Com muito suor, trabalhadores de MS conseguem se tornar bem-sucedidos.
Confira dicas e passos para se formalizar como empreendedor individual.
Fernando da Mata
Do G1 MS
Pipoqueiro Baiano trabalha há 32 anos no ramo (Foto: Fernando da Mata/G1 MS)
Em terras onde a economia é movimentada pela produção de grãos,
pecuária e grandes indústrias, os empreendedores individuais também
marcam território. O ano de 2012 fecha com aproximadamente 42,8 mil
trabalhadores formalizados nessa categoria em
Mato Grosso do Sul, conforme o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no estado (Sebrae/MS).
Pequenos comerciantes de diversos segmentos que, aos poucos e com muito
suor, conseguem se tornar bem-sucedidos. Muitos tocam os negócios na
informalidade, mas nem por isso deixam de ensinar lições para o sucesso.
Especialista destaca que os empreendedores individuais devem sempre
proporcionar experiências inesquecíveis para os consumidores, pois isso
ajuda na conquista de espaço no mercado.
Baiano serve rápido, mas sempre fala "Desculpe
a demora" (Foto: Fernando da Mata/G1 MS)
Segredos do pipoqueiro
José Luiz dos Santos, 64 anos, vende pipoca em frente a uma escola particular de
Campo Grande.
Baiano, como é conhecido, tem jornada de trabalho de 45 horas semanais e
conta como decidiu largar o serviço assalariado para se tornar um
empreendedor.
“Já fiz de tudo na minha vida. Trabalhei em lavoura e depois vim para a
cidade trabalhar de servente, de guarda-noturno e outros empregos. Um
dia, um cidadão me perguntou: ‘por que você não vende pipoca? Quem sabe
você gosta.’ Então saí do serviço, peguei o dinheiro que recebi e
comprei um carrinho de pipoca. Comecei e gostei”, relata.
Tanto gostou que trabalha no ramo há 32 anos. Com uma simpatia de quem
está começando, trata os clientes com respeito e é eficiente. Mesmo
demorando menos de dez segundos para servir um saco de pipoca, sempre
exclama: “Desculpa a demora”.
O empreendedor tem que conhecer o mercado e os clientes, ofertando
experiências inesquecíveis para que eles continuem consumindo"
Leandra Costa, gerente de atendimento do Sebrae/MS
Sacos de pipoca acompanhada com queijo e salsicha variam de R$ 2,50 a
R$ 7 no carrinho do Baiano, mas ele dá “uma mãozinha” quando a gurizada
está sem dinheiro. No fim do mês, segundo ele, o rendimento gira em
torno de dois salários mínimos.
“Tenho minha casa, um carro, consegui criar os três filhos e bancar os
estudos deles. Agora tenho seis netos”, conta. Um deles é o estudante
José Felipe da Silva dos Santos, 15 anos, que cursa o 2º ano do ensino
médio e ajuda o avô nas vendas. “Não sei se está no sangue, mas eu gosto
de vender pipoca”, afirma.
Baiano sente orgulho quando o chamam de pipoqueiro e esse sentimento o
impulsiona a continuar no caminho do sucesso. Na simplicidade, ele
resume algumas dicas para quem quer trabalhar por conta própria.
“A pessoa não pode começar na dúvida e nunca deve ter medo de fazer,
tem que acreditar. Deve tratar bem o cliente, procurar mercadoria boa e
ter higiene. Todo serviço que vai fazer tem que ser alegre, não levar
problemas para o trabalho, pois o freguês não tem nada a ver com os
problemas”, orienta.
'De tudo para o lar'
Essa é a definição que o comerciante Marcelo Domingos Antoniette, 36
anos, usa para falar dos produtos que vende em sua loja, localizada na
Vila Carlota, em Campo Grande. “Aqui a gente vende de tudo, é tipo um
armazém. Têm utensílios para o lar, aviamento, brinquedos, bijuterias,
relógios, hidráulica, boias, óculos, boné, carteira, maquiagem,
perfumes, entre outros”, detalha.
Marcelo diz que boias estão entre produtos mais vendidos (Foto: Fernando da Mata/G1 MS)
Antoniette começou há quatro anos e meio nesse ramo e se formalizou há
um ano. Ele relata que atende média de 50 pessoas por dia e fatura cerca
de R$ 8 mil por mês. Renda que permitiu a compra de dois imóveis, dois
carros e uma moto. Mas ele garante que não esbanja.
