terça-feira, 29 de outubro de 2024

COP16: Bioeconomia deve se basear nos limites e necessidades da Amazônia

 



Durante participação na 16ª Conferência da Biodiversidade, Gabriela Savian aponta premissas para que região e suas populações não sejam prejudicadas


Conceito contemporâneo, a bioeconomia deve se basear nos limites e necessidades da Amazônia, de seus povos e da floresta, fomentando iniciativas que não sejam prejudiciais às populações locais e à sua dinâmica.


A afirmação foi feita por Gabriela Savian, diretora adjunta de Políticas Públicas do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) durante a COP16 da Biodiversidade no Painel de especialistas: Ampliando empresas verdes e impacto social na Bacia Amazônica e além.


Para Savian, quatro premissas são necessárias para abordar essas oportunidades emergentes para a Amazônia: conservação das florestas, promoção de sistemas de produção diversos, fortalecimento do conhecimento tradicional, das práticas e tecnologias sociais e compartilhamento justo de benefícios entre as populações locais.


“Essas premissas norteiam o IPAM nos territórios onde atuamos diretamente com os agricultores, bem como as ações que apoiamos nas políticas públicas nos níveis federal, estadual e municipal”, afirmou.


Como resultados preliminares de pesquisa em andamento realizada pelo IPAM, identificou-se que das mais de 13 mil empresas formais nos nove estados da Amazônia brasileira que possuem relação com bioinsumos ligados à sociobioeconomia, quase nenhuma delas têm o processo de inovação e tecnologia baseado na Amazônia.


“Esses processos estão localizados no sul e no sudeste do país, mostrando que as instituições de pesquisas, a tecnologia e a inovação precisam ser fomentadas na Amazônia para criar as estruturas, reduzir as distâncias e valorizar os produtos”, explicou Savian.


Marcelo Furtado, Head de Sustentabilidade do Itaúsa, trouxe ao debate a necessidade mudar a forma como a Amazônia é valorizada, especialmente sua natureza.


“O desafio para envolver o setor financeiro é, por um lado, tornar a natureza um passivo financeiro, e isso não significa monetização da natureza, mas pagamento pelos resultados positivos que a natureza produz para a vida, para as operações industriais, a qualidade do ar, a chuva para a produção de alimentos e assegurando que os recursos da terra estarão lá para as pessoas que estão cuidando da natureza, em primeiro lugar”.


Furtado mencionou o trabalho que está sendo realizado por um grupo de 22 organizações advindos de academias, sociedade civil, negócios e ONGs que se reuniram para apoiar a iniciativa de bioeconomia para o G20 sob o governo brasileiro. “Acordamos que não gastaríamos muito tempo definindo bioeconomia, mas fizemos um acordo de que a bioeconomia de que estamos falando é positiva para o clima, natureza e pessoas”.


Simón Gaviria Muñoz, ex-diretor geral do DNP (Departamento Nacional de Planejamento) da Colômbia, trouxe a perspectiva do país durante o painel. “A Amazônia é muito presente no Brasil, no Peru... faz parte de sua cultura, comida, música, turismo; enquanto na Colômbia, ainda estamos descobrindo-a”, afirmou.


Segundo ele, os conflitos históricos ainda existentes na Colômbia também prejudicaram o desenvolvimento econômico e ambiental do país. “Não ter paz no território cria desafios para o meio ambiente”. Para conservar de maneira sustentável e permanente, ressaltou, são necessários investimentos no país e envolvimento das comunidades que vivem na floresta.


Para Ilona Szabó, cofundadora e presidente do Instituto Igarapé, além do financiamento, os arranjos governamentais multiníveis podem ser chave. “Há boa vontade, temos capital, há muito conhecimento, mas estamos quase lá. A governança pode criar as condições para trazer o capital para os territórios de modo que as pessoas que lá estão prosperem e para que tenhamos impacto social”.

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