quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Coquetel vira remédio de prevenção contra a Aids em Uberaba, diz médico


 

Infectologista da UFTM faz alerta sobre o uso do medicamento.
A ‘ruralização’ e a ‘feminilização’ também chamam a atenção no Triângulo.

Luiz Vieira Do G1 Triângulo Mineiro
Infectologista diz que é preciso investir em mais informação (Foto: Luiz Vieira/G1)Infectologista diz que é preciso investir em mais
informação (Foto: Luiz Vieira/G1)
O comportamento de algumas pessoas em relação à Aids tem assustado especialistas como o infectologista da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Rodrigo Juliano Molina. Em um mês, ele registrou cinco casos de pessoas que procuraram a central da universidade em busca de um coquetel.
“É comum pessoas que procuram a chamada profilaxia pós-exposição porque transaram sem camisinha para tentar evitar a Aids. A atitude mostra, na verdade, que elas não sabem o que estão fazendo. E isso mostra, também, que é preciso que toquemos mais no assunto. Tenho muito medo deste comportamento porque todo medicamento tem efeito colateral e o resultado não é garantia de que a pessoa não seja contaminada com o HIV. Além disso, o uso do coquetel constante pode levar até uma resistência da pessoa pelo medicamento”, explicou.
Desde 1980, quando o vírus da Aids foi descoberto, muito já se evoluiu em relação ao tratamento e prevenção da doença. Mas mesmo com tanta informação e meios de prevenção, a cada ano as estatísticas assustam quando novos casos são descobertos. Em Minas Gerais, só este ano foram 991 casos confirmados, segundo o Boletim Epidemiológico Aids/DST divulgado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Contudo, os números podem ser ainda maiores, pois os dados são referentes ao período de janeiro a julho deste ano e, nele, constam apenas os casos de portadores do vírus HIV que evoluíram ao estágio da Aids e que fazem tratamento com acompanhamento médico.
Segundo a especialista e referência técnica em DST/Aids e hepatites virais da Superintendência Regional de Saúde, Denise Maciel Carvalho, os dados podem ser ainda mais preocupantes se contarmos aquelas pessoas que têm a doença e não sabem ou não seguem um tratamento, e estão fora das estatísticas. “Nossa grande preocupação é com as pessoas que não sabem que têm a doença ou que sabem e que não estão em tratamento. O diagnóstico do HIV é sigiloso. Quanto ao tratamento da Aids, ainda existe resistência de algumas pessoas quanto à seguir um tratamento”, disse a especialista.
A 'ruralização' e a 'feminilização'
Para Rodrigo Molina, as estatísticas também revelam outros dados preocupantes. Segundo o infectologista, que é referência na região, os casos de HIV na população da zona rural têm aumentado e a falta de informação tem propagado a doença.
“Hoje a Aids passa por duas situações. Uma delas é a ruralização, que nos assusta muito. São pessoas de baixo nível sócio-cultural. Eles não se previnem e não sabem a gravidade da doença que tem. Não se tratam e passam adiante a doença. Outro aspecto é a feminilização. A população feminina está se equiparando à masculina. Antigamente a relação era de 14 homens para uma mulher com o HIV. Hoje a situação tem mudado e, em algumas regiões, têm um homem infectado para uma mulher infectada. E são diversos os fatores que influenciam, entre eles, as mulheres que têm contraído a doença dos maridos”, disse Molina.
Dados da Secretaria do Estado de Saúde de Minas Gerais mostram outra relação que é considerada preocupante também pelos especialistas. A cada ano aumenta o número de pessoas infectadas cada vez mais jovens. Em Uberaba, são 28 casos confirmados de jovens entre 15 e 19 anos. Em Uberlândia esse número é ainda maior: 52 casos. A faixa etária onde se concentra o maior número de pessoas infectadas na região está na faixa de 20 a 34 anos. “Os casos de 15 a 19 anos são de pessoas que estão iniciando a vida sexual sem proteção e isso é grave. De 20 a 34 anos são jovens e adultos. Nesse grupo, percebemos o aumento de mulheres infectadas por contraírem o vírus do companheiro”, completou Rodrigo Juliano.
Contaminação
Os especialistas lembram que a principal forma de contrair o vírus do HIV é através da relação sexual e o compartilhamento de agulhas pelos usuários de drogas. E o comportamento de risco dos usuários é o principal problema apontado. “As pessoas precisam se lembrar de usar o preservativo. E os usuários de drogas também precisam se proteger, apesar de ser difícil quando eles perdem todos os sentidos e acabam tendo relação desprotegidos ou também ainda usam agulhas compartilhadas”, explicou o infectologista Rodrigo Juliano Molina.

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