segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

'São batalhadores', diz médico que lê para deficientes visuais no DF


Três vezes por semana, Osmar Soares ajuda universitário e concurseiros.
Médico pretende lançar livro contando a experiência como voluntário.

Naiara Leão Do G1 DF
Quando se aposentou, o cardiologista Osmar Soares se viu diante de um tempo livre que ele não queria deixar ocioso. Uma vida de estudos e 37 anos de trabalho na rede pública deixaram a sensação de que ele “não podia ficar parado, sentado na frente de uma televisão”. Foi então que, um mês após a aposentadoria, em março de 2010, passou a atuar como ledor na biblioteca do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais de Brasília.
(Neste 2012, ano bissexto, você vai ganhar um dia inteiro. Além das 8.760 horas habituais,  terá 24 horas a mais. Já pensou no que vai fazer com elas? Numa série de 7 reportagens, brasileiros contam como doam parte do seu tempo e as experiências vividas em diferentes atividades)
Nas leituras para deficientes visuais, Soares descobriu que podia fazer mais do que preencher o tempo livre. “Já li livros de geografia, história, arte, literatura, linguística, arquivologia e a Constituição. Você aprende muito mais do que ensina. Eles transmitem força, são batalhadores. Saio daqui muito mais em paz comigo mesmo”.
Osmar vai à biblioteca 3 vezes por semana. Atualmente, ele ajuda 2 deficientes visuais que se preparam para concurso público e outro que faz faculdade de letras. “Eles não param. Se passam em um concurso, querem mais. É uma forma de superação”, diz.
Para ele, o voluntariado também é uma forma de ajudar “a fazer uma sociedade mais igualitária e justa”. “É difícil para o governo suprir todas as necessidades do cidadão. Não há condição de o governo colocar uma pessoa para auxiliar cada deficiente visual no reforço escolar", avalia.
De acordo com a diretora da biblioteca, Consuelo Souza, a maioria dos frequentadores é carente ou vem de famílias com pouco estudo. “Se não for o voluntário, eles não estudam direito. Livro didático é muito pouco e apostila em braile não existe”, afirma Consuelo. “Alguns alunos não têm em casa quem dê esse apoio”, completa Osmar.
No ano passado, 8 frequentadores da biblioteca foram aprovados no vestibular, 4 em concurso público e 2 concluíram o ensino médio. O médico aposentado se orgulha dos amigos que ajudou.
“Você vê alunos com inteligência fora do normal. São brilhantes. Estão antenados com o que acontece com o Brasil e o mundo, comentam política. Com a falta da visão, eles apuram outros sentidos”, afirma.
Segundo Osmar, a experiência na biblioteca fará parte de um livro que vem escrevendo e que terá relatos relacionados à solidariedade. "A gente poder ajudar os outros é importante. Amanhã nós podemos precisar também", diz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário