O
“chip da beleza”, dispositivo em forma de bastão que libera o hormônio
Gestrinona na circulação sanguínea, ganhou popularidade com a alegação
de oferecer benefícios estéticos. Em razão dos efeitos colaterais
severos e imprevisíveis, ele teve sua manipulação, comercialização,
propaganda e uso proibidos pela Anvisa, em outubro de 2024.
A
ginecologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de São
Carlos (HU-Ufscar), vinculado à Rede Ebserh, e professora associada do
departamento de Medicina da Ufscar, Maristela Carbol, explica o que é o
chip, fala sobre os riscos, e chama a atenção para que o “chip da
beleza” não possa ser confundido com os Implantes de Etonogestrel –
Implanon, que são aprovados para uso anticoncepcional e que, de forma
inadequada, vêm sendo chamados de “chip”.
De
acordo com a médica, o “chip da beleza” geralmente é inserido logo
abaixo da pele na região do braço, glúteo ou abdome, podendo ficar em
torno de seis meses a um ano. A Gestrinona tem propriedade androgênica, o
que significa que aumenta os níveis de testosterona no corpo.
Ela
explica que, nas décadas de 1970 e 1980, a Gestrinona foi usada para
tratamentos de endometriose, para aliviar a dor em cólica
(dismenorreia), a dor em baixo ventre (dor pélvica), e para melhorar a
resposta morfológica no ovário. Também foi usada para regredir o tamanho
dos miomas uterinos e reduzir o volume do útero, resultando em alívio
do desconforto abdominal e dor na relação sexual (dispareunia).
“A
Gestrinona ganhou popularidade com a alegação de oferecer benefícios
estéticos devido à ação dos androgênios (aumento da testosterona),
passando a ser chamada de ‘chip da beleza’. Nos últimos anos, a
prescrição desse hormônio se tornou amplamente difundida, sendo
promovida livremente nas redes sociais, sem suporte ético e científico”,
relata a médica. Segundo ela, o hormônio vem sendo indicado como
estratégia para emagrecimento, tratamento da menopausa,
antienvelhecimento, redução da gordura corporal, aumento da massa
muscular, aumento da libido.
Ela
esclarece que a suspensão pela Anvisa foi necessária “porque os efeitos
colaterais são imprevisíveis e severos, e superam qualquer benefício”.
“Casos
de infarto do miocárdio, trombose e acidente vascular cerebral estão se
apresentando cada vez mais comuns. O uso desses ‘chips’ está associado a
complicações na pele, fígado, rins, músculos e infecções. Além disso,
têm sido cada vez mais frequentes problemas psicológicos e
psiquiátricos, como ansiedade, agressividade, dependência, crises de
abstinência e depressão”, esclarece a especialista.
Ela
chama atenção também sobre outros efeitos observados nas mulheres
como: acne, hirsutismo, queda de cabelo, aumento do clitóris,
engrossamento da voz (que é irreversível), irregularidades menstruais,
infertilidade e possíveis malformações fetais, no caso de a mulher
engravidar durante o uso.
Devido aos efeitos adversos graves, a médica orienta que as mulheres que estão em uso do “chip” façam a remoção o quanto antes.
Rede Ebserh
O
HU-UFSCar faz parte da Rede Ebserh desde 2014. Vinculada ao Ministério
da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra
45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas
atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais
vinculados a universidades federais, essas unidades têm características
específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo
tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o
desenvolvimento de pesquisas e inovação.
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