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Vocês venceram mais uma vez: o certo, ou pelo menos mais fácil, é criminalizar o cidadão comum que não morra de amores pela classe política. Ulysses Guimarães está morto, mas Eduardo Cunha, eleito ou não, viverá para sempre. A crônica de Ruy Goiaba para a revista Crusoé:
Você
alguma vez pensou nos políticos e nos integrantes do Poder Judiciário,
especialmente os brasileiros, como uma minoria oprimida? A não ser que
você viva no Mundo Bizarro — e o Bananão, se não chegou lá ainda, está
muito perto —, eles são a própria definição de classe dominante,
considerando tanto aquilo que ganham, legalmente ou por fora, quanto o
poder que detêm. Uns fazem as leis, outros aplicam (na verdade, também
fazem, porque somos um povo criativo), e a única participação de uma
minoria oprimida nesse roteiro deveria ser apreciar o chicote,
infelizmente sem ter-lhe o cabo na mão. Certo?
Errado:
ao mesmo tempo em que têm o cabo do chicote na mão, os políticos deste
Brasilzão de meu Deus são a VERDADEIRA minoria oprimida e, assim, têm o
direito de mandar para a cadeia quem não goste de levar chicotada no
lombo. Prova disso é o ridículo projeto de lei que criminaliza a
“discriminação” contra políticos, aprovado pela Cãmara em regime de urgência
na última quarta-feira (14). A proposta é da deputada Dani Cunha, que
antes disso tinha como único item digno de menção no seu currículo ser
filha do glorioso Eduardo Cunha. A versão original, não aprovada pelos
deputados, era ainda pior: previa cadeia para quem injuriasse “pessoa
politicamente exposta”. Ou seja, ser do PCC e ser preso em flagrante com 2 kg de cocaína não pega nada (depois alguém nos tribunais superiores solta); chamar político corrupto de corrupto é que é inadmissível.
(E
notem: o crime de injúria existe, está em vigor e os políticos que se
sentem injuriados têm tanto direito de recorrer à Justiça como qualquer
outro cidadão. O que o projeto fazia originalmente era aumentar a pena
para esse crime caso a vítima fosse um desses alecrins dourados ou uma
dessas donzelas da política. Remeto os eventuais interessados ao ótimo
texto que o advogado André Marsiglia, meu colega de colunismo nesta
Crusoé, publicou na semana passada.)
Do
modo como a Câmara o aprovou, o texto “tipifica o crime de
discriminação contra pessoas politicamente expostas no âmbito do Código
de Defesa do Consumidor”. Traduzindo do juridiquês, sua vida vai ficar
mais difícil se você, por exemplo, tiver sido agraciado pelo destino com
um cargo de gerente de banco. Apenas experimente se recusar a abrir
conta ou dar crédito a um político, um parente de político ou um
“estreito colaborador” (às vezes conhecido como laranja) de político:
você estará sujeito a cadeia de dois a quatro anos, além de multa de R$
10 mil diários, a ser cobrada do banco. Há um bom motivo para que o Coaf
mande as instituições financeiras ficarem de olho nas transações das
pessoas expostas politicamente — aliás, dois: corrupção e lavagem de
dinheiro. Mas por que ser deselegante assim com os políticos, minha
gente? Não é bacana oprimir aquela minoria que só quer ficar mais à
vontade para lavar dinheiro.
O
projeto ainda precisa passar pelo Senado, mas já deixo aqui meus
sinceros parabéns a todos os políticos, seus advogados e seus
porta-vozes na imprensa que passaram os últimos anos chorando pela
“criminalização da política”. Vocês venceram mais uma vez: o certo, ou
pelo menos mais fácil, é criminalizar o cidadão comum que não morra de
amores pela classe política. Ulysses Guimarães está morto, mas Eduardo
Cunha, eleito ou não, viverá para sempre.
***
A GOIABICE DA SEMANA
A
internet nos brinda todos os dias com desastres provocados pelas
modernas técnicas de harmonização facial, mas poucos são tão eloquentes
quanto o “antes e depois” de Stênio Garcia: o grande ator de 91 anos
submeteu-se ao procedimento recentemente, e seu rosto se tornou algo
entre a monja Coen e uma drag queen no início do processo de se montar.
Que falta faz — e aqui arrisco dizer que para todos nós, não só para o
Stênio — um superego parecido com o Antônio Fagundes para gritar “é uma
cilada, Bino!” nesses momentos.
O “antes e depois” da harmonização facial de Stênio Garcia: carga pesada
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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