domingo, 31 de dezembro de 2023

Político do ano: mais de 70% dos argentinos apoiam a reforma de Milei.

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

A derrapada para o personalismo obscurece uma iniciativa de enorme alcance que abrange toda a máquina do Estado e tem o apoio da opinião pública. Vilma Gryzinski


Javier Milei foi certamente o político do ano, quer o odiemos, quer consigamos ver virtudes em suas propostas de tirar o fôlego.

O estilo e as ideias, tão radicalmente maximalistas, ultrapassaram fronteiras e o tornaram imediatamente identificável até para quem teria dificuldade em localizar a Argentina no mapa. A direita trumpista o adotou e simpatizantes fundaram um partido libertário no Uruguai, mas quem tem que conviver com ele são os argentinos.

O que vai acontecer com as propostas ambiciosíssimas, apresentadas ao Congresso, um catatau de 664 artigos e 352 páginas intitulado Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos? Provavelmente muito pouco ou até nada – e isso lançará a Argentina no pior dos mundos, com a economia esfacelada e um presidente sem governabilidade e sem ação, nocauteado por um Congresso onde é minoritário, imaginando apelar diretamente ao povo, como é típico do caudilhismo latino-americano, do qual, como libertário, ele deveria ser a total antítese.

Os extremos, como sabemos por experiência própria, se encontram e Milei falou até em plebiscito ou consulta popular – uma tolice, como bem sabem os envolvidos, pois estes mecanismos não podem ter caráter vinculante. Ou seja, não se tornam leis sem apoio do legislativo.

EMERGÊNCIA

Teria ele outra alternativa? Provavelmente não. Como aplicar suas propostas ultralibertárias com 37 deputados e o apoio, e nem esse total, apenas do bloco do ex-presidente Mauricio Macri?

As reformas propostas parecem saídas de uma reunião de alunos brilhantes que veneram a Escola de Viena e se encontram para decidir como mudar o mundo. Na tentativa de viabilizá-las, propõem um regime de emergência pública “em matéria econômica, financeira, fiscal, previdenciária, de segurança, defesa, tarifária, energética, sanitária, administrativa e social até 31 de dezembro de 2025”.

Só de estatais cuja privatização é proposta, são 41, dentre as quais a petrolífera YPF, a Aerolíneas Argentina e o Banco Nación, equivalente ao Banco do Brasil.

Dá para imaginar as reações?

As convocações dos sindicatos peronistas e dos partidos de esquerda estão aí para mostrar o futuro próximo.

É uma pena porque os argentinos têm uma mistura de realismo e esperança diante do novo governo.

RESULTADOS RÁPIDOS

Uma das pesquisas mais completas, da consultora Zuban Córdoba, mostra que 78,8% dos argentinos acreditam que o ajuste fiscal irá prejudicá-los pessoalmente.

Ao mesmo tempo, 71,3% são a favor do primeiro decreto de emergência apresentado pelo executivo, um número nada menos do que impressionante.

Mas com prazo de validade: 25,4% esperam resultados positivos para a economia num período de um a dois meses; 29,6% falam em dois a seis meses e 28%, em seis meses a um ano.

Outras posições do governo com razoável apoio da opinião pública: privatização da televisão pública e da rádio nacional (47,1% a favor, 41% contra), redução do número de ministérios (55,3% e 21,3%); e reforma do sistema trabalhista (40% e 35,9%).

O porta-voz presidencial, Manuel Adorni, disse que “os deputados e senadores deverão escolher entre “libertar os argentinos do peso do Estado que tanto mal causou a todos” ou…

A alternativa veremos dentro de um prazo muito próximo.

A partir de hoje, começam a vigorar as medidas de desregulamentação do primeiro pacote, afetando todas as esferas da vida diária: cartões de crédito, aluguéis, receitas médicas, pagamento de salários por crédito em contas do celular e compra e venda de automóveis. Será o primeiro passo do enorme experimento em que Milei pretende transformar a Argentina.

