Para eles, a contração de estrangeiros não resolve o caos na saúde.
Profissionais destacam a importância da revalidação do diploma.
Médicos protestam na porta da Câmara de Vereadores (Foto: Marina Fontenele/G1)
Dezenas de médicos da rede pública de Sergipe saíram às ruas do Centro de Aracaju na manhã desta quarta-feira (3) para protestar contra a medida anunciada pela presidente Dilma Rousseff
de contratar médicos estrangeiros para suprir o déficit que existe
principalmente nas pequenas cidades do Brasil. Eles foram até a Câmara
de Vereadores, Assembleia Legislativa e Secretaria de Estado da Saúde
para destacar a importância de revalidar os diplomas emitidos em outros
países.Júlio Seabra diz que o relatório feito durante sete meses pelo Cremese identificou que a estrutura do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) é precária e que o maior hospital público do estado sofre com o desabastecimento de suprimentos e má gestão. “Esse estudo deu origem ao pedido feito pelo Ministério Público Estadual para que Ministério da Saúde faça uma intervenção de fiscalização no Huse”, explica.
Segundo o representante do Sindicato dos Médicos de Sergipe (Sindimed), João Augusto Alves de Oliveira, o estado tem cerca de 4 mil médicos e apenas 1 mil atuam no Sistema Único de Saúde (SUS). Desses, 50% estão trabalhando no setor de urgências dos hospitais e o restante está paralisado nesta quarta-feira (3).
Protesto passou pela Assembleia Legislativa de Sergipe (Foto: Marina Fontenele/G1)
“O poder público quer passar a ideia de que nós não queremos trabalhar no interior. O negócio é que o Governo Federal
está oferecendo salários entre R$ 18 mil e R$ 24 mil para 40 horas
semanais de trabalhos aos estrangeiros enquanto que a bolsa oferecida ao
brasileiro é de R$ 8 mil sem vínculo empregatício. Não entendemos essa
medida, pois está tramitando na Câmara dos Deputados a PEC 454 de 2009
sobre o plano de carreira do médico do SUS . Se tivermos condições de
vida e de trabalho com uma equipe multidisciplinar completa no interior
nós seguiremos para as cidades mais distantes”, afirma João Augusto.A presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe, a deputada estadual Angélica Guimarães, fez um pronunciamento apoiando as pautas de reivindicações dos médicos.
Tempo de consulta também foi motivo de protesto
(Foto: Marina Fontenele/G1)
Falta médicos, sobra trabalho(Foto: Marina Fontenele/G1)
A médica Gilda Lacerda Oliveira Santos, que trabalha em um Posto de Saúde da Família (PSF) na capital, disse que a crescente demanda e número reduzido de médicos causa a sobrecarga nos profissionais e prejudica a qualidade do serviço.
“A Secretaria Municipal da Saúde orienta atender quatro pacientes por hora. Tem casos mais complexos que não são analisados em apenas 15 minutos de consulta como gestantes e idosos onde é necessário dar algumas orientações de uso de medicamentos. Além disso, faltam remédios e é difícil marcar exames. Dessa forma o problema não tem solução e o paciente volta várias vezes para resolver a mesma coisa”, revela Gilda Lacerda.
Formado em Cuba pede criação de Exame de
Ordem (Foto: Marina Fontenele/G1)
Teste de confirmação do conhecimentoOrdem (Foto: Marina Fontenele/G1)
O médico Pedro da Costa Mello Neto é sergipano e formou-se em Cuba em 2006, mas só teve o diploma revalidado no Brasil em 2010. Segundo ele, o processo de revalidação pelo Ministério da Educação (MEC) é lento e caro, a taxa custa cerca de R$ 600.
“A Universidade Federal de Sergipe (UFS) não abre vaga para revalidação do diploma desde 2005, por isso meu diploma teve que ser reconhecido na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Concordo com essa preocupação pela qualidade do ensino da medicina em outros países, mas também defendo a criação de um Exame de Ordem onde todos os formandos no Brasil também terão que ser submetidos”, afirma.
Pedro Mello acredita que a importação de médicos estrangeiros não vai resolver o problema da saúde no país. “Isso não é prioridade no momento, primeiro é preciso dar condições para os profissionais daqui trabalharem. Se toda a estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) fosse satisfatória e só faltassem os médicos eu concordaria com essa medida”, finaliza.
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