quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Másculo roteiro



CHRISTIAN CARVALHO CRUZ , PARIS - O Estado de S.Paulo
Nada mal começar um tour chamado Paris para Homens sendo... bem... um homem de sorte. A mocinha do check-in fez a gentileza de não me espremer demais na fileira tripla logo atrás da asa direita do Boeing 777-300. Tripulação, portas em automático, nenhum vizinho à vista. Nas onze horas que tenho pela frente poderei - de maneira um tanto contorcionista, vá lá - me esparramar pelos assentos e desfrutar da classe econômica da Air France com o mínimo de dignidade. Resolvo até não reclamar do vinho de segunda servido no jantar, sou um homem que se contenta com pouco. Bora.
De minha parte, eu jamais tinha imaginado que as cidades pudessem ter preferência sexual. Amsterdã é macho ou fêmea? São Francisco? Roma não me parece nem homem nem mulher. É somente gorda. Carapicuíba é o que? Violenta. Belém? Suada. Mas não faz muita diferença o gênero, faz? Bom, três informações das autoridades de turismo de Paris me tiram da escuridão: o best-seller mundial A Parisiense, da ex-modelo e socialite Ines de la Fressange, que ensina as garotas a ter o estilo das locais, levantou uma questão séria por lá: seria Paris uma cidade demasiado feminina? Do lado de cá, 78% das brasileiras apontam a capital francesa como "o" destino dos sonhos. Só que 45% dos 29 milhões de visitantes anuais são homens de negócios - e eles precisam saber o que fazer entre uma reunião e outra.
Aí entro eu, para realizar um árduo test-drive da tal Paris para homens. Inferninhos em Pigalle, casas de ópio em Montmartre, churrasco grego très gorduroso no Quartier Latin... É claro que a programação não inclui nada disso. Mas eu finjo que sim enquanto ajusto o entretenimento de bordo para executar a playlist macha que me embalará o sono. Jacques Brel. Leonard Cohen. Serge Gainsbourg. Pra terminar, Carla Bruni à luz do desjejum. Paris, sou um homem pronto pra você.
Tão pronto que me sinto em casa no caminho do aeroporto ao hotel. O trânsito está um inferno. Há muito mais carros do que quando estive aqui pela última vez, há cinco ou seis anos. E eu conheço essas caras presas atrás do volante, entediadas logo cedo. São caricaturas de homens paulistanos. De modo que, se você for um homem esperto, vá de trem até o centro. A mala? Cabra, tu és homem ou um saco de batatas?
Me dou conta de que é final de outono quando a van finalmente adentra a Champs-Elysées, paradeiro do Hotel Marriot, onde ficarei pelos próximos quatro dias, numa suíte que me espera com champanhe no gelo, docinhos, um bom estoque de armagnac no frigobar e uma cama enorme com seis travesseiros. Grandes folhas amarelas dos plátanos forram a calçada, um vento frio me açoita as orelhas e a visão do Arco do Triunfo, onde uma vez subi na companhia de uma mulher especial, me acalora a alma. Ok, sou um homem sensível...
Muito trabalho me aguarda, porém. Para ser sincero, terminei esses quatro dias sem saber se existe uma Paris para homens. O que é ótimo. Paris é Paris, basta. E como não acredito que sejamos todos iguais dentro da divisão de gêneros, simplesmente homens ou simplesmente mulheres, fiz este pequeno guia separando os marmanjos em categorias. Veja se você se encaixa em alguma.
Quanto a mim? Bem, que me perdoe madame La Fressange - nada pessoal, é só gosto literário - mas eu prefiro a Paris de Hemingway, que, em toda a sua rusticidade máscula, um dia escreveu: "Se você tiver sorte o suficiente para viver em Paris como um homem jovem, então aonde quer que vá, pelo resto da vida ela estará com você, porque Paris é uma festa móvel".

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