*Jacir Venturi
Por cinco décadas, convivi com adolescentes e jovens em escolas e universidades (com adultos também, mas em pequena proporção), sempre observando com muito interesse aqueles estudantes que obtinham melhor desempenho. Alguns métodos de estudo são elevadamente recomendados, embora nem sempre praticados por todos, até porque temos inteligências distintas (segundo a teoria do psicólogo Gardner). Por exemplo, há aqueles que aprendem muito em sala de aula, assim como outros, autodidatas, preferem o estudo solitário. E, comum a todos, aconselhado é reforçar e aprimorar os bons hábitos de estudo desenvolvidos ao longo da trajetória acadêmica.
Para um bom rendimento escolar, a inteligência ajuda. Porém, para ter sucesso em vestibulares e concursos (e, é claro, na vida profissional), são necessárias a disciplina e a boa gestão do tempo. Ambiente silente, uma cadeira confortável, uma mesa com folhas de rascunhos para resolver exercícios ou resenhar o conteúdo estudado. Costuma-se dizer, em tom de blague, que se aprende pelo cérebro e pelas nádegas, portanto nada de cama ou sofá (é para estudar ou tirar uma soneca?). E concentração máxima para a fixação do aprendizado, de maneira que, nesse sentido, smartphones e outros dispositivos eletrônicos – maquininhas de Deus e do diabo – representam um desafio hercúleo, especialmente pelas futilidades tentadoras das mídias sociais. Afastá-los por completo nos horários de estudo é o mundo ideal, mas uma alternativa intermediária é responder às mensagens mais urgentes de hora em hora.
Diferentemente de países desenvolvidos, a cultura brasileira em geral pouco valoriza o raciocínio lógico, o aprofundamento, a têmpera racional, o esforço, o mérito, o rendimento escolar significativo e a rotina de estudos. Mas a neurociência está aí para provar que novas redes neurais se formam justamente por meio de atividades que ensejam esforço mental.
Há também, atualmente, uma elevada valorização do profissional com domínio das ciências dos números, e todo profissional com bom raciocínio dedutivo é um “resolvedor de problemas” – que para o mercado de trabalho é uma das mais recomendadas competências socioemocionais ou soft skills. A maioria das questões de concursos e vestibulares concorridos igualmente priorizam o raciocínio lógico e a interpretação de textos, contrapontos à nossa predominância histórica de um ensino hermético, conteudista, minimamente interdisciplinar ou contextualizado.
A assimilação dos principais conhecimentos produzidos historicamente pela humanidade – com especial foco no desenvolvimento do raciocínio lógico, leituras e pensamento crítico – é um bom começo. Leitores contumazes desenvolvem a boa escrita, a oralidade, a análise crítica, o pensamento autônomo, a abstração e a imaginação, pois são capazes de melhor compreender textos, bem como produzi-los com qualidade e expô-los com clareza, síntese e lógica.
Vale também lembrar que, durante o percurso escolar, é indispensável desenvolver uma boa fluência digital, uma das mais importantes e básicas competências do mundo contemporâneo. Atualmente, quase tudo está ao alcance de um teclado, e se a decoreba está relegada ao segundo plano, capacitar a memória continua uma habilidade valorizada que se fortalece com a repetição e os atalhos criativos dos mnemônicos. Estamos talvez vivenciando o início da mais disruptiva evolução de tecnologia educacional (e do mundo) com o uso massivo da Inteligência Artificial. No entanto, até onde a vista alcança, as competências e habilidades acima mencionadas serão sempre valorizadas.
Evidentemente, sob a perspectiva curricular, o Ensino Fundamental é a base, mas ter bom desempenho no Ensino Médio é a joia da coroa. Prioridade à Língua Portuguesa e à Matemática, os dois componentes curriculares de maior peso ou maior número de questões no Enem e em quase todos os vestibulares e concursos mais concorridos. No Enem, por exemplo, a redação vale 1.000 pontos, tanto quanto a prova de Matemática e 3 vezes mais que a de Física, portanto deve-se treinar muito e, quanto mais redações forem feitas e corrigidas por professores, apontando vícios ou erros, melhor. Ler livros, jornais, revistas é importante tanto para se manter atualizado no momento das provas quanto ajuda a promover uma boa escrita, o vocabulário, a articulação de ideias e uma melhor compreensão dos enunciados.
Na hora da prova, buscar serenidade e equilíbrio emocional. Se uma prova tem 45 questões, só para exemplificar, primeiro resolver as mais acessíveis e pular as questões que demandarão mais tempo, deixando-as para o final. “O tempo faz parte da prova” – é um velho adágio.
Se, para efeito de exemplo, um estudante tem aulas no turno da manhã, deve priorizar no período da tarde os estudos, tarefas e atividades dos componentes curriculares ministrados no dia, pois é mais eficaz a compreensão e a fixação, uma vez que o conteúdo ainda está “fresquinho” na cabeça. Não se pode ter preguiça de mergulhar fundo nos temas, pois o que se aprende superficialmente é efêmero, se esquece rápido.
E quanto aos exercícios físicos e descansos? Uma vez estabelecida uma rotina intensa de estudos, é necessário pausar a cada 1 ou 2 horas. Nesse ínterim de uns 20 min, caminhar, fazer flexões, movimentar os braços e a cabeça, respirar pausada e profundamente, passar os olhos nas mensagens do celular, mas só responder às mais urgentes. É essencial uma rotina de 7 a 8h de sono, para revitalizar o corpo, momento em que o cérebro processa a memorização e o armazenamento de longo prazo, em especial durante a fase REM. É precioso espeitar o ritmo circadiano do corpo!
Ademais, exercícios em academias ou caminhadas preferencialmente em aprazíveis e canoros parques, em meio à natureza, são atividades recomendadíssimas, pois promovem o bem-estar holístico (holos, do grego, “todo” ou “inteiro”), físico, emocional, intelectual e transcendental. Está provado que tais atividades promovem a sensação de bem-estar provocada pela serotonina e equilibram os níveis sanguíneos de adrenalina e cortisol. Se os músculos se fortalecem com os exercícios físicos, igualmente o cérebro é estimulado com todo o esforço mental, pelas sinapses entre os neurônios. Para complementar, espiritualidade e positividade promovem uma força extraordinária, pois geram autoconfiança e propósitos de vida.
A alimentação, igualmente importante, deve ser comedida e bem diversificada, para que o corpo esteja bem nutrido com proteínas, frutas, verduras e legumes, além de bem hidratado e submetido a uma boa exposição ao sol nos horários recomendados (pratique a helioterapia). A diversidade é importante, pois o corpo necessita não só de nutrientes, mas também de uma vasta gama de micronutrientes (encontrados em castanhas, sementes etc.) para um bom desempenho cognitivo.
Por fim, não abandonar – pode-se até reduzir – os lazeres preferidos, mantendo-se um ritmo cadenciado de horas de estudo. E não mergulhar desesperadamente nos estudos nas vésperas das provas, pois um bom equilíbrio emocional é um dos principais requisitos na preparação. Ensinar colegas pode ser uma ótima estratégia, pois é um ato de generosidade que faz bem e favorece laços afetivos, além de ser uma forma poderosa de reforçar o aprendizado. Desde muito jovem depreendi, remetendo à cultura latina, que docendo, discitur (“ensinando se aprende”).
*Jacir J. Venturi, membro do Conselho Estadual de Educação do Paraná e representante do Sinepe/PR, foi professor e gestor de escolas públicas e privadas, de cursos preparatórios, da UFPR, PUCPR e Universidade Positivo.
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