quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Funções cognitivas e executivas do cérebro: Entenda a diferença!

 

Ana Lucia Ferreira

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Funções cognitivas e executivas do cérebro: Entenda a diferença!

  

Planejamento, organização, raciocínio... linguagem. Nosso cérebro e nossa cognição tem habilidades incríveis e quase sempre subestimadas dentro do processo de desenvolvimento que acontece ao longo da vida.

Neste contexto, a cognição é capacidade de usar as estruturas do cérebro para perceber e processar as informações do meio e utilizá-las para as atividades mentais de pensamento ou resolução de problemas.

As funções cognitivas incluem as percepções dos sentidos, as habilidades motoras, a aprendizagem, a atenção, a memória, a linguagem, o raciocínio, a tomada de decisões, etc.

“Diferentes regiões do cérebro estão envolvidas na execução das funções cognitivas, com áreas específicas sendo responsáveis por diferentes aspectos do processamento cognitivo, sendo que todas são essenciais para o desempenho acadêmico, trabalho, as relações sociais e outras áreas da vida”, explicou a neurocientista parceira do SUPERA – Ginástica para o cérebro, Livia Ciacci.

Já as funções executivas são um conjunto específico de habilidades dentro do grande grupo das funções cognitivas. É o conjunto de habilidades cognitivas que permitem o planejamento, a organização, a tomada de decisões, o controle inibitório, a flexibilidade cognitiva, a memória operacional e o monitoramento do comportamento.

“As funções executivas são as funções cognitivas diretamente responsáveis por regular e coordenar processos mentais complexos para alcançar metas e objetivos, adaptando o comportamento de acordo com as demandas do ambiente”, explicou.

Entenda sua função executiva

A função executiva do cérebro está dividida basicamente em três pontos:

Flexibilidade cognitiva: A habilidade de alternar entre diferentes pensamentos, estratégias ou tarefas de forma adaptativa. A flexibilidade cognitiva permite ajustar o comportamento de acordo com as demandas do ambiente e superar obstáculos ou mudanças nas condições. É ela que usamos quando pensamos em estratégias eficazes para atingir metas, antecipar obstáculos, organizar recursos, e também quando tudo dá errado e precisamos de um plano B.

Memória de trabalho: A capacidade de manter e manipular temporariamente informações em mente para realizar tarefas cognitivas complexas. A memória de trabalho é fundamental para a resolução de problemas, o raciocínio e a compreensão de informações, mas ela tem uma limitação natural e só foca a atenção em uma atividade de cada vez.

Controle inibitório: A capacidade de inibir ou controlar impulsos, pensamentos ou comportamentos inadequados ou irrelevantes. A inibição está associada à capacidade de resistir a distrações, adiar recompensas imediatas em favor de objetivos de longo prazo e controlar comportamentos impulsivos.

Como problemas neste campo impactam a sua vida?

A neurocientista parceira do SUPERA – Ginástica para o cérebro, Livia CIacci explica que, neste caso, os impactos dependem muito do tipo de disfunção, mas no geral, pequenas disfunções já podem causar impactos imensos “Por exemplo uma pessoa com dislexia, que é apenas uma organização diferente do cérebro ao lidar com a linguagem escrita, mas é o suficiente para ela ter que se esforçar muito, e durante muito tempo, para aprender estratégias para lidar com os erros de percepção na leitura”, pontuou.

As funções executivas no nosso dia a dia interagem o tempo todo em todas as nossas atividades diárias. Imagine que para preparar seguir o plano para atingir uma meta, será necessário utilizar a linguagem para aprender certos conteúdos e anotar etapas e prazos em uma agenda. Nesse cenário, quanto melhor uma pessoa domina a linguagem e a memória, melhor ela consegue aproveitar os aprendizados para colocar em prática durante o seu planejamento para a meta. 

“As funções executivas dependem das cognitivas para ter elementos e estrutura para trabalhar, e as cognitivas dependem das executivas para aprender e se aperfeiçoar”, detalhou a especialista.

Funções cognitivas e executivas ao longo da vida

As funções cognitivas de todo o cérebro se formam desde um pouco antes do nascimento até a adolescência, sendo que os 3 primeiros anos de vida são cruciais para construir a base emocional do desenvolvimento cognitivo, e dos 4 aos 12 anos estão os períodos críticos para aprendizagem motora, da linguagem e da socialização.

