terça-feira, 27 de junho de 2023

A parada é a seguinte...

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

Num animado trenzinho, gaúchos cisgêneros se engatavam com catarinenses neonazistas e paranaenses não binários, “todes” se alternando na posição de locomotiva e carro restaurante. Agamenon Mendes Pedreira para a revista Crusoé:


Para mim só existem dois sexos: o meu e o da Isaura, a minha patroa. Mas gênero tem vários e foi pensando nisso que embiquei essa semana na direção de São Paulo onde se realizou a famosa Parada do Orgulho LGBTPQP+. No começo, a parada era só Gay mas outros participantes que ficaram de fora (com trocadilho, por favor) fizeram questão de entrar no lance, de dentro para fora, é claro incorporando cada um as suas letrinhas.

É o caso dos trans, criaturas atormentadas que não se conformam com suas anatomias de nascença e querem trocar de sexo. Embora não seja um representante dessa orientação sexual, sempre troquei de sexo, principalmente quando a Isaura, a minha patroa, não quer cumprir com as suas obrigações conjugais. Só me resta então, procurar alguém que aceite sujeitar-se aos impulsos degenerados de minha libido avantajada.

A troca de sexo, hoje em dia, é coisa muito comum. O cidadão, cidadã ou cidadãe pode trocar o seu sexo seminovo por outro zero quilometro. Ele(a) ou (ãe), pode a dar o sexo usado de entrada (ou de saída) e financiar o saldo em até 24 meses sem juros no cartão. O presidanto Luis Inácio Lira da Silva, o Janja (o) ou (e), está pensado em lançar o “sexo popular” para que o pobre brasileiro tenha grana para trocar de gênero e, além da picanha (o) ou (e), possa comer uma coisinha diferente no fim de semana com os amigos.

Se você está pensando em mudar de sexo recomendo dar uma passada nestes feirões de fim de semana que rolam nos imensos e desertos estacionamentos de supermercado. Lá se pode encontrar boas ofertas de sexo, pouco rodados e ainda em bom estado. Sem compromisso, é claro.

Mas deixa voltar para a parada gay que sempre foi vista como uma ameaça à família brasileira. Ledo e Ivo engano, o que vi foi algo bem diferente. Crianças, jovens, homens e mulheres de todos os formatos e configurações encheram a Avenida Paulista num rolê careta e conservador. Até mesmo adversários políticos se uniram por algumas horas, deixando de lado suas posições sexuais e ideológicas. Vi a ministra do Turismo, com o Centrão à mostra, em cima de um carro alegórico trocando beijos e abraços com o Jean Wyllys e o Carlos Bolsonaro, o filho 24, vestido de Índio.

Num animado trenzinho, gaúchos cisgêneros se engatavam com catarinenses neonazistas e paranaenses não binários, “todes” se alternando na posição de locomotiva e carro restaurante. Quando deu meio-dia (com trocadilho e tudo), entrou em campo a gigantesca delegação baiana liderada pela Daniela Mercury e pelo Nizan Guanaes que comemorava ao lado da Luiza Trajano a conquista da conta do lubrificante KY.

Ninguém era de ninguém e a atmosfera era de puro sexo, tudo transmitido ao vivo pela Jovem Pansexual e pelo colunista Léo Dias que faturou mais de 1 bilhão de reais para não divulgar a presença de simpatizantes do movimento que não querem sair do armário. Ora, quem sai do armário é bicha pobre. Bicha rica sai do closet.

Também encontrei lá o Dr. Auzio Varella que distribuía camisinhas para quem quisesse esticar no Minhocão mesmo porque São Paulo não pode parar. Depois de tanta comemoração, comecei a sentir um enorme peso nas costas, um bafo quente no cangote e uma estranha sensação na contramão de um lugar remoto da minha encanecida anatomia. Como minha coluna está em frangalhos, é “muita coisa nas costas”, dei por encerrada a minha participação na manifestação e voltei para casa onde a Isaura, a minha patroa, aguardava saudosa o meu retorno ao lado do encanador, do entregador do iFood, do rapaz da NET e do influenciador digital que não saem lá de casa.

No caminho fiquei matutando: ninguém consegue juntar nem meia dúzia de gatos pingados na Paulista para exigir mais Educação e mais Saúde, apanhar menos da Polícia, acabar com a corrupção, defender a Democracia e outros assuntos menores de 20 cm. O brasileiro é um povo curioso e, justamente por ser muito curioso, faz questão de comparecer aos milhões na passeata LGBTPQP#$%ˆ&@#$%+ pra conferir de perto quem “joga água fora da bacia”. No fundo (e bota isso bem no fundo, se faz o favor) somos um bando de caretas e conservadores.

Agamenon Mendes Pedreira é jornalista fluido não-binário.
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