As duas situações caminham em paralelo e em ritmo acelerado de agravamento. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
Não
faz uma semana, a Polícia Federal batia à porta do general Mauro Cesar
Lourena Cid, do advogado Frederico Wassef e de outros supostos
partícipes no esquema de desvio de joias que teria como finalidade
enriquecer ilicitamente Jair Bolsonaro. Os fatos novos se avolumaram
rapidamente. Em sua última edição, a revista Veja trás a informação de
que Mauro Cid pretende confessar seus crimes, apontando o ex-presidente
como mandante e beneficiário último.
Vem
uma delação premiada pela frente? É uma pergunta perfeitamente cabível.
Cid, é sabido, tornou-se personagem de uma penca de escândalos para
além desse em que relógios das marcas Rolex e Patek Philippe eram
literalmente “passados no cobre”, para ficar com a expressão popular.
Ele foi em cana por outra razão: acusado de fraudar o sistema de
registro de vacinação do Ministério da Saúde. De lá veio a apreensão de
seu celular e o restante é história.
Quando
o renomado jurista Cezar Roberto Bitencourt assumiu sua defesa, ficou
claro que a estratégia de Cid mudaria radicalmente. O próprio advogado
deu a letra quando, em entrevista para a jornalista Camila Bomfim,
afirmou que “Na verdade, ele é um militar, mas ele é um assessor.
Assessor cumpre ordens do chefe. Assessor militar com muito mais razão. O
civil pode até se desviar, mas o militar tem por formação essa
obediência hierárquica. Então, alguém mandou, alguém determinou. Ele é
só o assessor. Assessor faz o quê? Assessora, cumpre ordens”. As
palavras fazem sentido.
Quem
era o chefe de Cid? A quem ele assessorava? Quem lhe dava ordens? As
perguntas de Bitencourt são, por óbvio, meramente retóricas, e é muito
fácil deduzir qual é a resposta comum a todas elas. “O dinheiro era do
Bolsonaro”, disse o advogado para a Veja, em referência aos valores
obtidos com a venda dos objetos.
Concomitantemente
ao agravamento do caso das joias, as coisas também se complicaram para
Bolsonaro na CPMI do 8 de janeiro. Curiosamente, uma investigação que
ele e seus apoiadores desejavam e defenderam ardorosamente. Imaginavam
que, no seu curso, se daria o fim do governo Lula.
Na
sessão de quinta-feira (17), o hacker Walter Delgatti Neto envolveu
diretamente o ex-presidente numa suposta trama golpista. Dentre suas
acusações está a de que lhe foi pedido para que criasse um código-fonte
fake de maneira a mostrar que era possível trocar votos na urna
eletrônica. Também afirmou que o ex-presidente lhe prometeu indulto, e
que mandaria prender o juiz que o prendesse. Segundo o Delgatti Neto
“eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do
ministro Alexandre de Moraes”, e que “ele (Bolsonaro) precisava que eu
assumisse a autoria desse grampo”.
Ainda
que gravíssimas, as falas do hacker ainda carecem de robusta
comprovação. Antes de comparecer à CPMI, ele prestou depoimento na
Polícia Federal, e esta sexta-feira (18) deverá retornar para uma nova
oitiva. O que se sabe até aqui, e isso nem Bolsonaro nega, é que
Delgatti Neto e ele efetivamente se encontraram.
Os
aliados de Bolsonaro, especialmente o senador Sergio Moro, se
esforçaram em destacar o currículo de processos criminais que o hacker
enfrenta. É evidente que não se trata de um sujeito probo e de reputação
ilibada, e exatamente por isso sua relevância como testemunha. A
estratégia de desmoraliza-lo, entretanto, apenas escancarou que tipo de
gente era recebida para tratar com o presidente da República.
As
duas situações caminham em paralelo e em ritmo acelerado de
agravamento. No caso das joias, com uma possível delação de Mauro Cid no
horizonte de curto prazo. Já na CPMI, todo um conjunto de acusações
novas a partir do depoimento do hacker, o que pode levar também a novas
linhas investigativas. Os últimos dias foram ruidosos e tonitruantes
para Bolsonaro e seu entorno, que vão vendo as margens se estreitando
por todos os lados numa tempestade perfeita. Ao fundo, o que se ouve não
são os trovões, mas o badalar incessante de um pêndulo exclamando
tic-tac, tic-tac, tic-tac.
Postado há 3 weeks ago por Orlando Tambosi

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