sexta-feira, 1 de março de 2013

Ipiranga vai parar no Conar por suposta 'apologia ao trabalho infantil'


Campanha mostra criança ao lado de adulto com um artesanato de palha.
Empresa diz que irá 'prestar os esclarecimentos necessários'.

Do G1, em São Paulo

Campanha da Ipiranga mostra criança ao lado de adulto produzindo um artesanato (Foto: Reprodução/TV Globo)Campanha da Ipiranga mostra criança ao lado de adulto
produzindo um artesanato (Foto: Reprodução/TV Globo)
Uma propaganda da rede de postos Ipiranga foi denunciada ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), por suposta “apologia ao trabalho infantil doméstico".
O órgão informou que foi aberto nesta sexta-feira (1) um processo para avaliar a denúncia contra o comercial feita pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), rede nacional composta por 400 entidades, que pediu a suspensão da exibição da propaganda.
No comercial veiculado produzido pela agência Talent, um caminhoneiro para na beira da estrada para pedir informações e aborda um homem que está produzindo um artesanato de palha, acompanhado de um menino, que está aparentemente realizando a mesma atividade. O filme que foi lançado no dia 16 de fevereiro em rede nacional de televisão pode ser visto no canal da empresa no YouTube.
A cada pergunta feita pelo motorista, é a criança quem fala o bordão “lá no Posto Ipiranga”. Admirado pela rapidez do menino ao responder as perguntas, o viajante pergunta ao adulto se o garoto é filho dele. Antes de responder, o homem reflete, olha para o garoto e depois fala: "Melhor perguntar lá no Posto Ipiranga”.
Segundo a reclamação feita ao Conar, "no momento em que a propagando demonstra uma criança realizando uma atividade produtiva, artesanal, tal como  um adulto, é estimulada a cultura da  banalização, estimulando a ideia de que a criança pode trabalhar".
Procurada pelo G1, a Ipiranga informou que "não foi notificada sobre a questão e, caso seja, se colocará à disposição do Conar para prestar os esclarecimentos necessários".
Para o advogado e representante do MNDH-RJ, Carlos Nicodemos, e membro do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes (Conanda), o comercial explicita uma das ocultações do trabalho infantil, que é o trabalho doméstico, e também coloca a criança em uma situação "vexamitória" ao tratar da questão da paternidade.
"Erraram na não", diz o advogado. "Nossa denúncia é um alerta no sentido de que as agências criem um protocolo de cuidados em relação ao uso de crianças em campanhas, de forma que sejam atendidos parêmetros de afirmação da cidadania e de proteção de direitos, inclusive no que diz respeito à identidade familiar e à paternidade", explica.
Segundo o Conar, o processo contra a campanha deverá ser julgado em até 30 dias no âmbito do conselho de ética da entidade. Um relator será nomeado e irá vai elaborar seu parecer sobre as críticas. No meio do caminho, ele pode decidir pela suspensão da veiculação da propaganda até o julgamento final. Caberá ao conselho de ética do Conar, entretanto, a palavra final.
Caso entenda que a campanha fere, de fato, o código do setor, o Conar pode recomendar a suspensão do comercial e fazer uma advertência ao anunciante. A esse tipo de decisão, cabe recurso.  Caso o conselho avalie que as queixas não se justificam, o processo será arquivado.

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