sábado, 24 de junho de 2023

Ignorância da cúpula do governo sobre juros e Banco Central ainda custa caro ao país



Só impostores tratam a macroeconomia como ciência exata - por Cid Benjamin  - Tribuna da Imprensa Livre

Charges do Clayton (O Povo/CE)

Vinicius Torres Freire
Folha

O presidente da República deve ter facilidades para demitir o presidente do Banco Central. Tal poder é tão mais justo quando se trata de Luiz Inácio Lula da Silva e de um presidente do BC nomeado por Jair Bolsonaro, que fica no cargo até 2024, se quiser, pois tem mandato legal.

É o que disse o ministro Rui Costa, da Casa Civil, em um almoço com parlamentares. A Selic e outras taxas de juros ainda estão nas alturas em parte por declarações como estas, de Costa ou de Lula.

ESCASSA COMPREENSÃO – O país “legitimou” um novo projeto econômico por meio da eleição de Lula, o que se sobrepõe à ideologia de uma pessoa, Roberto Campos Neto, que preside o BC, segue o ministro.

Para começar, essa conversa revela que Costa tem escassa compreensão de como funciona o Banco Central. Além disso, sugere a primazia de políticas de governo sobre políticas de Estado (se muda o governo, tudo pode ser virado do avesso). Pode ser o caso, mas onde está a proposta de mudança institucional?

Até agora, o governo ladra, mas não morde, em parte porque a derrubada da autonomia do BC não vai passar no Congresso. Se passasse, qual o plano de reforma do BC? Apenas nomear um amigo, como Lula acaba de fazer no Supremo ou como diz que quer fazer na Eletrobras, por exemplo? Isso é República?

DEBATE E MUDANÇA – Sim, a política, o funcionamento e o grau de subordinação do BC a diretrizes do governo podem ser objeto de debate e mudança. Aliás, o governo já pode decidir, por exemplo, qual a meta de inflação ou como e quando a alcançar.

Desde a eleição, o governo apenas xinga o BC e sugere que vai mudar a meta de inflação. Essa conversa, além dos ataques de Lula à ideia de controle da dívida pública, provocou uma alta de juros no atacadão do mercado de dinheiro onde se definem as taxas de financiamento da dívida do governo, que são os pisos do custo do crédito em geral.

Foi apenas quando surgiu algum plano de contenção de gastos (“arcabouço fiscal”) e quando melhoraram algumas condições financeiras determinadas lá fora (como o dólar), por exemplo, que os juros no mercado voltaram ao nível de novembro, do “Lula Day”, baixa que ocorreu a partir de maio.

Charge Clayton | Charges | OPOVO+META DE INFLAÇÃO – O ruído sobre a mudança (aumento) da meta de inflação ainda impede a queda mais rápida de expectativas e juros. Se o governo já tivesse dito que não vai mexer na meta, a ser decidida no final do mês, estaria ganhando dinheiro. Mas, com esse rumor ignaro tem dado dezenas de bilhões aos rentistas que diz execrar.

Quase ninguém no governo Lula entende os rudimentos do funcionamento do mercado financeiro. Entende-se por lá, na verdade, que “tudo é político” ou politiqueiro, mesmo. Que preços, condições financeiras, investimento produtivo ou consumo se decidem por canetada, o que fica evidente na palermice vexatória desse programa “Mais Carros”.

 É a mentalidade de deputado decidindo o uso de emenda parlamentar ou ministros disputando a nomeação para uma superintendência da Codevasf no interior da Bahia.

QUAL É A IDEIA? – Se o governo tem outra ideia além de nomear amigos do rei para os postos-chaves do Estado, qual é? Ainda que morra no Congresso, qual é a sua teoria monetária moderna, por assim dizer? Apenas baixar a Selic na marra, colocando um sultão amigo no BC, com outra “concepção ideológica”?

Então, o que o governo vai fazer com expectativas de inflação, juros futuros e dólar? São os indícios da disposição dos donos do dinheiro grosso a emprestar ao governo ou a manter seu dinheiro em reais. Em suma, o preço que cobram. Vai tabelar preços e juros, controlar saída de capital?

É bom dar um jeito de que os endinheirados cobrem menos. Mas qual é o plano de Lula 3 além dessas queixinhas desinformadas e contraproducentes?

 

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