BLOG ORLANDO TAMBOSI
A derrapada para o personalismo obscurece uma iniciativa de enorme alcance que abrange toda a máquina do Estado e tem o apoio da opinião pública. Vilma Gryzinski
Javier Milei foi certamente o político do ano, quer o odiemos, quer consigamos ver virtudes em suas propostas de tirar o fôlego.
O
estilo e as ideias, tão radicalmente maximalistas, ultrapassaram
fronteiras e o tornaram imediatamente identificável até para quem teria
dificuldade em localizar a Argentina no mapa. A direita trumpista o
adotou e simpatizantes fundaram um partido libertário no Uruguai, mas
quem tem que conviver com ele são os argentinos.
O
que vai acontecer com as propostas ambiciosíssimas, apresentadas ao
Congresso, um catatau de 664 artigos e 352 páginas intitulado Lei de
Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos? Provavelmente
muito pouco ou até nada – e isso lançará a Argentina no pior dos
mundos, com a economia esfacelada e um presidente sem governabilidade e
sem ação, nocauteado por um Congresso onde é minoritário, imaginando
apelar diretamente ao povo, como é típico do caudilhismo
latino-americano, do qual, como libertário, ele deveria ser a total
antítese.
Os
extremos, como sabemos por experiência própria, se encontram e Milei
falou até em plebiscito ou consulta popular – uma tolice, como bem sabem
os envolvidos, pois estes mecanismos não podem ter caráter vinculante.
Ou seja, não se tornam leis sem apoio do legislativo.
EMERGÊNCIA
Teria
ele outra alternativa? Provavelmente não. Como aplicar suas propostas
ultralibertárias com 37 deputados e o apoio, e nem esse total, apenas do
bloco do ex-presidente Mauricio Macri?
As
reformas propostas parecem saídas de uma reunião de alunos brilhantes
que veneram a Escola de Viena e se encontram para decidir como mudar o
mundo. Na tentativa de viabilizá-las, propõem um regime de emergência
pública “em matéria econômica, financeira, fiscal, previdenciária, de
segurança, defesa, tarifária, energética, sanitária, administrativa e
social até 31 de dezembro de 2025”.
Só
de estatais cuja privatização é proposta, são 41, dentre as quais a
petrolífera YPF, a Aerolíneas Argentina e o Banco Nación, equivalente ao
Banco do Brasil.
Dá para imaginar as reações?
As convocações dos sindicatos peronistas e dos partidos de esquerda estão aí para mostrar o futuro próximo.
É uma pena porque os argentinos têm uma mistura de realismo e esperança diante do novo governo.
RESULTADOS RÁPIDOS
Uma
das pesquisas mais completas, da consultora Zuban Córdoba, mostra que
78,8% dos argentinos acreditam que o ajuste fiscal irá prejudicá-los
pessoalmente.
Ao
mesmo tempo, 71,3% são a favor do primeiro decreto de emergência
apresentado pelo executivo, um número nada menos do que impressionante.
Mas
com prazo de validade: 25,4% esperam resultados positivos para a
economia num período de um a dois meses; 29,6% falam em dois a seis
meses e 28%, em seis meses a um ano.
Outras
posições do governo com razoável apoio da opinião pública: privatização
da televisão pública e da rádio nacional (47,1% a favor, 41% contra),
redução do número de ministérios (55,3% e 21,3%); e reforma do sistema
trabalhista (40% e 35,9%).
O
porta-voz presidencial, Manuel Adorni, disse que “os deputados e
senadores deverão escolher entre “libertar os argentinos do peso do
Estado que tanto mal causou a todos” ou…
A alternativa veremos dentro de um prazo muito próximo.
A
partir de hoje, começam a vigorar as medidas de desregulamentação do
primeiro pacote, afetando todas as esferas da vida diária: cartões de
crédito, aluguéis, receitas médicas, pagamento de salários por crédito
em contas do celular e compra e venda de automóveis. Será o primeiro
passo do enorme experimento em que Milei pretende transformar a
Argentina.
O
novo presidente não está apenas trocando os pneus de um carro a 100
quilômetros por hora. Pretende trocar o motor, a caixa de câmbio e a
embreagem.
Postado há 2 days ago por Orlando Tambosi
A derrapada para o personalismo obscurece uma iniciativa de enorme alcance que abrange toda a máquina do Estado e tem o apoio da opinião pública. Vilma Gryzinski
Político do ano: mais de 70% dos argentinos apoiam a reforma de Milei.
