terça-feira, 29 de abril de 2014

Agricultores protestam após mortes em área de conflito indígena no RS


Grupo usou picaretas para escavar calçada e realizar enterro simbólico.
Prédio da Funai foi pichado; PF ainda apura circunstâncias das mortes.

Fábio Lehmen Da RBS TV
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Grupo fez caminhada e homenageou mortos com enterro simbólico (Foto: Reprodução/RBS TV)Grupo fez caminhada e homenageou mortos com enterro simbólico (Foto: Reprodução/RBS TV)
Ligado à Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf-Sul), um grupo de pequenos agricultores realizou uma caminhada na tarde desta terça-feira (29) em Passo Fundo, no Norte do Rio Grande do Sul, em protesto pela morte de dois homens em conflito com indígenas na segunda-feira (28) no município de Faxinalzinho.

O grupo saiu em caminhada do centro de Passo Fundo até a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município. No caminho, os manifestantes fizeram orações e escavaram a calçada com picaretas e colocaram dois caixões, simbolizando as vítimas. O prédio da Funai e a calçada foram pichados pelos manifestantes, mas a Brigada Militar recolheu os sprays de tinta. Não houve conflito. A Funai ainda não se manifestou sobre o caso.
Os agricultores, de 27 e 42 anos, foram mortos próximo à estrada que liga Erval Grande a Faxinalzinho. Segundo a Brigada Militar, eles eram irmãos e tentaram furar um bloqueio imposto por indígenas em estradas da região para reivindicar a demarcação de terras. Houve discussão e os produtores fugiram para um milharal, onde teriam sido alcançados e mortos a golpes de facões, pauladas e tiros de espingarda. A Polícia Federal (PF) está investigando as mortes.
Entidades reclamam do governo
Em nota, a Fetraf-Sul garante que sempre agiu para evitar os conflitos de terra. "Considerando que há mais de 10 anos a Fetraf-Sul/CUT alerta o governo estadual e federal, Ministério Público, Funai e Justiça Federal sobre a possibilidade de conflitos entre indígenas e agricultores familiares por conta de ameaças entre ambos, vimos a público condenar a ação de violência, pois, a Federação sempre teve a postura de mediar e evitar os conflitos", diz o texto.
Segundo a Fetraf, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, era aguardado para negociações no local. "A situação chegou ao ponto extremo por irresponsabilidade do governo federal e do Ministério da Justiça ao tratar dos conflitos agrários entre os agricultores familiares e comunidade indígena. Se o problema não for resolvido com urgência, há possibilidade de novos conflitos", ressalta o documento.

Também por nota, a Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul) lamentou as mortes e disse que ela é só mais um exemplo de causa e efeito da violação dos direitos territoriais dos indígenas, "problema que ninguém do poder público quer assumir de verdade", diz o texto. Para entidade, caso não seja feito, a "sociedade irá assistir ainda por muitos anos tantas mortes e violência no campo por conta da vergonhosa e histórica falta de respeito aos índios brasileiros e desrespeito também a própria Constituição Brasileira".  

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