domingo, 24 de novembro de 2024

Coleção Perseverança (AL) recebe tombamento definitivo pelo Iphan

 

Coleção Perseverança (AL) recebe tombamento definitivo pelo Iphan

Considerada o documento mais importante para a memória religiosa afro-alagoana, a Coleção Perseverança foi tombada definitivamente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O reconhecimento foi aprovado por unanimidade nesta terça-feira (12/11), durante a 106ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Com a decisão, a coleção será inscrita no Livro do Tombo das Belas Artes, no Livro do Tombo Histórico e no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, pelo seu valor etnográfico.


O acervo, que já havia recebido tombamento provisório em 22 de julho de 2024, está sob a guarda do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL) desde 1950. Já protegida em nível estadual, a Coleção Perseverança é composta por 211 objetos sagrados que resistiram ao Quebra de Xangô, episódio ocorrido em 1912, no qual terreiros de Maceió (AL) e adjacências foram atacados por questões políticas. Entre os rumores que circulavam, destacava-se a suposta associação do governador da época, Euclides Malta, às Casas de Axé, com alegações de que essas instituições estariam exercendo influência sobre a administração do governo estadual.


Em meio ao racismo estrutural do Brasil no período pós-abolição, essa ligação gerou indignação entre a população de Alagoas contra o governador e, consequentemente, contra as casas religiosas, que passaram a ser alvo de ataques. Vários objetos sagrados — utensílios e adornos, vestes litúrgicas e instrumentos utilizados nos cultos — foram retirados de seus locais e jogados no meio da rua. Alguns desses itens foram guardados para serem exibidos como troféus, enquanto outros foram levados em tom de zombaria em um cortejo rumo a outras casas de Xangô nas redondezas.  


“O valor histórico da Coleção Perseverança foi atribuído como mediação tangível da ancestralidade vítima do Quebra de Xangô de 1912 e, nesse sentido, como memória sensível da repressão nacional a terreiros e aos religiosos e religiosas de matriz africana, amparada pela legalidade imposta pelo Código Penal de 1890. Seu valor histórico ecoa nos inúmeros casos brasileiros de perseguição religiosa institucionalizada contra o Povo de Axé ao longo do período republicano”, analisou o técnico do Iphan em Alagoas, Maicon Marcante.  


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