segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Depois da ilegalidade e dificuldades, agricultores aumentam produção


Capacitação e inserção de cooperativas auxiliam na valorização do produto.
Comunidades estão se reinventando e fortalecendo suas economias.

Larissa Matarésio Do G1 RO

O presidente da Coopertap, Davino Mendes conta sua própria história como exemplo de mudança após o projeto (Foto: Gleice Mere/Sebrae/Divulgação)O presidente da Coopertap, Davino Mendes conta sua própria história como exemplo de mudança
(Foto: Gleice Mere/Sebrae/Divulgação)
O agricultor João Ferreira da Silva tem 64 anos e há mais de 50 trabalha na lavoura. Sem ter sua própria terra, ele trabalhou a vida toda na ilegalidade, mas desde que se mudou para Abunã, distrito de Porto Velho, sua realidade é diferente. “Antes eu era clandestino e andava pelo estado procurando terra para plantar", conta. Hoje ele faz parte da Cooperativa de Produtores de Paudarco, Taquara, Abunã e Penha (Coopertap) que incentiva os agricultores e os capacita para valorizar a produção regional.
Antes eu era clandestino e andava pelo estado procurando terra para plantar."
João Ferreira da Silva, agricultor
"Na minha idade, eu poderia estar descansando, mas com incentivo e oportunidade eu nem me sinto velho”, diz João Ferreira. O agricultor veio de Salvador (BA) há mais de 20 anos em busca de uma nova oportunidade nas terras de Rondônia, e só agora encontrou o seu lugar.
Cerca de um ano atrás, sua produção não passava de uma plantação de subsistência, já que não conseguia mercado para vender seus produtos. Com a venda do abacaxi que produz e comercializa pela cooperativa já pensa em aumentar sua plantação. "Agora eu vou conseguir me estabilizar e com o tempo eu pretendo expandir a minha produção", aposta.
Mudança radical
“Dos seis mil pés de abacaxi que tínhamos antes, alcançamos em 2012, cerca de quatro milhões de mudas. Mas isso só foi possível depois que os produtores conheceram o que é cooperativismo, receberam capacitação sobre o plantio adequado e tiveram acesso a noções de empreendedorismo. Ter noção de mercado foi fundamental para a mudança acontecer”, diz o presidente da Coopertap, Davino Mendes.
Davino usou a sua própria história para ilustrar a mudança. “Antes eu já plantava, mas era pouca coisa e cheguei até a abandonar o plantio de abacaxi por causa da dificuldade em vender a um preço bom. Depois de aprender sobre agregação de valor e mercado, retomei o cultivo, e hoje, a cooperativa consegue vender a R$ 2 cada unidade. Um valor muito diferente do que era antes”, compara.
Agricultores aprendem com o projeto a valorizar os produtos e recebem capacitação sobre empreendedorismo (Foto: Gleice Mere/Sebrae/Divulgação)Agricultores aprendem com o projeto a valorizar os
produtos e recebem capacitação sobre
empreendedorismo
(Foto: Gleice Mere/Sebrae/Divulgação)
Mendes explica que muitos agricultores não sabiam administrar as vendas e que chegou a ver preços de até R$ 0,25. “Ninguém consegue se manter vendendo um produto a esse valor”, garante. Agora, os produtores têm até um selo, como se fosse uma marca, que é colocado em cada fruta.
As mudas de abacaxi são nativas da região e são difundidas e multiplicadas entre os próprios produtores.
O mesmo aconteceu em União Bandeirantes, uma comunidade que fica a 160 quilômetros de Porto Velho. Associados em cooperativas, os moradores e agricultores do lugar aprenderam a valorizar o produto e a alcançar os grandes mercados consumidores. A valorização também foi fator fundamental na melhoria da plantação.
“Antes, os agricultores daqui vendiam a banana para atravessadores e só conseguiam a venda por cachos que custavam, em média, R$ 3. Agora conseguimos vender caixas da fruta diretamente para os grandes mercados. Cada caixa é vendida por R$ 20 e o produtor consegue completar uma caixa com dois ou três cachos”, diz Júlio Veríssimo, diretor comercial da Cooperativa Agrosustentável de União Bandeirante (Unicop).
Abacaxis produzidos pela Coopertap recebem até marca específica (Foto: Gleice Mere/Sebrae/Divulgação)Abacaxis produzidos pela Coopertap recebem até marca específica (Foto: Gleice Mere/Sebrae/Divulgação)
É dessa comunidade que vem grande parte da banana consumida na capital. A espécie mais cultivada na localidade é a comprida ou ‘banana de fritar’, mas o projeto está implantando 50 mil mudas certificadas de outras variedades que foram compradas de um laboratório de São Paulo e são geneticamente modificadas.
Júlio Veríssimo, da Unicop, diz que a medida de implantar novas variedades da fruta tem o objetivo de aumentar as vendas. “Apesar da banana de fritar ter uma boa saída, outras especialidades são mais vendidas no mercado, como a prata e a nanica. Agora poderemos vender mais”, ressalta.
O agricultor Samuel Lopes da Silva, de União Bandeirantes, produzia em pequena escala, e conta que os novos aprendizados mudaram a vida da família. “Eu e minha esposa fizemos capacitação e repassamos para toda a família o que aprendemos. Antigamente tínhamos uma consciência mais primitiva, mas aprendendo passo a passo conseguimos melhorar nossa lavoura e nossa qualidade de vida. Agora temos a noção de união e de empreendedorismo”, afirma.
Também preocupados com o desmatamento, os agricultores estão reaprendendo a organizar as suas plantações. Com o apoio técnico adequado, através do projeto 'Tempo de Empreender Rondônia' - do Instituto e Construtora Camargo Corrêa em parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) - eles aprenderam que é possível plantar 4,3 mil pés de banana no mesmo espaço em que eles estavam acostumados a plantar 1,8 mil pés. "Estamos nos adequando à essas medidas para conservar o meio ambiente", pondera Veríssimo.
Na Unidade Escola os agricultores recebem capacitação e reproduzem as mudas para o cultivo das frutas (Foto: Gleice Mere/Sebrae/Divulgação)Na Unidade Escola os agricultores recebem capacitação e reproduzem as mudas para o cultivo das frutas (Foto: Gleice Mere/Sebrae/Divulgação)

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