"Agora me sinto uma cidadã", diz Rogéria Ramos.
Jovem teve certidão de nascimento corrigida em julho de 2013.
Rogéria ao lado dos filhos exibe título de eleitor (Foto: Rayssa Natani/G1)
Aos 24 anos de idade, a dona de casa acreana Rogéria Ramos Nogueira
comemora uma conquista que para muitos é algo corriqueiro: a
possibilidade de votar pela primeira vez. Registrada por engano como
Rogério, com o 'sexo masculino' na certidão, somente em julho de 2013
ela teve o documento retificado por um cartório de Manaus (AM) e pode
retirar a carteira de identidade, CPF e o título eleitoral. "Agora me
sinto uma cidadã. Sem documentos, a gente não é nada", diz.
Sempre quis saber o que tem atrás daquele biombo e pegar em uma urna de verdade"
Rogéria Ramos
Mesmo nunca tendo votado, Rogéria diz ter consciência da importância do voto e confessa ter certa curiosidade sobre a urna eletrônica. "Eu via todo mundo votando e dizia 'quando será que eu vou poder votar?' Sempre quis saber como era estar atrás daquele biombo e pegar numa urna de verdade, para decidir. Decidir um voto é uma coisa séria. É pensar bem se aquele candidato vai trazer um futuro melhor para gente", afirma.
O que mudou
Após anos de constrangimentos para provar que não era um homem, a jovem, que mora com a sogra, o marido e os filhos, de 4 anos, 3 anos e um bebê de 8 meses, em uma área de invasão, em Rio Branco, conhecida como 'Papouco', conta o que mudou em sua vida com toda a documentação pessoal em mãos.
"A primeira coisa que fiz foi registrar meus três filhos. Eu não queria que eles ficassem na mesma situação que eu. Também pude me cadastrar no 'Bolsa Família' [programa do Governo Federal que beneficia famílias de baixa renda] e retirar minha carteira de trabalho", comenta.
Após certidão de nascimento, Rogéria tirou todos os
documentos pessoais (Foto: Rayssa Natani/G1)
Ela fala da alegria de ver a filha mais velha, de quatro anos,
frequentar uma escola pela primeira vez, desde o dia 1º de fevereiro.
"Uma coisa que minha filha não podia era estudar, por falta de
documento. Hoje eu me emociono toda vez que a vejo como o uniforme do
colégio. Vejo a empolgação dela, que acorda sozinha de manhã e se arruma
ansiosa para ir para aula".documentos pessoais (Foto: Rayssa Natani/G1)
Rogéria também pretende retomar os estudos no próximo ano, quando o filho mais novo estiver maior. Ela foi obrigada a abandonar o ensino fundamental, na 8ª série, por conta da falta de documentos. "Durante todo o tempo que estudei, foi com meu pai precisando se humilhar para a direção das escolas para aceitarem minha certidão errada. Chegou uma hora que não deu mais. Espero poder voltar agora", diz.
Certidão de nascimento de Rogéria continha erros de cartório (Foto: Rayssa Natani/G1)
Entenda o casoRogéria nasceu no Hospital Santa Juliana, no Acre, em março de 1989, mas só foi registrada aos 4 anos pelo pai, em um cartório em Manaus (AM). Na certidão, seu nome era Rogério e constava 'sexo masculino'. O erro só foi percebido mais tarde, quando a moça começou a estudar.
O Ministério Público Estadual do Acre (MPE-AC) deu parecer favorável ao pedido de retificação do documento e o 7º Cartório de Registro Civil de Manaus foi obrigado pela justiça a fazer a correção em abril de 2013. Ela recebeu das mãos da defensora pública Clara Rúbia a certidão de nascimento retificada em julho do mesmo ano.
Rogéria Ramos comemora a retirada dos documentos pessoais (Foto: Rayssa Natani/G1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário