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Como entender que um presidente que quer se passar por democrático coloque o Brasil não ao lado das democracias ameaçadas por grupos terroristas e por tiranos, mas ao lado dos que as querem exterminar? Catarina Rochamonte para O Antagonista:
Lula tem uma habilidade ímpar de transmutar seu discurso ao gosto do Ouvinte, adequando-o ao público que o ouve. É um príncipe. O príncipe,
de Maquiavel. Aquele que não tem rigidez moral, mas se move de acordo
com as circunstâncias. A ética, para ele, não é uma camisa de força como
o é para os tolos que tentam efetivamente agir com retidão e justiça e,
tendo isso em vista, agem dentro de determinados parâmetros, sem abrir
mão de princípios.
Lula
e seus asseclas estão de volta ao poder porque, para eles, o poder
sempre foi a meta. Eles são mais eficientes na sua conquista porque não
impõem restrições morais a esse objetivo. Para voltar ao poder no
Brasil, foi necessário colocar a máscara do democrata. Tarefa difícil
para quem, além de ter sido condenado por corrupção, deu apoio político e
financeiro aos regimes ditatoriais de esquerda da América Latina.
O
figurino de democrata só voltou a colar porque surgiu um palhaço maior
na República que, não tendo o ardil de esconder seu pendor
antidemocrático, seduziu, com a retórica inflamada dos loucos, aqueles
que já estavam saturados do teatro petista de décadas.
O tal “Sul global”A pomposa cerimônia do 8 de janeiro
– que comemorou uma democracia supostamente inabalada e ungiu Lula como
seu defensor perpétuo – deu a ele a confiança necessária para pôr de
lado a incômoda fantasia. Ciente do êxito do espetáculo e da força do
conluio que o sustém, Lula pode agora passar para uma nova fase na qual
sua lógica ideológica e pendor autoritário não precisam de justificação.
O
endosso formal de Lula à infundada acusação de que Israel está
cometendo genocídio mostra que ele já não se importa em ser visto por
todo o mundo livre como mais um populista inconsequente. Ele não se
importa porque acredita que pode liderar o tal “Sul global”, um bloco formado por ditadores e autocratas, que, sob a bandeira do vitimismo, tentam confrontar o Ocidente.
A
atitude foi tão despropositada e tão contrária à tradição diplomática
brasileira que conseguiu a proeza de fazer com que Estadão, O Globo e
até mesmo a Folha de S.Paulo escrevessem editoriais criticando-a.
Para o Estadão,
a denúncia contra Israel por genocídio, apresentada à Corte
Internacional de Justiça (CIJ) pela África do Sul e endossada pelo
Brasil, “não leva em conta o fato de que Israel foi atacado por um grupo
terrorista cuja missão declarada é exterminar os judeus”, portanto,
explica o jornal, “não tem bases fáticas e jurídicas sólidas”.
A banalização do genocídio
A
acusação de que Israel — o país que foi fundado para oferecer segurança
aos judeus depois que 6 milhões deles foram exterminados pelo nazismo —
estaria cometendo genocídio é extremamente grave. Ela banaliza o termo,
uma tipificação de crime que foi criada justamente como “resposta da
comunidade internacional à dimensão extraordinária do Holocausto”,
lembra o jornal.
A argumentação do editorial O Globo
segue o mesmo tom duramente crítico: “Ao atender ao pedido do
embaixador palestino no Brasil, Lula viola a tradição de equilíbrio da
diplomacia brasileira, banaliza uma acusação que só deveria ser feita
com a maior parcimônia, em atitude que fortalece a vertente mais
insidiosa do antissemitismo contemporâneo”.
A Folha de S.Paulo, por sua vez, expõe o duplo padrão moral de Lula:
“Relatório
recente da Human Rights Watch aponta a oscilação de líderes mundiais
quando se trata de condenar violações dos direitos humanos. Eles tendem a
fazer vista grossa quando os perpetradores são governos aliados e a
carregar nas tintas contra adversários. Um dos criticados pela
organização global, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), acaba
de oferecer novo subsídio para a tese.”
O
mundo passa por uma grande turbulência. O presidente americano, Joe
Biden, em discurso de apoio a Israel, logo após o início da guerra, fez a
seguinte declaração: “O Hamas e Putin representam ameaças diferentes,
mas têm algo em comum: ambos querem aniquilar completamente uma
democracia vizinha”.
Como
entender que um presidente que quer se passar por democrático coloque o
Brasil não ao lado das democracias ameaçadas por grupos terroristas e
por tiranos, mas ao lado dos que as querem exterminar?
Como
interpretar o descaso de Lula pelo acordo Mercosul-União Europeia e o
seu empenho com o BRICS no qual se congregam os países mais liberticidas
e antidemocráticos do mundo senão como a deposição da máscara de
democrata e a assunção da essência de um tirano?
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