Inteligência
artificial como ferramenta de ensino, personalização da aprendizagem,
educação inclusiva, competências socioemocionais, edutainment
e valorização da saúde mental são algumas das tendências de Educação
que pautaram a 29ª edição da Bett Brasil, maior evento de Inovação e
Tecnologia para Educação na América Latina.
"Esta
foi a maior edição de toda a história da Bett Brasil. Superamos os 40
mil visitantes durante os quatro dias de evento. No que se refere ao
conteúdo, a oferta de paineis e palestras contou com a participação de
mais de 400 palestrantes e, na parte da exposição, mais de 300 marcas
expositoras estiveram presentes, representando todo o ecossistema
educacional. A Bett Brasil consolidou-se como um interlocutor do diálogo
entre as demandas dos gestores, professores, estudantes e dos
desenvolvedores de soluções e tecnologias. Todos, juntos, com o mesmo
propósito de viabilizar a evolução da educação", avaliou Claudia
Valerio, diretora da Bett Brasil.
A
diretora de Conteúdo da Bett Brasil, Adriana Martinelli, ressalta a
diversidade do conteúdo apresentado na 29ª edição do evento. “Temos um
conteúdo muito voltado para a realidade atual da Educação, que é
direcionar o olhar para as transformações sociais. E com isso,
conseguimos trazer a diversidade para os palcos da Bett Brasil,
incluindo palestrantes internacionais, o que ajuda a compreender de
forma globalizada os desafios da Educação”, ela afirma.
Adriana
também destaca as novidades que marcaram essa edição. “Uma novidade na
Bett Brasil deste ano foi a participação dos estudantes com uma
programação especial para que eles tenham uma voz ativa no evento. Outro
ponto marcante foi a ampliação da presença da educação pública. 80% da
realidade da educação básica no país é pública, portanto é muito
importante abrir um espaço de diálogo para os gestores públicos com
paineis específicos sobre políticas públicas e o compartilhamento de cases interessantes de projetos que estão espalhados pelo Brasil”.
Estudo OCDE
A Bett Brasil foi palco do anúncio oficial dos resultados inéditos do estudo “Social and Emotional Skills for Better Lives (Competências socioemocionais para uma vida melhor, em tradução livre),”
divulgado pelo Instituto Ayrton Senna (IAS). O estudo foi conduzido
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
em colaboração com o Instituto Ayrton Senna (IAS).
É
a primeira vez que o Brasil participa como campo de implementação
principal na coleta global de dados sobre o assunto, junto com outros 16
países e organizações, incluindo Colômbia, Chile, Itália, Japão,
Finlândia e Bulgária. No Brasil, o estudo foi conduzido na cidade de
Sobral, no Ceará, em 2023, com mais de 4.500 estudantes de 10 e 15 anos,
professores, diretores escolares e pais/responsáveis.
O
estudo representa uma das primeiras pesquisas internacionais em larga
escala sobre competências socioemocionais no mundo, abrangendo dados de
milhares de estudantes de 10 e 15 anos. O estudo avalia 15 competências
socioemocionais e sua importância na vida dos estudantes, além de
examinar os fatores que promovem ou dificultam seu desenvolvimento.
Idade:
o estudo evidencia disparidades no desenvolvimento das competências
socioemocionais entre estudantes de 10 e 15 anos. Enquanto os estudantes
mais jovens demonstraram maior progresso em competências como
confiança, determinação, assertividade e otimismo, os de 15 anos
relataram um avanço superior na competência de empatia. Essas
discrepâncias ressaltam a importância de compreender os elementos que
influenciam tal desenvolvimento. Uma hipótese sugerida pela gerente de
pesquisas e membro do eduLab21, do Instituto Ayrton Senna, Karen
Teixeira, é que os estudantes de 10 anos, especialmente aqueles no
ensino fundamental 1, desfrutam de uma relação mais próxima com um único
professor, o que pode facilitar o progresso socioemocional.
“Professores
do Ensino Fundamental 1 podem ter acesso a mais formações relacionadas
ao desenvolvimento socioemocional, tornando-os mais preparados para
ajudar os alunos nessa área. Esses insights
sugerem a importância de fornecer formação adequada aos professores do
Ensino Fundamental para melhorar o desenvolvimento socioemocional dos
alunos mais velhos”, afirmou Karen.
