domingo, 2 de março de 2014

Carnaval: gigantismo dos blocos e falta de segurança ameaçam foliões do Rio


Prefeitura não apresenta esquema de segurança para evitar acidentes nos grandes blocos

Jornal do BrasilLouise Rodrigues*
O jogo de empurra e o desencontro de informações entregam a segurança dos foliões nos blocos à própria sorte ou, talvez, a alguma proteção divina. Em caso de acidentes, como aconteceu no ano passado no Cordão do Bola Preta, os foliões não podem esperar da Prefeitura um plano de evacuação que impeça uma tragédia. Apesar dos desfiles acontecerem em locais abertos, é obrigatória a organização de uma estratégia de segurança capaz de atuar na prevenção de acidentes graves. Contudo, não é isso que acontece no Carnaval do Rio de Janeiro. Este problema se torna ainda mais grave com a constatação de que, a cada ano, os blocos atraem mais e mais participantes. O gigantismo aliado à falta de prevenção se transforma numa perigosa fórmula cujo resultado pode ser catastrófico.
A Riotur recebe o cadastro dos blocos e faz a triagem dos que serão autorizados a desfilar, priorizando os blocos mais tradicionais e negociando mudanças no trajeto em caso de blocos grandes e recentes. É preenchida uma ficha que, entre outras questões, informa o número de foliões esperados e, segundo a Prefeitura, esse também é um critério para avaliação. Sendo assim, blocos que desfilam com um milhão de foliões, por exemplo, recebem aval da Prefeitura e vão para as ruas.
Neste ano, o Cordão da Bola Preta levou 1,3 milhão de pessoas ao Centro do Rio
Neste ano, o Cordão da Bola Preta levou 1,3 milhão de pessoas ao Centro do Rio
Dessa forma, espera-se que haja um plano de segurança capaz de evitar acidentes, situações de risco e pânico dentro dos blocos. Mas não é isso que acontece. O Jornal do Brasil procurou a Riotur, que, primeiramente, informou que o trabalho dos vendedores ambulantes é regido pela Prefeitura, que proíbe carrinhos, braseiros, garrafas entre outros artigos. A Riotur também alegou que a segurança nos blocos é organizada em parceria com os próprios e que tudo é definido com “diálogo e organização”.
Contudo, Rita Fernandes, presidente da Sebastiana - Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro – contou que “esse é um assunto novo. Nunca foi tratado com a Prefeitura”. Rita disse ainda que, “por iniciativa própria, para o próximo ano, a Sebastiana vai fazer um workshop com especialistas que possam orientar os procedimentos e a atuação em situações de risco.” Rita disse ainda que “é uma ação necessária devido ao aumento do número de foliões a cada ano” e completou ressaltando que “não adianta a Sebastiana fazer sozinha, temos que fazer junto com o poder público”.
A Riotur não soube informar se a Antarctica, patrocinadora do Carnaval da cidade, teria algum tipo de participação na organização de um plano de segurança. Procurada, a Ambev declarou: “A Antarctica atende a todos os itens estipulados pelo caderno de encargos da Prefeitura, seguindo o que o município acredita como adequado para atender uma das maiores manifestações populares do Brasil. Demais questões como segurança e limpeza sugerimos que entre em contato com a organização oficial do evento - Prefeitura e RioTur -, responsável pelo planejamento de toda a estrutura para mais informações.”
A Dream Factory, que organiza o Carnaval do Rio há cinco anos, é responsável pela parte estrutural do evento. Entre as ações realizadas pela empresa estão a instalação e manutenção de banheiros químicos, cercamento de canteiros, instalação de postos médicos e credenciamento de ambulantes. A empresa declarou que cumpre as exigências da Prefeitura e afirmou não ter participação na montagem de um esquema de segurança. Contudo, a organizadora do Carnaval também não soube dizer quem seria o responsável pela segurança.
Novamente procurada, a Riotur informou: “O Centro de Operações monitora os maiores blocos e pode acionar o efetivo da Guarda Municipal próximo ao local em tempo real. Os grandes blocos contam com ambulâncias também, sem falar que montamos postos médicos no trajeto deles (centro e zona sul)”. Concluindo, assim, que não há um trabalho de prevenção de acidentes ou um plano de ação. Nesse caso, se houver algum problema, será necessário esperar a Guarda Municipal ser acionada e chegar ao bloco para começar a dispersão dos foliões.
Centro do Rio tomado de foliões durante o carnaval
Centro do Rio tomado de foliões durante o carnaval
O especialista em gerenciamento de risco da Coppe UFRJ, Moacyr Duarte, destaca: “Alguns blocos precisam de mais monitoramento, como as Carmelitas, em Santa Teresa. Como as ruas são mais estreitas, a situação ali é mais delicada”. Ele esclarece que como normalmente os blocos acontecem em locais abertos, o número de vítimas não será proporcional ao número de foliões, mas as pessoas mais próximas ao local onde supostamente acontecer algum problema serão afetadas.
O Corpo de Bombeiros destaca que o planejamento é primordial, como em qualquer evento. E a segurança do público frequentador é um ponto que não pode deixar de ser atendido. Em relação aos blocos de Carnaval, devem ser cumpridas algumas determinações. É necessário que o responsável dê entrada na FARE (Ficha de Avaliação de Risco em Evento), que é expedida pelo CBMERJ. Com público acima de mil e até 5 mil pessoas, também é necessária a presença de uma ambulância, um médico e um enfermeiro. Entre 5 mil e 20 mil, duas ambulâncias, dois médicos e dois enfermeiros. De 20 a 30 mil, três ambulâncias, seis médicos e seis enfermeiros. De 30 a 40 mil, quatro ambulâncias, oito médicos e oito enfermeiros. A instituição afirmou também que os organizadores dos blocos são responsáveis por providenciar os profissionais da saúde. No caso de blocos com mais de 40 mil foliões, os “recursos são definidos em avaliação especial”, ou seja, “novas definições de quantidade e posicionamento de médicos, profissionais de enfermagem e ambulâncias, que levam em conta outras variáveis do evento.”
No ano passado, um tumulto durante o desfile do Cordão do Bola Preta, que contava de 1,8 milhão de foliões, colocou em risco quem acompanhava o desfile. Em sua página oficial, a organização do bloco divulgou a seguinte nota: “O Bola aguarda reunião com a Riotur para entender o que houve em relação à segurança dos foliões. Problemas como o posicionamento inadequado dos carros da PM e do efetivo policial, a necessidade de instalação de torres de controle, como é feito no Réveillon, grades instaladas ao longo do trajeto e na Cinelândia, que dificultam o escape em situação de emergência, assim como, excesso de barracas de ambulantes (churrascos, bebidas, etc) impedindo circulação, entre outros, já haviam sido identificados pelo Cordão e comunicados previamente às autoridades. Sempre tivemos o apoio do Poder Público e estamos certos da atenção de todos”. Já a Riotur diz que “uma emissora de televisão colocou grades para cercar as câmeras e os foliões que estavam próximos acabaram prensados”. A Riotur afirmou não ter responsabilidade no acidente e pediu para que situações como essa fossem evitadas.
*Do Projeto de estágio do Jornal do Brasil

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