Na infância as funções executivas ainda estão começando a surgir. Por isso que é excelente deixar as crianças explorando o parquinho e se sujando inteiras, mas não podemos responsabilizá-las por nenhuma decisão.

Na adolescência e início da fase adulta temos a maturidade do córtex pré-frontal e das funções executivas, agora sim podemos exercer a autonomia, mas ainda estamos sujeitos a decisões ruins porque ainda estamos aprendendo quais estratégias funcionam melhor.

Após os 25 anos podemos considerar que o cérebro está maduro e capaz de executar todo seu potencial, mas lembrando sempre que esse potencial depende de tudo que foi treinado e aprendido até aqui. As habilidades sociais e de comunicação também se desenvolvem, permitindo a navegação eficaz em contextos interpessoais e profissionais.

Na idade adulta média e idosa, as funções executivas podem começar a declinar devido ao envelhecimento do cérebro. Há uma diminuição gradual da velocidade de processamento cognitivo, memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. No entanto, a experiência e os padrões adquiridos ao longo da vida podem compensar algumas dessas mudanças, permitindo uma adaptação eficaz às demandas cognitivas e emocionais, principalmente se continuarmos aprendendo.

Memória e flexibilidade cognitiva

Os desafios mais comuns que permitem melhoria pelo estilo de vida são a memória e a flexibilidade cognitiva. A memória porque ela depende da atenção, e podemos treinar o foco e a concentração em diversas tarefas, principalmente as tarefas manuais, como os cálculos no ábaco e leitura em papel.

“A flexibilidade cognitiva é extremamente exigida em tempos de muitas tecnologias e alta velocidade de fluxo de informações, e podemos treinar estratégias mentais de resolução de problemas e organização de rotina que melhoram o desempenho na hora de se adaptar a diferentes contextos”, alertou Livia.

A estimulação cognitiva neste sentido

O primeiro ponto de atenção quando se verifica uma dificuldade é fazer o correto rastreamento, ou seja, identificar se é apenas uma dificuldade, se é um transtorno do neurodesenvolvimento ou o indício de alguma perda cognitiva por doença neurodegenerativa. E isso só deve ser feito com os profissionais corretos de cada área, neuropsicólogos, psiquiatras ou neurologistas.

Uma vez identificado o transtorno ou dificuldade, vários caminhos de intervenção podem ser seguidos, como por exemplo:

  • Treinamento cognitivo: Envolve a prática repetida de tarefas e exercícios projetados para direcionar habilidades cognitivas específicas, como memória de trabalho, atenção seletiva e flexibilidade cognitiva. Esses programas podem ser adaptados às necessidades individuais do paciente e geralmente são realizados de forma estruturada e progressiva ao longo do tempo.
  • Terapia cognitivo comportamental: A terapia comportamental pode incluir técnicas de modificação de comportamento para promover a autorregulação e o autocontrole. Estratégias como reforço positivo, modelagem de comportamento e gerenciamento de contingências podem ser usadas para incentivar comportamentos desejados e reduzir comportamentos problemáticos.
  • Estratégias de compensação: Em alguns casos, é útil ensinar estratégias de compensação para contornar áreas de dificuldade cognitiva. Isso pode incluir o uso de dispositivos de assistência tecnológica, técnicas de organização e planejamento, e adaptações ambientais para facilitar o funcionamento diário.
  • Treinamento de habilidades sociais: Para indivíduos com dificuldades nas interações sociais e na comunicação, o treinamento de habilidades sociais pode ser benéfico. Isso pode envolver a prática de habilidades de comunicação, resolução de conflitos e empatia por meio de role-playing, modelagem e feedback direto.
  • Apoio psicossocial: O suporte psicossocial, incluindo terapia individual ou em grupo, apoio familiar e educação para os cuidadores, pode ser essencial para promover o bem-estar emocional e a adaptação às dificuldades cognitivas.
  • Estilo de vida saudável: Promover um estilo de vida saudável com dieta equilibrada, exercício físico regular, sono adequado e gerenciamento de estresse também pode ter um impacto positivo nas funções executivas e cognitivas. Estudos mostraram que hábitos saudáveis podem melhorar a plasticidade cerebral e reduzir o risco de declínio cognitivo relacionado à idade, inclusive com aulas de estimulação cognitiva em grupo.

 

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