Frequência escolar:
o relatório também aborda a questão da frequência escolar, destacando
que os estudantes de Sobral têm menos faltas em comparação com a média
dos países participantes, embora relatem chegar atrasados à escola com
maior frequência. Karen destaca a importância de observar essa
tendência: "A incidência de faltas e atrasos é crucial, pois pode ser um
indicador de possível abandono escolar e afetar o desempenho dos
alunos. Competências como determinação, persistência e responsabilidade
contribuem para a redução das taxas de faltas e atrasos. Além disso,
competências como otimismo e entusiasmo estão associadas a indicadores
de saúde e bem-estar."
Notas escolares:
Entre os resultados mais relevantes, Karen apontou que competências
como desempenho de tarefas e abertura ao novo estão relacionadas com
melhores notas escolares; a autogestão e curiosidade foram relevantes
como os principais impulsionadores do desempenho em disciplinas como
matemática, leitura e artes; enquanto otimismo e entusiasmo influenciam
positivamente o bem-estar dos estudantes.
“Todas
as competências socioemocionais analisadas contribuíram para o
aprimoramento do desempenho acadêmico, desmistificando a ideia de que o
desenvolvimento dessas habilidades poderia prejudicar o aprendizado
tradicional”, ponderou Karen.
O
Instituto Ayrton Senna é referência no país com atuação importante na
promoção do debate e na condução de pesquisas sobre habilidades
socioemocionais no Brasil. Seu trabalho contribuiu para a inclusão
dessas competências nos currículos escolares da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), um marco histórico para a educação brasileira.
Saúde mental
As
competências socioemocionais não apenas moldam o desenvolvimento
humano, mas também desempenham um papel fundamental na saúde mental.
Especialistas afirmam que o diagnóstico precoce na infância e o
acolhimento dentro do ambiente escolar podem contribuir
significativamente para a saúde mental do indivíduo ao longo da vida.
Para elucidar o assunto, a Bett Brasil trouxe, no quarto dia de evento, a
psicóloga e gerente pedagógica do LIV - Laboratório Inteligência de
Vida, Renata Ishida, e a psiquiatra e professora da Santa Casa de São
Paulo, Maria Carolina Pinheiro.
Segundo
Renata, após a pandemia, a sensação nas escolas é de que os desafios
emocionais são ainda maiores, com crianças e jovens mais inquietos e com
diversas dificuldades socioemocionais. A psicóloga alerta ainda sobre
dados alarmantes: segundo o Ministério da Saúde, o número de crianças
que usam algum tipo de psicotrópico aumentou 775% nos últimos 10 anos.
Ishida
destaca que há um crescimento exponencial no número de diagnósticos de
transtornos, porém, o caminho para solucionar esse problema é mais longo
do que se pensa. “Não basta diagnosticar. É preciso oferecer caminhos e
ferramentas para que as pessoas enfrentem seus desafios de vida, e a
escola é fundamental nesse sentido. É preciso estruturar estratégias e
práticas de cuidados na rede escolar, e tornar isso um exercício
cotidiano de acolhimento”.
Preocupação é maior entre os jovens
“Quanto
mais estudo, mais certeza eu tenho que doenças psiquiátricas são
doenças pediátricas. É melhor construir crianças inteiras do que adultos
quebrados”. A frase da psiquiatra Maria Carolina Pinheiro comoveu a
plateia de congressistas, afinal, grande parte dos gestores e educadores
vivem a realidade desafiadora de lidar com traumas e transtornos em
crianças e adolescentes nas escolas. Segundo a médica, ao menos 12% dos
jovens do mundo possuem ao menos um tipo de transtorno psicológico.
As
causas para esse cenário são muitas, mas Maria Carolina lista,
principalmente: mudanças sociais bruscas; aumento da pressão acadêmica,
familiar e social; excesso no uso da tecnologia; traumas e adversidades;
desequilíbrios químicos e hormonais desencadeado por fatores
ambientais; condições genéticas associadas a um estilo de vida ruim,
entre outros.
De
acordo com a especialista, a cura está na transformação dos jovens e no
convite à construção da saúde. “Saúde e doença não são opostos. Se
adoecemos, é porque estamos recebendo um convite para revermos nossa
relação com o mundo. Não devemos sofrer em vão, é necessário discutir e,
principalmente, ouvir”, enfatizou.