A derrapada para o personalismo obscurece uma iniciativa de enorme alcance que abrange toda a máquina do Estado e tem o apoio da opinião pública. Vilma Gryzinski
Javier Milei foi certamente o político do ano, quer o odiemos, quer consigamos ver virtudes em suas propostas de tirar o fôlego.
O
estilo e as ideias, tão radicalmente maximalistas, ultrapassaram
fronteiras e o tornaram imediatamente identificável até para quem teria
dificuldade em localizar a Argentina no mapa. A direita trumpista o
adotou e simpatizantes fundaram um partido libertário no Uruguai, mas
quem tem que conviver com ele são os argentinos.
O
que vai acontecer com as propostas ambiciosíssimas, apresentadas ao
Congresso, um catatau de 664 artigos e 352 páginas intitulado Lei de
Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos? Provavelmente
muito pouco ou até nada – e isso lançará a Argentina no pior dos
mundos, com a economia esfacelada e um presidente sem governabilidade e
sem ação, nocauteado por um Congresso onde é minoritário, imaginando
apelar diretamente ao povo, como é típico do caudilhismo
latino-americano, do qual, como libertário, ele deveria ser a total
antítese.
Os
extremos, como sabemos por experiência própria, se encontram e Milei
falou até em plebiscito ou consulta popular – uma tolice, como bem sabem
os envolvidos, pois estes mecanismos não podem ter caráter vinculante.
Ou seja, não se tornam leis sem apoio do legislativo.
EMERGÊNCIA
Teria
ele outra alternativa? Provavelmente não. Como aplicar suas propostas
ultralibertárias com 37 deputados e o apoio, e nem esse total, apenas do
bloco do ex-presidente Mauricio Macri?
As
reformas propostas parecem saídas de uma reunião de alunos brilhantes
que veneram a Escola de Viena e se encontram para decidir como mudar o
mundo. Na tentativa de viabilizá-las, propõem um regime de emergência
pública “em matéria econômica, financeira, fiscal, previdenciária, de
segurança, defesa, tarifária, energética, sanitária, administrativa e
social até 31 de dezembro de 2025”.
Só
de estatais cuja privatização é proposta, são 41, dentre as quais a
petrolífera YPF, a Aerolíneas Argentina e o Banco Nación, equivalente ao
Banco do Brasil.
Dá para imaginar as reações?
As convocações dos sindicatos peronistas e dos partidos de esquerda estão aí para mostrar o futuro próximo.
É uma pena porque os argentinos têm uma mistura de realismo e esperança diante do novo governo.
RESULTADOS RÁPIDOS
Uma
das pesquisas mais completas, da consultora Zuban Córdoba, mostra que
78,8% dos argentinos acreditam que o ajuste fiscal irá prejudicá-los
pessoalmente.
Ao
mesmo tempo, 71,3% são a favor do primeiro decreto de emergência
apresentado pelo executivo, um número nada menos do que impressionante.
Mas
com prazo de validade: 25,4% esperam resultados positivos para a
economia num período de um a dois meses; 29,6% falam em dois a seis
meses e 28%, em seis meses a um ano.
Outras
posições do governo com razoável apoio da opinião pública: privatização
da televisão pública e da rádio nacional (47,1% a favor, 41% contra),
redução do número de ministérios (55,3% e 21,3%); e reforma do sistema
trabalhista (40% e 35,9%).
O
porta-voz presidencial, Manuel Adorni, disse que “os deputados e
senadores deverão escolher entre “libertar os argentinos do peso do
Estado que tanto mal causou a todos” ou…
A alternativa veremos dentro de um prazo muito próximo.
A
partir de hoje, começam a vigorar as medidas de desregulamentação do
primeiro pacote, afetando todas as esferas da vida diária: cartões de
crédito, aluguéis, receitas médicas, pagamento de salários por crédito
em contas do celular e compra e venda de automóveis. Será o primeiro
passo do enorme experimento em que Milei pretende transformar a
Argentina.
O
novo presidente não está apenas trocando os pneus de um carro a 100
quilômetros por hora. Pretende trocar o motor, a caixa de câmbio e a
embreagem.
Postado há 2 days ago por Orlando Tambosi
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