domingo, 2 de fevereiro de 2014

Festa de Iemanjá mistura histórias de fé, 'axé' e atrai curiosidade de turistas


Presente de pescadores é uma tartaruga marinha feita em tamanho real.
Argentinas contam que tradição lembra livro 'Mar Morto', de Jorge Amado.

Do G1 BA

Festa de Iemanjá 2014 em Salvador (Foto: Joilson César / Ag Haack)Com tartaruga marinha, pescadores querem oferendas mais sustentáveis (Foto: Joilson César / Ag Haack)
O presente especial dos pescadores da colônia do Rio Vermelho para a Iemanjá neste 2 de fevereiro é uma tartaruga da espécie cabeçuda, em tamanho real. Feita de resina, segundo a organização, a escultura simboliza a preservação do meio-ambiente e da própria espécie.
De acordo com "Branco", como é conhecido um dos pescadores, a tradição de levar imagem da "rainha do mar" como o presente principal da festa foi ponderada considerando questões ambientais. A tartaruga marinha, de material biodegradável, foi escolhida como substituta e foi criada pelo artista Rui Santana.
Festa de Iemanjá 2014 em Salvador (Foto: Max Haack/Ag Haack)Festa de Iemanjá 2014 em Salvador (Foto: Max Haack/Ag Haack)
A enseada do bairro tradicional de Salvador está, desde a madrugada, ocupada por rodas de dança, grupos de candomblé, devotos com oferendas, fotógrafos e muitos turistas.
Festa de Iemanjá 2014 em Salvador (Foto: Joilson César / Ag Haack)Argentinas curtem festa e lembram de Jorge Amado
(Foto: Joilson César / Ag Haack)
Três deles são as argentinas Valéria Molinari, 35 anos, Catalina Figueroa, 23 e Lúcia Reano, 24, moradoras de Córdoba. O trio está há um mês na cidade pesquisando a história da Bahia, da cultura afrobrasileira e a dança dos orixás. O trio presenteou Iemanjá com perfume e flores.
"Quando eu falo com os pescadores, sinto conexão total com Jorge Amado", disse Lúcia Reano sobre o livro "Mar Morto". "Lá [Argentina] não temos essa tradição de adorar o mar, mas temos Pachamama", fala Valéria sobre a principal divindade andina, que simboliza a terra.
Elas estão próximas de pessoas do "axé", aquelas que acreditam na força sobrenatural do candomblé, e que se agrupam nas calçadas ofertando banho de folhas, tradição do festejo. "Dou o banho rezando para pessoas ter prosperidade e saúde", diz Claudia Pereira, 27 anos.
Festa de Iemanjá 2014 em Salvador (Foto: Joilson César / Ag Haack)Balaios com flores típicas brancas e amarelas
(Foto: Joilson César / Ag Haack)
Quase meio-dia, a fila para entrega dos presentes atravessada a principal rua na orla. É por volta deste horário que são iniciadas as tradicionais feijoadas em restaurantes, apartamentos e hotéis do bairro boêmio.
Os festejos são mantidos até a noite, na etapa tida como "profana". O dia de festa começou por volta das 4h30 com alvorada de fogos. A organização do festejo estima que 700 mil pessoas passem pelo local neste domingo.
Uma das mais populares festas de celebração pública do candomblé, o dia de Iemanjá ocorre desde 1923, quando diminuiu a oferta de peixes da Vila dos Pescadores do Rio Vermelho. A tradição conta que eles pediram ajuda à orixá e ofertaram presentes para ela. A oferta foi feita no meio do mar e, desde então, a festa é realizada todos os anos.
Festa de Iemanjá 2014 em Salvador (Foto: Joilson César / Ag Haack)Barco com presentes também serve de oferenda (Foto: Joilson César / Ag Haack)
Histórias de fé
"Já venho há muitos anos, agradeço por ter vencido um ano com saúde e peço para que este venha também com muita saúde", conta Meiry Rodrigues, uma das centenas de pessoas que encararam longa fila.
Marli da Silva, 65 anos, é carioca e mora em Salvador há mais de três décadas. Em todo esse tempo, ela nunca perdeu uma festa para Iemanjá. "Entrego meus presentes desde que cheguei aqui. Hoje é o meu aniversário, mas trouxe para ela alfazema, sabonete e rosa", afirma ela, que pretende pedir saúde nas preces à orixá, já que vai fazer uma cirurgia no pé para retirar um tumor ainda este ano.
"Trago as oferendas para alcançar graças e poderes", explica Lourdes Gonçalves, 66 anos, rodeada de flores. A yalorixá conta que estava há três anos dependendo de uma cadeira de rodas, mas conseguiu voltar a andar. Para ela, a fé em Deus e em Iemanjá causou a graça.
Os devotos costumam deixar os presentes na colônia dos pescadores, para depois serem entregues em alto-mar. Mas há outras duas opções: lançá-los diretamente nas águas ou pegar um barco dos próprios pescadores e depositar as oferendas um pouco distante da costa. O pescador Ivan Queiroz, que há 12 anos participa da festa, não cobra para levar o devoto com seu presente de barco, mas aceita qualquer valor simbólico pelo apoio.
Festa de Iemanjá 2014 em Salvador (Foto: Joilson César / Ag Haack)Mulher organiza oferendas pela manhã (Foto: Joilson César / Ag Haack)

Festa de Iemanjá 2014 em Salvador (Foto: Max Haack/Ag Haack)Devotas lançam flores no mar do Rio Vermelho (Foto: Max Haack/Ag Haack)

Festa de Iemanjá 2014 em Salvador (Foto: Max Haack/Ag Haack)Casa da orixá, na colônia dos pescadores (Foto: Max Haack/Ag Haack)

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