Engana-se
quem pensa que a idade é um empecilho para desbravar novos lugares. Com
o tempo livre da aposentadoria e recursos financeiros acumulados ao
longo de uma vida, muitos idosos têm aproveitado para viajar, seja de
forma independente ou em excursões organizadas. Hoje, eles representam
cerca de 18% dos viajantes, de acordo com pesquisa feita pelo Hurb,
empresa de tecnologia que atua no mercado de turismo há 13 anos.
Compostas em sua maioria por mulheres, as excursões voltadas para os
mais velhos promovem a criação de novas conexões, proporcionando
experiências que vão além da viagem em si.
O Censo 2022,
realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
apontou um crescimento de 57,4% no número de idosos no país em relação
ao mesmo período de 2010. A expectativa é que a população idosa atinja a
marca de 90 milhões de pessoas até 2050. Esse crescimento reflete o
envelhecimento da população brasileira, e as projeções demográficas
indicam que, até 2060, um quarto da população terá mais de 65 anos. Esse
cenário é tão desafiador quanto promissor para o setor de turismo.
Afinal, o público da terceira idade busca explorar o mundo e fazer novas
amizades, mas é mais exigente. A geração prateada já viveu muitas
coisas ao longo de sua vida, e hoje entende-se que esse público busca
algo que vá além de um bom atendimento. Eles querem conforto, mobilidade
e lazer em um só lugar, e por isso, preferem acomodações all inclusive e
serviços de qualidade. Muitos resorts investem em infraestrutura
adequada, com apartamentos adaptados, rampas, elevadores de acesso e
atividades exclusivas para o grupo, como aulas de hidroginástica, ioga,
funcional, além de tratamentos e massagens no SPA, para poderem
aproveitar ao máximo a estadia.
Visando tornar as viagens mais acessíveis a esse público, o governo federal lançou, em 24 de julho, o programa Voa Brasil.
Destinado a públicos específicos, como aposentados do INSS que não
viajaram de avião nos últimos 12 meses, o programa disponibilizou três
milhões de passagens por um valor fixo de R$200 cada. Desde o
lançamento, já foram vendidos 10 mil bilhetes para idosos, promovendo a
inclusão deste público no turismo aéreo, embora este número corresponda a
menos de 1% das passagens disponibilizadas.
O projeto não é a única iniciativa pública voltada para o tema. O Ministério do Turismo lançou ainda a cartilha “Dicas para atender bem turistas idosos”,
para garantir um acolhimento adequado a esse público no Brasil. O guia
oferece orientações a prestadores de serviços do ramo turístico sobre
como identificar necessidades específicas e tratar o público da terceira
idade com dignidade e respeito, para terem uma experiência prazerosa,
especialmente durante a baixa temporada, quando os destinos são mais
tranquilos.
Conforme
o guia, o tratamento oferecido pelos prestadores de serviço deve ser
amável, respeitoso e compreensivo para que os viajantes idosos se sintam
confortáveis. Além disso, os profissionais devem estar atentos às
necessidades especiais de cada viajante, oferecendo o auxílio adequado
durante as atividades turísticas.
Contrariamente à imagem que persiste na sociedade brasileira, a população prateada está cada vez mais ativa. Segundo projeções da Divisão de População da ONU,
em 2022 os idosos (60+) representavam 13,9% do total da população
mundial, com tendência de crescimento contínuo. Realizado no Brasil, o
estudo Tsunami60+,
que se debruçou sobre o mesmo público, mostrou que 62% dos
entrevistados relataram estar bem, física e mentalmente; além disso, 59%
dos entrevistados entre 55 e 64 anos afirmam ser ativos. Eles estão
usando tecnologia, passeando, viajando, namorando, casando e recasando,
trabalhando, empreendendo, estudando, praticando esportes,
aventurando-se… um verdadeiro envelhecimento ativo.
Além
disso, o mesmo estudo indica que a economia prateada movimenta cerca de
R$1,6 trilhões por ano, representando 20% do consumo total do país. No
entanto, apesar do grande poder de consumo, a geração prateada ainda
enfrenta invisibilidade. Segundo a pesquisa, 54% dos entrevistados com
mais de 55 anos afirmam não se sentir representados pela mídia nem pelas
campanhas de marketing de marcas e empresas, incluindo os destinos
turísticos.
Por
isso, é fundamental adaptar atrações, hospedagens e comunicação,
garantindo acessibilidade e segurança para atender às necessidades desse
público. A promoção de produtos e serviços voltados para esse público
deve incluir imagens de idosos reais, criando identificação e
representatividade. Além disso, é importante criar equipes
intergeracionais e capacitar profissionais para lidar com as
especificidades desse público.
Ademais,
o público sênior é muito diverso, compreendendo pessoas com excelente
estado de saúde, incluindo mobilidade reduzida, deficiências ou
limitações. Há diferentes possibilidades financeiras, níveis culturais e
sociais, além de variados arranjos de relacionamento. Assim, conhecer e
segmentar adequadamente é essencial para entender suas demandas e
anseios no turismo, garantindo que todos se sintam incluídos e
acolhidos.
Outro
ponto importante para esse público é a alimentação. Com a chegada da
idade, muitos idosos precisam de uma alimentação específica para repor
vitaminas, mas 40% dos entrevistados na pesquisa relataram encontrar
dificuldades em acessar esses tipos de alimentos. Além disso, 28% dos
entrevistados alertaram sobre a dificuldade em encontrar adaptações para
suas casas, como barras de segurança ou locais sem degraus. O mesmo
padrão pode ser observado em hospedagens. Esses desafios revelam
oportunidades para investimentos e melhorias, tanto no setor de turismo
quanto em outros setores voltados para o bem-estar da população idosa.
O
turismo na melhor idade está em plena ascensão, movimentando o setor e
provando que a idade não é barreira para quem deseja explorar o mundo,
criar memórias e viver novas aventuras. Todos os setores da sociedade
precisam se preparar para se relacionar e atender às demandas deste
público, que requer serviços, produtos e condições adequadas para um
envelhecimento saudável, ativo e feliz. É importante ainda reconhecer
que a geração prateada não é homogênea e compreender essa diversidade é a
chave para oferecer experiências turísticas significativas e
satisfatórias para todos.
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