Roberto Nascimento
Só defende pistoleiro e mandante de crime quem apoia a impunidade em geral, especialmente para os detentores de foro privilegiado. Está claro que os deputados federais, se pudessem, não autorizariam a prisão de Chiquinho Brazão, que até fevereiro personagem de destaque, como secretário de Ação Comunitária da Prefeitura do Rio, na gestão de Eduardo Paes.
A repercussão do covarde assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, sem a menor dúvida, impede que os deputados protejam a figura impoluta de Chiquinho Brazão e lhe preservem o mandato.
EXISTEM MOTIVOS – É claro que existem motivos para que o acusado seja defendido na Câmara. Por exemplo, foi uma falha monumental a colocação de algemas no deputado federal e no seu irmão Domingos, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, que não tinham a menor possibilidade de se evadir entre a descida do avião e a entrada na viatura policial.
Essa acintosa discriminação deu munição aos críticos e expôs o ministro Alexandre de Moreis. Ainda por cima, os agentes da Polícia Federal, estranhamente, não algemaram o delegado Rivaldo Barbosa. Nesse caso, eles estão sendo criticados severamente pela Câmara dos Deputados, com inteira razão. Prevaleceu o corporativismo, claramente.
O pior é que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, apressada e inexplicavelmente, deu por encerrada a investigação, embora a Polícia Federal ainda não tivesse conseguido “provas cabais” que confirmem as acusações feitas na delação do matador Ronnie Lessa.
ERROS EVITÁVEIS – Aliás, não é possível entender como as chamadas autoridades conseguem cometer esses deslizes que poderiam ser evitados. Cutucaram a onça com vara curta, logo haverá consequências, vindas da Câmara dos Deputados. É inevitável. Vai ter retaliação do Legislativo.
Os deputados estão pensando neles, porque algum dia também podem ser alvos de erros das autoridades. Depois de muito reclamar, vão acabar aprovando a prisão de Chiquinho Brazão, numa decisão política que respeite o conjunto da obra, deixando o julgamento das provas para o plenário do Supremo.
Em revide, a classe política do Rio de Janeiro está pressionando o governo federal a exonerar o Superintendente da Polícia Federal no Rio, delegado federal Leandro Almada.
JOGO DO PODER – No entanto, o jogo da tomada do poder pela força, ainda não terminou no Brasil. A Câmara e o Senado, as duas instituições legislativas do Estado, têm atuado na defesa de criminosos e estão dispostas a tramitar projetos de Lei para submeter ao crivo das mesas diretoras as decisões judiciais, que atinjam deputados e senadores.
Trata-se de gasolina no paiol, à mercê de um fósforo aceso. A promiscuidade entre o parlamento e o crime pode ensejar a tentativa de nova intentona golpista. Se vier, ninguém moverá uma palha para defender deputados e senadores, que seriam considerados o estopim de novo período militar, sem data para acabar.
Temos que salvar o Brasil, porque o Rio de Janeiro, creio, não tem mais jeito, quando o chefe de Polícia que é pago para defender a sociedade faz o contrário, atuando para arquivar os inquéritos e destruir provas contra os criminosos. Em outros Estados talvez seja mais fácil melhorar o combate ao crime organizado
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