quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Kit ideológico escolar. Uma outra guerra.


 

 

Percival Puggina

 

O episódio aconteceu numa aula do Colégio Anchieta, um dos mais bem conceituados de Porto Alegre. Certo professor colocou na pauta o conflito entre Israel e o Hamas, negando o emprego da palavra terrorista para designar a atividade desta organização. Gravado por uma das alunas, o vídeo (imagem estática), com áudio e legendas da conversa ocorrida pode ser assistido aqui.

Tudo que o professor fala é muito típico. Ele provoca o assunto definindo o Hamas como grupo político hegemônico representante da população palestina. Cria uma equivalência: os mísseis disparados por Israel equivaleriam às monstruosidades que caracterizaram o ataque do Hamas aos kibutzes vizinhos a Gaza, bem como à festa rave nas proximidades de Re’im. Note-se que os terroristas do Hamas fazem vítimas entre não combatentes, seviciando, matando e incendiando-as, olho no olho de suas vítimas; Israel faz vítimas civis como consequência de bombardeios avisados, aos locais de onde partem os mísseis do Hamas, mas o professor descreve isso como Israel “entrar numa área e matar crianças palestinas”.

A estética da guerra é sempre tenebrosa, mas a diferença ética entre as duas situações reais é enorme!

A dialética do professor, idêntica à da esquerda mundial, pinça o que lhe parece mais conveniente. Não menciona os cerca de três mil mísseis disparados pelo Hamas no início de sua operação cujo objetivo é destruir o vizinho. Imagine o estrago que essa chuvarada de mísseis produziria caindo sobre alvos aleatórios em zonas urbanas se Israel não contasse com a proteção antimíssil proporcionada pelo “domo de ferro”.

No momento em que começou a ser confrontado pelos alunos que lhe descrevem os horrores praticados pelo Hamas, o professor muda rapidamente de posição. Israel deixa de ser o causador guerra, mas diz que essa história não começou agora. Afirma que há dois lados e que ele, professor, não tem lado. “Tu tá tomando um lado, cara; eu não tô tomando lado nenhum”. E passa a acusar seus alunos de “terem lado”, informados por fontes “a serviço de Israel e dos Estados Unidos”.

Qual a lição inesperada que o caso proporciona?

Um professor militante, portador desse kit ideológico que infesta a cadeia produtiva da Educação em nosso país, tem problemas para sustentar sua opinião num debate com adolescentes bem formados e informados no ambiente familiar. Desconheço os protagonistas do fato. Contudo, sublinho no exemplo proporcionado pelas “meninas” e pelos “caras” (para dizer como o professor), a lição de que não se deve aceitar passivamente tudo que é narrado ou analisado pelos donos do toco de giz.

A atitude exemplar dos estudantes, contrapondo-se e não comprando opinião por conteúdo didático, gravando conversas desse tipo de aula, inibiria significativamente uma das principais armas de outra guerra – a guerra que a esquerda promove contra a Civilização Ocidental dentro das nossas salas de aula.

É triste, mas verdadeiro. Profissão tão nobre paga, com a própria imagem, as consequências do uso abusivo que tantos fazem de seus kits ideológicos para seduzir corações e mentes infantis e juvenis. 

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

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