santa Catarina disputa com Minas Gerais a quarta posição no ranking nacional do cultivo de orgânicos, com 40 a 60 mil toneladas anuais de hortifruti no mercado.
Segundo Paulo Tagliari, coordenador por oito anos do
projeto de produção orgânica da Epagri, são 700 agricultores autorizados
a usar o selo de cultivo sem agrotóxicos em seus produtos no Estado.
Número que poderia ser bem maior, como explica o engenheiro agrônomo, já
que de 10 a 15 mil produtores usam herbicidas apenas eventualmente, e
teriam condições de se adaptar às exigências da modalidade.
Mas quando o assunto é associativismo, Santa Catarina
se destaca como o estado brasileiro com o maior número de associações
de produtores orgânicos. São 60 cooperativas que auxiliam os
agricultores nas técnicas de cultivo e comercialização dos produtos. A
maior delas é a Biorga, no Oeste, com quase 200 famílias associadas.
Segundo Tagliari, a produção catarinense é até
insuficiente para o tamanho da demanda desse mercado hoje. Os
agricultores do Estado vendem para centros de distribuição, mercados,
feiras e restaurantes do Sul e de São Paulo e também exportam para a
Europa.
Na visão do especialista, o governo deveria criar políticas públicas,
como isenção de ICMS, que incentivassem uma produção que é vantajosa
para o agricultor e também para o consumidor. De acordo com ele, a
produção orgânica é menos onerosa do que a com agrotóxicos, mas exige do
produtor a compra de equipamentos. Tagliari reforça que o hortifrúti
orgânico, apesar de menor, é mais saboroso e nutritivo.DIÁRIO CATARINENSE
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