“Eu sou o dono, mas eu tenho meu salário na loja. Geralmente, eu tiro
uns R$ 1 mil e o restante pago minhas contas por fora e emprego na
loja”, disse. O comerciante destaca que compra a mercadoria à vista, já
que não trabalha com cheque e cartão de crédito. “Tem que ter sempre o
pé no chão, comprar o possível à vista. Às vezes falta mercadoria, daí
eu levanto um dinheiro para poder comprar. Depois, se vender bem, se não
vender, está pago.”
O controle nos gastos não é o único segredo de Antoniette para o
sucesso nos negócios. Para ele, o atendimento e produtos bons e baratos
fazem a diferença.
“Não atender só clientes que chegam de carrão ou que estejam bem
vestidos, mas os que chegam de chinelo também. Dois tipos de clientes
que eu sempre tenho na mente são o idoso e a criança: o idoso é fiel, se
ele vira seu amigo, acaba se tornando um pai e sempre vem na loja; e a
criança, se gosta de você, só vem em você, para comprar alguma bola ou
brinquedo”, explica.
Silvia fica três horas mexendo doce na panela
(Foto: Luiz Henrique/Sebrae-MS)
Doçura caseira
Dona de uma fábrica de doces caseiros em Anhanduí - distrito de Campo
Grande -, Silvia Teixeira Melo, 33 anos, faz toda a produção em casa com
o marido. Empreendedora individual formalizada há dois anos, ela afirma
que trabalha, em média, dez horas por dia, horário que varia conforme a
demanda.
“Quando tem estoque, a gente dá uma parada. Agora quando sai bastante,
temos que trabalhar mais”. Os principais doces vendidos por Silvia são
os misturados com ameixa, maracujá, abóbora, goiaba, mamão e coco, com
preços entre R$ 5 e R$ 7. Produção totalmente manual, segundo ela.
“Coloco 50 litros de leite na panela e é três horas mexendo direto. Não
temos panela industrial, é tudo artesanal. O processo de colocar no
vidro também é manual. Por conta disso, o custo é maior.”
O lucro mensal da comerciante é de aproximadamente R$ 2,5 mil por mês.
Fruto de bastante luta, segundo ela. “Procuramos atender a melhor
maneira possível. Damos doce para pessoa degustar antes de comprar, para
ela saber o que está comprando”, afirma. O segredo: o toque do casal em
todos os doces produzidos. “Se tiver mais funcionários, vai fugir do
padrão de qualidade”.
Passos para o sucesso
A gerente de atendimento do Sebrae/MS, Leandra Costa, afirma que 10% do
sucesso de um negócio equivalem ao produto e 90%, ao serviço agregado
ao produto – por exemplo, a forma de atender o freguês.
“O empreendedor tem que conhecer o mercado e os clientes, ofertando
experiências inesquecíveis para que eles continuem consumindo. Além
disso, tem que ficar atento ao negócio dia a dia”.
O cliente deve ser tratado como convidado e isso exige alguns cuidados, de acordo com a gerente de atendimento do Sebrae.
“Manter o padrão de qualidade, a postura, o gesto e o foco no negócio.
Mesmo se passar por momentos de crise, não se deixar abater. Um
empresário de sucesso só se mantém se for persistente. Se ele errou, tem
que analisar onde errou e ajustar”, explica.
Como se formalizar
Para ser um microempreendedor individual, a pessoa deve faturar até R$
60 mil por ano e não ter participação em outra empresa como sócio ou
titular. O pequeno empresário também pode ter um empregado contratado
que receba o salário mínimo ou o piso da categoria.
Os requisitos constam na
Lei Complementar 128/2008.
Entre as vantagens oferecidas por essa lei, estão o registro no
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), enquadramento no Simples
Nacional, isenção de tributos federais (Imposto de Renda, PIS, Cofins,
IPI e CSLL).
Assim, o empreendedor pagará apenas o valor fixo mensal de R$ 32,10
(comércio ou indústria) ou R$ 36,10 (prestação de serviços), que será
destinado à Previdência Social e ao ICMS ou ao ISS. Com essas
contribuições, ele tem acesso a benefícios como auxílio-maternidade,
auxílio-doença, aposentadoria, entre outros.