Saída pelas ruas de Olinda está cada vez mais complicada, diz organização.
"Tarado era mistura de ‘enxerido’ com ‘pegador'", explica um dos fundadores.
Como
muitos blocos brasileiros, o "Tarados da Sé" nasceu da brincadeira
entre amigos e terminou virando uma das músicas mais famosas do carnaval
pernambucano (Foto: Lourenço Gato / Acervo pessoal)
Um grupo de amigos estava em uma festa no Alto da Sé, em Olinda,
no fim dos anos 1980. Eram músicos e compositores, jovens, com seus
copos na mão, apenas observando as mulheres que passavam. Lourenço Gato,
Luciano Padilha e João Sales resolveram fazer música dessa história,
criando assim o hino ‘Tarado da Sé’, que traz no refrão o costume que
eles mesmos tinham, ‘de copo na mão e procurando mulher’. Pouco tempo
depois, os amigos acabaram criando a Troça Carnavalesca Mista Tarados da
Sé, que completa 25 anos de folia em 2013.Músico e um dos fundadores do Tarados, Gato lembra que a troça surgiu do pedido de amigos mesmo. “Quando começamos a cantar a música nas festas, o pessoal dizia que queria sair no bloco, perguntava quando era”, conta o fundador. A brincadeira tomou proporções que os amigos sequer imaginavam ser possível. “Nós nunca imaginávamos que teríamos milhares de pessoas cantando a música e brincando nas ladeiras com a gente”, confessa.
Assim como o público da troça cresceu, o número de pessoas nas ladeiras durante o reinado de Momo também não ficou para trás. Com isso, os fundadores resolveram que, em 2013, os Tarados da Sé vão sair apenas no dia 3 de fevereiro, uma semana antes da data costumeira do desfile. “A gente desistiu de sair no domingo de carnaval por que não tem condições, é muita gente e a troça acaba se desfazendo pelo caminho, as pessoas não conseguem acompanhar. Além disso, são 25 anos de Tarados... A gente não tem mais 25 anos, temos 50, 60. Não tem condições”, reconhece Gato.
Organizadores dizem que bloco sempre protegeu
as foliãs e que os tarados não agarram ninguém
à força (Foto: Lourenço Gato / Acervo pessoal)
O fundador conta ainda que a troça tem apenas uma sede provisória, no
Alto da Sé. “A gente não usa isso para ganhar dinheiro. Somos todos
músicos e artistas, também trabalhamos no carnaval. É uma brincadeira
entre amigos, o boneco sai só a convite de alguém ou quando sai a
troça”, diz. Por isso, o desfile do dia 3 vai sair do Largo do Amparo,
às 16h.as foliãs e que os tarados não agarram ninguém
à força (Foto: Lourenço Gato / Acervo pessoal)
Boneco
Independentemente do dia do desfile, à frente da troça vem sempre um boneco gigante, de cabelos cacheados e a faixa ‘Tarado da Sé’, levemente inspirado em um dos fundadores, Luciano Padilha. “Ele é o tarado da Sé e eu que levo a fama”, brinca Lourenço Gato. “Todos nós éramos os tarados da Sé”, acrescenta Padilha, lembrando que a palavra ganhou outra conotação com o tempo. “A gente não agarrava ninguém a força”, ressalta. “A ideia da gente de tarado, nessa época, era mais uma mistura de ‘enxerido’ com ‘pegador’, não tinha essa de agarrar à força. A gente até protegia as nossas amigas”, conta Gato.
O boneco do Tarado tem uma história à parte, que reflete o espírito despachado que marca o grupo: originalmente, ele pertencia a uma troça de Olinda. “Aproveitamos um boneco que tinha sido roubado lá em Bairro Novo. Os componentes de uma troça brigaram entre si, roubaram o boneco e esconderam na casa de Luciano Padilha. Arrancamos a cabeça e fizemos o nosso boneco, que sai até hoje”, explica Gato.
A troça saía também com dois estandartes, feitos por vizinhos e amigos, mas os dois acabaram roubados ao longo dos anos e nunca foram substituídos, conta Lourenço. “A gente queria mesmo era brincar, não ligamos tanto. Você imagine, uma multidão de amigos pintando e bordando na Ladeira da Sé, é isso que importa para a gente”, destaca.
E o Tarado é um boneco muito ‘treloso’, entrega o músico, ao dizer que ele gosta de brincadeiras e também de aprontar por aí. “Teve um carnaval em que ele, literalmente, agarrou a boneca da [ex-prefeita] Luciana Santos em plena folia”, conta, relembrando o encontro entre os bonecos no meio do carnaval, que virou motivo para ainda mais brincadeira na troça.
Lourenço Gato e Luciano Padilha, fundadores do Tarados da Sé (Foto: Katherine Coutinho / G1)
MalíciaO nome ‘tarado’ por vezes gera comentários maldosos de algumas pessoas na rua, mas nada que ofenda Gato. “Hoje as coisas são levadas muito a sério, provavelmente não teríamos a troça com esse nome se fosse criada agora. A música do ‘Tarado’ pode ser escutada sem problema até por criança, temos essa preocupação”, ressalta.
No troça, quem tentava agarrar as mulheres à força era logo afastado do grupo. “A gente não queria e não quer essas coisas. Quem sai no Tarados sai porque tem uma identificação com o boneco, com a ideia da brincadeira, quer conhecer uma ou várias pessoas. A gente está ali para se divertir”, afirma Gato.
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