Protagonismo do estudante segue em alta na Bett Brasil 2024
Os
estudantes subiram ao palco no quarto e último dia da Bett Brasil. O
painel "Qual educação queremos? foi apresentado pelos alunos que
participam do projeto “Juventude Bett - Agentes Transformadores", que
incentiva estudantes do Ensino Médio de escolas públicas e privadas a
explorar tendências e inovações educacionais durante os quatro dias do
evento, em uma iniciativa colaborativa entre Bett Brasil, o Instituto
Criar e a CESAR School.
Nove
alunos, divididos em três grupos, representaram os 24 estudantes das
escolas Lourenço Castanho, Escola Estadual Antônio de Lisboa e Escola
Estadual Mauro de Oliveira e subiram ao palco para apresentar os vídeos
que produziram com suas percepções sobre os futuro da educação com base
no que presenciaram nos quatro dias de Bett Brasil.
“Nossos
grupos foram divididos respeitando a pluralidade de culturas e de
realidades, e é isso que dá a graça e o toque especial nesse projeto.
Então, tivemos pessoas de escolas públicas, de escolas técnicas e
escolas particulares e foi o que gerou esse debate que a Bett Brasil, o
Instituto Criar e a CESAR School viabilizaram. Esta preocupação de
valorizar o estudante nesse papel é muito importante porque, afinal, uma
feira e congresso desse tamanho reverberam nos estudantes”, disse o
aluno Daniel.
“Como
a oportunidade gera possibilidade de acesso à Educação” foi o tema
proposto pelo grupo 1, que considerou o lugar de fala do estudante que,
lutando por seus direitos, pode criar ainda mais acessibilidade gerando
oportunidades e com qualidade.
O
segundo grupo selecionou o tema “Acesso à educação” para abordar as
dificuldades de deslocamento até a escola. A reflexão dos estudantes
passou pela acessibilidade de qualidade, que pode proporcionar mais
oportunidades de acesso, respeitando a individualidade de cada
estudante.
E
o grupo 3 falou sobre “A discrepância no ensino”, abordando que existe
uma diferença no acesso às tecnologias disponíveis. Além disso, os
estudantes falaram sobre os tipos e metodologias de ensino, aplicação de
tecnologias e a relação entre o aluno e o professor, que causa enorme
impacto no dia a dia dos estudantes.
A
aluna Sofia, da Escola Lourenço Castanho, disse que o projeto Juventude
Bett - Agentes Transformadores reforça o protagonismo dos alunos. “A
presença dos estudantes numa feira de educação tão grande como a Bett
Brasil é extremamente importante para termos representatividade, tanto
com os professores como com as instituições que aqui estão”.
Aluna
do Lourenço Castanho, Helena disse que ver outras vidas e histórias foi
o que mais a impactou. “Conviver com pessoas de realidades diferentes e
conhecer novas realidades é o que levo de mais importante nestes dias.
Consegui conversar com pessoas diferentes, com distintas visões,
defendendo um propósito em comum”, finalizou.
O futuro da educação superior no Brasil
Recentemente,
uma decisão do Conselho Nacional de Educação vem preocupando estudantes
e gestores de universidades à distância no país. O CNE decidiu limitar
as atividades online
em cursos de licenciatura EAD, como pedagogia. A proposta da entidade é
que os alunos cumpram obrigatoriamente ao menos metade da carga horária
em modalidade presencial. A mudança aguarda a homologação do Ministério
da Educação.
Para
debater o tema, a Bett Brasil trouxe para o auditório Bett Ahead João
Vianney, sócio consultor da Hoper; Luiz Cláudio Costa, reitor do IESB, e
João Mattar, presidente da Associação Brasileira de Educação a
Distância (ABED).
O
mediador João Vianney iniciou o painel lembrando que a educação à
distância no Brasil começou a ser fomentada nos anos 1970, pela
agronomia através de fascículos, mas só ganhou uma legislação em 1995,
quando passamos a ter os cursos de graduação no formato EAD, sendo a
pedagogia a primeira licenciatura implantada. Segundo ele, hoje 4,5
milhões de alunos cursam graduação à distância no país.
