Apoiadas
pela Plataforma Jornada Amazônia, Hylaea, UBS Amazônia e Biospin
destacam-se com o desenvolvimento de fitoterápicos, suplementos e
curativos inteligentes para tratamento de feridas, cuidado da saúde da
mulher e tratamento para dependentes químicos. A “ibogaína” brasileira
promete revolucionar o tratamento da dependência de drogas
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O
Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo, possuindo cerca de
46 mil espécies vegetais conhecidas. Entre os biomas, destaca-se o da
Floresta Amazônica, maior floresta tropical úmida do mundo, segundo
dados do Ministério do Meio Ambiente. A cadeia de fitofármacos e
fitoterápicos possui um grande potencial de inovação e crescimento, uma
vez que muitas das espécies vegetais ainda não foram amplamente
estudadas. Por outro lado, apesar da riqueza de insumos a céu aberto, o
Brasil representa apenas 1,5% do mercado mundial de fitoterápicos,
conforme indica a Associação Brasileira da Indústria de Insumos
Farmacêuticos (Abiquifi). O Anuário da Estatístico do Mercado
Farmacêutico, divulgado pela Secretaria-Executiva da Câmara de Regulação
do Mercado de Medicamentos (SCMED), do Ministério da Saúde, revela o
potencial da indústria ligada à saúde, que, no ano de 2022, movimentou
mais de R$ 131,2 bilhões com a venda de mais de 5,7 bilhões de
embalagens de medicamentos. Destes, cerca de R$ 868 milhões representam o
faturamento de medicamentos fitoterápicos, no período o setor vendeu
mais de 35 milhões de embalagens.
Marcos Dá-Ré, diretor de Economia Verde da Fundação CERTI, realizadora e coordenadora, ao lado do Instituto CERTI Amazônia, da Plataforma Jornada Amazônia, que tem ainda a coparticipação e investimentos do Bradesco, Fundo Vale, Itaú Unibanco, e Santander, avalia que o investimento em bioeconomia é uma das saídas para trazer o protagonismo da pesquisa nacional e a importância da floresta em pé no segmento da saúde. “A pandemia alavancou uma necessidade do mercado: as pessoas buscam mais por saúde e, dentro da Amazônia, há uma infinidade de possibilidades de negócios no setor. O Sinapse da Bioeconomia e o Sinergia, programas da Plataforma, são iniciativas que têm contribuído para o desenvolvimento e fomento de negócios inovadores que estão explorando a rica variedade da região para desenvolver produtos voltados ao tratamento e promoção da saúde com a identidade da Amazônia, sem agredir a floresta e trazendo oportunidades para as comunidades atuarem junto, compartilhando valor”, aponta Dá-Ré.
Conheça abaixo empresas que trabalham a diversidade da Amazônia para desenvolver e produzir suplementos, fitoterápicos e curativos inteligentes.
Uma nova esperança no tratamento de dependentes químicos
A Hylaea nasceu com um objetivo que impacta diretamente na saúde pública: desenvolver uma versão brasileira da ibogaína. Extraída a partir da Iboga, esta planta de origem africana tem sido utilizada com sucesso no tratamento de dependência química, depressão e estresse pós-traumático. No entanto, a necessidade de uma versão tupiniquim do insumo surge devido a três fatores: o legal, porque a planta não é autorizada pela ANVISA no país, sendo liberada a importação apenas em casos prescritos pelos médicos; econômico, cada dose da ibogaína tem o custo de R$ 10 mil a 15 mil; e a urgência, pois, segundo dados da OMS, o Brasil tem cerca de 12 milhões de dependentes químicos e aproximadamente 30 milhões de pessoas tem um familiar que é dependente químico.
Ricardo Marques, farmacêutico e fundador da Hylaea, aponta que a Iboga tem sido considerada o “novo marfim” da África, sendo explorada de maneira predatória. “É uma cultura bastante ameaçada no Gabão, país de origem, e a nossa pesquisa tem o diferencial de promover uma extração sustentável, envolvendo as comunidades da floresta e é inédita, pois conseguimos desenvolver esse valioso insumo a partir de uma planta da Amazônia. Inclusive, buscamos a patente junto ao INPI para proteger essa descoberta através de pesquisa”, comenta.
O fundador da Hylaea, que possui mais de 20 anos de experiência em pesquisas nas áreas de química orgânica e biotecnologia, destaca o “valor inestimável da floresta” para o desenvolvimento de novos medicamentos e soluções de saúde. “Temos uma biblioteca para ser explorada, todos reconhecem seu potencial, mas é preciso investimento para acessar e olhar livro por livro. Atualmente, os quimioterápicos mais modernos são derivados de plantas”, destaca. Com a participação no Sinergia, o pesquisador pôde explorar melhor o perfil empreendedor. Ricardo revela que as mentorias e apoio do programa contribuíram para o amadurecimento do negócio, com preparação para captação de novos investidores e escalabilidade do produto.
Foco em saúde da mulher
Segundo estudo divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (ABIAD), em 2023, mais da metade (59%) dos lares brasileiros consomem suplementos alimentares. Destes, 85% afirmam buscar melhorias no bem-estar e saúde. E é justamente neste mercado promissor que a UBS Amazônia está inserida.
Sérgio Segall, cofundador da startup, revela que a empresa segue avançando no desenvolvimento de suplementos alimentares que vão impactar positivamente a saúde das pessoas. A UBS Amazônia está atuando no aperfeiçoamento dos “super foods” com insumos da Amazônia e do Cerrado. “Estamos trabalhando também no desenvolvimento de fitoterápicos com foco em saúde da mulher, combinando duas plantas, uma amazônica e outra do Cerrado, para contribuir com a qualidade de vida e bem-estar no período da menopausa”, adianta.
Segall destaca que a natureza oferece alternativas seguras para auxiliar no processo de envelhecimento feminino, ajudando a reduzir os riscos, tornando essa transição mais suave e com menos efeitos colaterais.
O executivo reflete, ainda, sobre o papel econômico que os negócios inovadores desempenham na floresta, pois, ao criar produtos que combinam eficácia, sustentabilidade e responsabilidade social, “a UBS não apenas oferece soluções para a saúde e o bem-estar, mas também contribui para o desenvolvimento econômico e social das comunidades amazônicas, fortalecendo nossa conexão com a natureza e com as pessoas que dependem dela”.
Sérgio destaca também a necessidade de iniciativas de promoção da bioeconomia, como o Programa Sinergia, para gerar riqueza e desenvolvimento para a região. “A bioeconomia é o principal caminho. Temos um mercado ávido por produtos mais saudáveis e naturais, mas não existe bala de prata, é necessário manter a floresta em pé com as pessoas trabalhando”, reforça.
Nanotecnologia para curar feridas
Com o objetivo de transformar ativos amazônicos tradicionais em novos materiais com propriedades avançadas, surgiu a Biospin, a healthtech criada pelo manauara Andrey Marcos. O especialista em Química e engenharia de Materiais desenvolveu, através dos estudos em nanotecnologia, o Nanofiberdressing®, um revolucionário curativo para tratamento avançado de feridas em pessoas com diabetes. Atualmente, cerca de 463 milhões de pessoas diagnosticadas com a doença crônica podem ser beneficiadas com o dispositivo inteligente que, além de apresentar alta compatibilidade, sem alterar a morfologia celular; e ainda poderá ser usado no cuidado de uma ampla variedade de feridas em todos os estágios do processo de cicatrização.
“Estamos colocando o conhecimento tradicional em evidência nessa busca por soluções inovadoras na área de biomateriais. Nosso objetivo é entregar ao mercado um material biocompatível, atóxico, antimicrobiano e 100% natural, desenvolvido com ativos do nosso bioma amazônico”, destaca Andrey.
O
sócio-fundador destaca que, atualmente, os principais atores do mercado
de curativos avançados (antimicrobiano) no Brasil são de origem
estrangeira. Ele ressalta a importância de iniciativas como o Sinapse de
Bioeconomia para valorizar os ativos da floresta e as pessoas que
inovam na Amazônia. “Temos muitos profissionais com capacidade técnica
elevada que podem ser protagonistas na nova revolução biotecnológica,
valorizando os recursos naturais do bioma amazônico”, aponta.
Andrey
destaca ainda a importância de uma visão crítica da Amazônia na
manipulação de materiais e a evolução tecnológica incipiente em relação
ao potencial do bioma amazônico e afirma que “é necessário investir em
inovação na Amazônia”.
A Biospin é uma das startups selecionadas para o Sinapse da Bioeconomia, programa de pré-incubação da Jornada Amazônia que visa estimular a criação de empreendimentos inovadores que auxiliem na preservação da floresta em todos os estados da Amazônia Legal.
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