Cada vez menos pessoas têm a escola como referência em leitura
- Pesquisa
Retratos da Leitura no Brasil aponta uma queda no índice de leitores
incentivados no ambiente escolar. Em 2019 era de 23% e, neste ano, caiu
para 19%
- De
acordo com a pedagoga especialista em leitura do Grupo Eureka, os dados
evidenciam uma desconexão entre os professores e o hábito da leitura
- Investir
em formação e disponibilizar materiais que estimulem práticas voltadas à
literatura são medidas essenciais para ampliar o número de leitores no
Brasil
A
pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada recentemente pelo
Instituto Pró-Livro (IPL), revela que o número de leitores que
identificam a escola como ambiente de leitura caiu de 23% para 19% nos
últimos quatro anos. Essa redução acende um alerta sobre a necessidade
de intensificar políticas e estratégias eficazes para estimular o hábito
da leitura entre os estudantes, além de evidenciar a necessidade de
formar professores leitores capazes de promover essa prática.
A
pesquisa, realizada a cada quatro anos, revelou uma queda contínua no
número de leitores que associam a escola ao hábito de leitura. Em 2007,
35% dos entrevistados mencionavam o espaço escolar como o local onde
costumavam ler livros. Esse índice caiu para 33% em 2011, para 25% em
2015 e, em 2024, atingiu o pior registro da série histórica. A maioria
dos leitores, 85%, aponta a própria casa como o principal local de
leitura. O levantamento, conduzido pelo Instituto Ipec (Inteligência em
Pesquisa e Consultoria), ouviu 5.504 pessoas em visitas domiciliares
realizadas em 208 municípios.
Os
dados revelam ainda que a influência da escola na indicação de livros
para leitura tem diminuído progressivamente. Apenas 4% dos entrevistados
afirmaram estar lendo um livro recomendado pela escola, um índice que
já foi de 25% em 2011 e caiu para 10% nas edições anteriores da
pesquisa, realizadas em 2015 e 2019.
Docência x literatura
Para
enfrentar o desafio de aumentar o número de leitores no Brasil — que
teve uma redução de 6,7 milhões entre as edições de 2019 e 2024 da
pesquisa — e fazer da escola uma referência novamente, é essencial
investir em ações que estimulem a leitura entre os professores. "É
preciso ações e políticas públicas que garantam aos docentes não apenas o
acesso ao livro, mas também a formação continuada e o incentivo à
leitura como atividade de lazer e entretenimento. É fundamental mostrar a
esses profissionais que a literatura poderá impactar o modo de
funcionamento da sua própria vida, ampliando seus horizontes e
enriquecendo sua visão de mundo”, afirma Malu Carvalho, pedagoga e
especialista em leitura do Grupo Eureka.
A
especialista ressalta a importância das formações continuadas para os
professores, destacando que a leitura literária vai além das disciplinas
específicas, oferecendo uma abordagem interdisciplinar que amplia
perspectivas e promove novas visões de mundo. Malu Carvalho também
enfatiza a necessidade de disponibilizar materiais que orientem os
docentes a incorporarem experiências literárias em sala de aula. “É
fundamental fornecer ferramentas que permitam aos educadores expandir
seu repertório de trabalho e diversificar suas estratégias de mediação e
incentivo à leitura”, explica.
Atividades literárias
No
Rio de Janeiro, o Grupo Eureka, em parceria com a Secretaria de
Educação do Estado (Seeduc-RJ), lançou o Guia de Experiências Literárias
para estudantes da rede pública. A publicação detalha as obras
literárias adotadas nas escolas e sua conexão com a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC). Além disso, aborda conceitos fundamentais de mediação
e incentivo à leitura, orientando como organizar itinerários
literários, desenvolver fichas de atividades e promover experiências que
estimulem o engajamento dos estudantes com a literatura.
Confira as principais experiências literárias para a sala de aula:
Mediação de leitura
Envolve
a atuação de um mediador, responsável por potencializar o acesso ao
texto, ampliar as possibilidades de interpretação e contextualizar a
obra para os leitores. Esse mediador pode ser um professor,
bibliotecário ou qualquer pessoa que desempenhe o papel de orientar o
processo de leitura.
Mobilização de leitura
Refere-se
a iniciativas e estratégias voltadas a estimular o hábito da leitura,
criando ambientes favoráveis e motivadores que incentivem as pessoas a
lerem mais. Trata-se de uma forma de promoção da leitura que busca
tornar essa prática mais acessível e envolvente. Exemplos:
- Clubes
de leitura: criação de grupos nos quais estudantes e adultos se reúnem
para discutir livros selecionados, explorando temas complexos e
contemporâneos, promovendo o diálogo e a troca de ideias;
- Leitura
compartilhada em bibliotecas: atividades que incentivam membros da
comunidade a se reunirem para ler e debater textos de interesse comum,
fortalecendo a inclusão social e o engajamento coletivo;
- Slam
Literário: Competições de poesia oral em que os participantes
apresentam seus poemas de maneira intensa e expressiva, priorizando a
performance e a conexão com o público;
- Sarau:
Eventos que reúnem músicos, poetas e artistas para compartilhar suas
obras e performances, criando um ambiente de celebração artística e
intercâmbio cultural.
Fonte: Guia de Experiências Literárias, Editora Eureka
Na
Paraíba, a professora Adrielly Rayanne Dantas da Silva, de 25 anos,
adota a estratégia de mediação de leitura junto aos estudantes da Escola
Municipal Cícero Gonçalves dos Santos, localizada na zona rural de
Puxinanã. Ela destaca o projeto Leitômetro, que registra os livros lidos
pelos alunos. "Eu esperava que cada um lesse um livro por semana, mas
eles ficaram tão motivados que alguns já leram mais de 115 livros neste
ano", revela. Como resultado, a turma saiu de 0% de adequação no
Compromisso Nacional da Criança Alfabetizada para 63% na segunda
avaliação, com a maioria dos alunos se tornando leitores fluentes.
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