Para
Luiz Cláudio, é imprescindível ampliar a discussão sobre os benefícios
da educação à distância e construir sua reputação, bem como combater
eventuais preconceitos em relação ao modelo. “Não podemos discutir
qualidade por modalidade, ambas precisam ter seus indicadores de
desempenho. Existem diversos aspectos positivos na educação à distância,
como sustentabilidade, democratização do acesso, e, principalmente, a
evolução da tecnologia”.
O
palestrante afirmou ainda que, de acordo com estudos, estamos muito
próximos de ter a primeira universidade feita totalmente por
Inteligência Artificial. “A Inteligência Artificial será tão comum no
nosso uso quanto o nosso smartphone. Diante disso, vocês acham que esse mundo será presencial ou digital?”, finalizou.
O
presidente da ABED externou a preocupação com a diminuição na oferta de
professores diante da medida do CNE, e reforçou a necessidade de
discussão do tema com os órgãos nacionais e entidades do setor. “Estamos
indo na contramão do mundo. Enquanto a maioria dos países está
aperfeiçoando suas tecnologias para o ensino à distância, no Brasil
estamos discutindo qual modalidade é melhor e regressando diante dos
avanços. Não podemos continuar trabalhando nessa polaridade, é preciso
ter diálogo”, destacou João Mattar.
Bett Conect@
O Bett Conect@ realizou mais de 800 reuniões em dois dias. A iniciativa é direcionada para o relacionamento e networking
por meio de reuniões individuais pré-agendadas com 20 minutos de
duração entre instituições educacionais e fornecedores de tecnologias e
soluções para a educação.
Nesta
edição, entre as instituições participantes passaram pelo Bett Conect@:
Rede La Salle, Rede Damas, Escola Lourenço Castanho, Ânima, FIA e
Risotolândia.
Feira de Negócios
“Participar
da Bett Brasil por mais um ano foi uma experiência enriquecedora para
nós da Systemic. Estamos orgulhosos de ter lançado o Fluency Flow, o
mais completo teste de fluência oral em inglês do mundo que utiliza
inteligência artificial. Além disso, ter um auditório voltado para o
setor público e apresentar ao vivo os resultados bem-sucedidos de nossos
alunos em escolas públicas foi uma oportunidade única para demonstrar o
impacto positivo de nossas soluções. Estamos animados para continuar a
impulsionar a educação com inovação, tecnologia e resultados concretos”,
destaca a CEO Systemic, Vanessa Tenório.
A
feira de negócios da Bett Brasil contou com mais de 300 marcas que
apresentaram lançamentos e inovações em soluções, produtos e serviços
voltados para o ecossistema educacional público e privado. “Estar na
Bett Brasil foi uma oportunidade extraordinária para o isaac. Esse foi o
nosso terceiro ano consecutivo no evento e estivemos lá não só para
apresentar nossas soluções inovadoras, mas para celebrar e consolidar as
parcerias que têm sido cruciais para o nosso crescimento e sucesso",
afirmou a diretora Geral do isaac, Paula Jorge.
Paula ainda destacou a solução isaac Gestão Pro, que oferece insights
estratégicos e personalizados para a gestão financeira escolar,
permitindo que os gestores identifiquem os principais gargalos da
operação. “Estamos confiantes de que esse produto abriria novos caminhos
para o desenvolvimento e a excelência no cenário educacional,
oferecendo sustentabilidade financeira e crescimento às escolas”, disse.
O
diretor da Quero Educação, Marcelo Lima, comentou sobre a participação
da marca no evento. ”Apresentamos as soluções da Quero Bolsa para
captação de alunos no Ensino Superior, do Melhor Escola para captação de
alunos do Ensino Básico e da Quero Tutor, nossa solução de inteligência
artificial para instituições de ensino superior e educação básica.
Tivemos a oportunidade de estar muito próximos de um público qualificado
para apresentar o impacto positivo que geramos nos resultados das
instituições de ensino. A Quero também foi uma das patrocinadoras
oficiais do Ahead By Bett. Levamos conteúdos específicos para
instituições de ensino com renomados profissionais do setor. No último
ano, a Quero captou mais de 200 mil alunos e compartilhou suas
expertises no evento. Estamos muito satisfeitos com os resultados e com a
oportunidade de reafirmar o compromisso da Quero Educação em promover
inovação para a melhoria da qualidade de ensino e apoiar as instituições
nos seus processos de captação de alunos”, afirmou Lima.
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