"Somos
racistas: a dissimulação discursiva do racismo no Brasil", de autoria
de Hélio Oliveira, doutor pela Unicamp, lançado pela Editora da UFSCar
(EdUFSCar), ganha uma dimensão maior neste mês de novembro, o da
Consciência Negra.
O
objetivo principal da obra é descrever e explicar os mecanismos
sócio-histórico-ideológicos que sustentam a pretensa invisibilidade do
racismo no Brasil. Ou seja, assume-se que vem do discurso aquilo que
permite a cegueira social coletiva que insiste em negar o racismo no
país, mesmo em face de sua explicitude.
O
livro é uma versão resumida e atualizada de uma pesquisa de doutorado
realizada na Unicamp e na França (École des Hautes Études en Sciences
Sociales - EHESS), que resultou em uma tese de doutorado em Linguística.
Para a publicação na EdUFSCar, foram excluídos capítulos excessivamente
teóricos da tese e partes metodológicas, além de serem acrescidos novos
exemplos, com casos mais recentes.
"Sempre
me interessei por temas polêmicos e por temas ligados à injustiça
social, preconceito, desigualdades. Ao mesmo tempo, sempre lamentei que a
sociedade em geral não valorize muito esses temas e acho que isso é um
grave erro: todos nós deveríamos ler e aprender sobre essas questões,
deveríamos pesquisar e ir em busca de informações aprofundadas sobre
esses problemas que, na verdade, são causados por nós e, por isso, só
poderão ser solucionados por nós", explicou o autor sobre o interesse
pelo tema.
Segundo
ele, a obra explora o funcionamento do discurso racista no Brasil. "De
forma mais específica, o texto enfoca um aspecto peculiar desse
discurso, que é a tendência de se invisibilizar, de se disfarçar de
outros discursos e até mesmo de negar sua própria existência. Por
exemplo, é bastante comum vermos casos de racismo sendo justificados
como 'brincadeira, 'apenas uma piada' ou simplesmente como 'exercício de
liberdade de expressão', quando, na verdade, é puro racismo mesmo. O
livro, então, se dedica a analisar essas estratégias 'argumentativas'
que insistem em negar o racismo".
O
livro tem cinco capítulos e analisa variados tipos de materiais, desde
matérias publicadas em jornais impressos e postagens em redes sociais
até anúncios publicitários, pinturas e exposições fotográficas,
englobando textos verbais e não-verbais. O primeiro capítulo apresenta e
analisa o conceito de racismo usando como ponto de partida as origens
do Movimento da Consciência Negra e as dificuldades que esse movimento
enfrenta até hoje.
O
capítulo seguinte trata das polêmicas em torno da expressão
"consciência negra", os discursos de seus defensores e de seus
detratores, analisando casos de racismo nas redes sociais, na política e
na propaganda.
O
terceiro capítulo explora como os maiores jornais brasileiros tratam de
temas relativos ao movimento negro e como apresentam assuntos
relacionados aos negros, o que permite colocar lado a lado as
características do discurso racista e as do discurso antirracista. O
quarto capítulo se concentra na insistente negação de que exista racismo
no Brasil, analisando casos notórios em que racistas negaram cometer
racismo. E, por fim, no último capítulo, examinam-se as variadas formas
nas quais o racismo se dissimula.
"A
obra é uma das primeiras publicações em língua portuguesa inteiramente
dedicada ao estudo de uma fórmula discursiva - nesse caso, a fórmula
'Consciência Negra', o que lhe confere algum grau de novidade, em
relação às possíveis contribuições geradas. Assim, sua principal
contribuição pretende ser o combate ao racismo, especialmente à negação
do racismo que continua ocorrendo no país e que raríssimos estudos
tentam explicar. O Brasil parece ter uma memória afetiva do povo negro,
ainda é conhecido como ‘país do samba’, ‘país do futebol’, áreas em que a
presença dos negros é forte, chegou também a ser conhecido como ‘terra
da democracia racial’. Como um país assim tão alegre e miscigenado
poderia ser intolerante com os negros? Afinal, nós somos racistas? Torço
para que o livro guie seus leitores às respostas dessas perguntas e a
uma compreensão mais abrangente do país em que vivemos", concluiu
Oliveira.
A obra pode ser adquirida no site da EdUFSCar, em edufscar.com.br/somos-racistas.
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