terça-feira, 27 de junho de 2023

A Cabana não é sobre Deus. É sobre nós!

 

https://www.instagram.com/guilhermerenso/
guilhermerenso

Depois de ouvir algumas (muitas) vezes que A Cabana (2017) é um filme água com açúcar e, ainda por cima, comete o sacrilégio de transformar Deus em uma mulher, eu resolvi escrever este texto. Afinal e, quando você tira da frente a perspectiva aparentemente doutrinária, o que sobre são situações encontradas nas esquinas de nossas vidas, quando não dentro delas também. Vamos ver?! 

Trilha das catarses

A sequência do caminho que leva Mack ao corpo de Missy ilustra o quão difícil é acessar e falar sobre alguns sentimentos, sobretudo aqueles que nos despertam gatilhos. Por isso o cenário da mata fechada, cheia de obstáculos, que culmina na gruta. Já no caminho de volta, com o corpo da filha embrulhado naquele tecido, Mack vive uma catarse, principalmente com relação ao algoz de sua caçula.

,

A limpeza do jardim e o enterro

Mas, antes do simbólico sepultamento de Missy, o progenitor e Sarayu preparam o jardim onde, mais tarde, a menina repousará. Entendi aquela sequência como uma metáfora em que ele está se preparando para uma limpeza maior, ou seja, psíquica e emocionalmente, quando acessará suas feridas mais íntimas para, enfim, cicatrizá-las. Sem limpar o terreno e se permitir, não tem como ir pra frente.   

Uma Deusa! E que Deusa!

Não poderia escrever sobre A Cabana sem falar da imagem de Deus vivida por uma (maravilhosa) mulher. Lembre-se que, uma figura masculina, tal e como está nas sagradas escrituras, seria implacavelmente rechaçada pelo protagonista. 

Digo isso pois estamos falando de alguém que chegou ao ponto de envenenar o pai e que teve a vida de sua filha ceifada por outro homem. A própria personagem da Octavia explica isso, de maneira muito sutil. 

O julgamento!

A última sequência que selecionei é quando a personagem vivida pela nossa Alice Braga convida Mack para que ele seja um juiz. E isso nada mais é do que uma forma de olharmos o outro e as atitudes deles a partir daquelas perspectivas.

O pai que agredia seu filho na infância, cresceu em um ambiente tão tóxico quanto aquele reproduzido em seu lar. Justifica? Não! Mas ajuda a entender.

Por isso que A Cabana, tão bobinho e doutrinário (contém ironia), carrega uma oportunidade de refletirmos sobre nos tratarmos daquilo que fizeram com a gente. Assim, deixaremos de ferir, com as mesmas armas, aqueles que ainda passarão por nós.

A Cabana não é sobre Deus! É sobre nós. Sobre a coragem de olharmos para nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário