"O
machismo nas partidas, nas lives, nos comentários, na comunicação in
game acontece o tempo todo. Infelizmente, mesmo sendo errado, a gente
aprende a conviver e muitas vezes a gente acaba se escondendo atrás de
nicks masculinos como um mecanismo de defesa, para evitar ouvir ou ler
coisas indesejadas. Já fui a pessoa que não usava nick feminino, mas o
problema não é com a gente, é com quem ofende. Eu nunca quis me
esconder, não achava justo ter que fazer isso por conta das atitudes dos
outros. Hoje eu uso meu nick e encorajo todas as meninas da minha
comunidade que também querem usar, a usarem também. " - comenta Letiltz
Um
dos aspectos mais evidentes desse desafio é o fenômeno de as mulheres
se esconderem sob identidades masculinas ou neutras durante os jogos, a
fim de evitar o assédio e os comentários sexistas. Mais de 50% das
jogadoras admitiram ocultar seu gênero durante as partidas, enquanto
outras preferem não utilizar o chat de voz para evitar o assédio.
O
assédio contra mulheres no mundo dos games é uma realidade preocupante.
Em um espaço que deveria ser de diversão e entretenimento, muitas
jogadoras enfrentam uma série de desafios, desde comentários
depreciativos até ameaças e perseguições online. Infelizmente, a
impunidade é comum nesses casos, já que muitos agressores se escondem
atrás do anonimato da internet.
Essa
necessidade de ocultar a identidade de gênero reflete uma cultura ainda
permeada pelo preconceito e pela discriminação. O ambiente dos eSports
muitas vezes reproduz os mesmos padrões de desigualdade e hostilidade
presentes na sociedade em geral, tornando essencial uma reflexão sobre
como tornar esse espaço mais inclusivo e seguro para todos os jogadores,
independentemente de seu gênero.
"É
uma realidade triste: todas as mulheres gamers que conheço tem uma
história de assédio in game para contar. Mas, felizmente, mesmo que aos
poucos, com uma presença feminina mais significativa, estamos
conseguindo trazer mais visibilidade para essa questão e,
consequentemente, discutir maneiras de mudar a situação.
Recentemente
participei, inclusive, junto com outras criadoras, da campanha
#NãoMexeComAsPrincesas, desenvolvida pela Vivo, que tem como objetivo
combater o assédio contra as mulheres nos games. A campanha visa a
ressignificação do termo princesas, deixando de lado a fragilidade e
submissão e promovendo a proteção e a liberdade de expressão das
mulheres dentro dos jogos."- comenta Letiltz
Apesar
dos desafios, há também sinais encorajadores de progresso e mudança.
Alguns times já identificaram essa força no cenário e oferecem apoio e
oportunidades para jogadoras profissionais, promovendo um ambiente mais
acolhedor e igualitário para as mulheres nos eSports.
"Algo
que eu sempre reforço é a necessidade de repreender atitudes erradas
que presenciamos dentro dos jogos e isso deve partir também de homens
que presenciam comportamentos tóxicos partindo de outros homens. É
preciso se posicionar para desencorajar cada vez mais os players
tóxicos.
Caso
alguém seja tóxico comigo ou, caso eu veja alguma atitude errada de um
player com outra mulher dentro do jogo, eu imediatamente repreendo,
denuncio e faço de tudo para que haja uma punição para esse tipo de
comportamento e é o que todos deveriam fazer."- finaliza Letiltz
Neste
momento crucial, é fundamental que a comunidade gamer, juntamente com
as organizações e empresas do setor, trabalhe em conjunto para combater o
sexismo e promover a diversidade e a inclusão nos jogos eletrônicos.
Somente assim poderemos alcançar todo o potencial dos eSports como um
espaço verdadeiramente igualitário e representativo para todos os
jogadores.
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