O novo presidente não está apenas trocando os pneus de um carro a 100 quilômetros por hora. Pretende trocar o motor, a caixa de câmbio e a embreagem.
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A derrapada para o personalismo obscurece uma iniciativa de enorme alcance que abrange toda a máquina do Estado e tem o apoio da opinião pública. Vilma Gryzinski


Javier Milei foi certamente o político do ano, quer o odiemos, quer consigamos ver virtudes em suas propostas de tirar o fôlego.

O estilo e as ideias, tão radicalmente maximalistas, ultrapassaram fronteiras e o tornaram imediatamente identificável até para quem teria dificuldade em localizar a Argentina no mapa. A direita trumpista o adotou e simpatizantes fundaram um partido libertário no Uruguai, mas quem tem que conviver com ele são os argentinos.

O que vai acontecer com as propostas ambiciosíssimas, apresentadas ao Congresso, um catatau de 664 artigos e 352 páginas intitulado Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos? Provavelmente muito pouco ou até nada – e isso lançará a Argentina no pior dos mundos, com a economia esfacelada e um presidente sem governabilidade e sem ação, nocauteado por um Congresso onde é minoritário, imaginando apelar diretamente ao povo, como é típico do caudilhismo latino-americano, do qual, como libertário, ele deveria ser a total antítese.

Os extremos, como sabemos por experiência própria, se encontram e Milei falou até em plebiscito ou consulta popular – uma tolice, como bem sabem os envolvidos, pois estes mecanismos não podem ter caráter vinculante. Ou seja, não se tornam leis sem apoio do legislativo.

EMERGÊNCIA

Teria ele outra alternativa? Provavelmente não. Como aplicar suas propostas ultralibertárias com 37 deputados e o apoio, e nem esse total, apenas do bloco do ex-presidente Mauricio Macri?

As reformas propostas parecem saídas de uma reunião de alunos brilhantes que veneram a Escola de Viena e se encontram para decidir como mudar o mundo. Na tentativa de viabilizá-las, propõem um regime de emergência pública “em matéria econômica, financeira, fiscal, previdenciária, de segurança, defesa, tarifária, energética, sanitária, administrativa e social até 31 de dezembro de 2025”.

Só de estatais cuja privatização é proposta, são 41, dentre as quais a petrolífera YPF, a Aerolíneas Argentina e o Banco Nación, equivalente ao Banco do Brasil.

Dá para imaginar as reações?

As convocações dos sindicatos peronistas e dos partidos de esquerda estão aí para mostrar o futuro próximo.

É uma pena porque os argentinos têm uma mistura de realismo e esperança diante do novo governo.

RESULTADOS RÁPIDOS

Uma das pesquisas mais completas, da consultora Zuban Córdoba, mostra que 78,8% dos argentinos acreditam que o ajuste fiscal irá prejudicá-los pessoalmente.

Ao mesmo tempo, 71,3% são a favor do primeiro decreto de emergência apresentado pelo executivo, um número nada menos do que impressionante.

Mas com prazo de validade: 25,4% esperam resultados positivos para a economia num período de um a dois meses; 29,6% falam em dois a seis meses e 28%, em seis meses a um ano.

Outras posições do governo com razoável apoio da opinião pública: privatização da televisão pública e da rádio nacional (47,1% a favor, 41% contra), redução do número de ministérios (55,3% e 21,3%); e reforma do sistema trabalhista (40% e 35,9%).

O porta-voz presidencial, Manuel Adorni, disse que “os deputados e senadores deverão escolher entre “libertar os argentinos do peso do Estado que tanto mal causou a todos” ou…

A alternativa veremos dentro de um prazo muito próximo.

A partir de hoje, começam a vigorar as medidas de desregulamentação do primeiro pacote, afetando todas as esferas da vida diária: cartões de crédito, aluguéis, receitas médicas, pagamento de salários por crédito em contas do celular e compra e venda de automóveis. Será o primeiro passo do enorme experimento em que Milei pretende transformar a Argentina.

O novo presidente não está apenas trocando os pneus de um carro a 100 quilômetros por hora. Pretende trocar o motor, a caixa de câmbio e a embreagem.
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