BLOG ORLANDO TAMBOSI
Ao atribuir o plano do PCC de matar autoridades a uma ‘armação de Moro’, o presidente desmoraliza seu próprio ministro da Justiça e alimenta o ódio que tão mal tem feito ao país. Editorial do Estadão:
O
presidente Lula da Silva, aquele que se elegeu pregando o diálogo e que
se acha capaz de dobrar até a Rússia de Putin só no papo, está se
deixando levar pelo rancor, que não costuma ser bom conselheiro. No
momento em que os brasileiros tomaram conhecimento, chocados, de um
plano do PCC para assassinar autoridades País afora, o presidente, em
vez de elogiar o aparato de segurança federal que foi capaz de frustrar
os intentos criminosos daquela organização, preferiu pôr em dúvida a
própria existência do plano. O que motivou Lula da Silva a desmoralizar a
Polícia Federal (PF) e o Ministério da Justiça de seu próprio governo
foi a revelação de que um dos alvos do PCC era o senador Sérgio Moro,
que foi seu algoz na Operação Lava Jato.
Depois
de dizer que pretende ser “cauteloso” e “descobrir o que aconteceu”,
declarou, sem deixar dúvidas, que, para ele, “é visível que é uma
armação do Moro”. Se Lula é “cauteloso” assim, Deus livre o País quando
ele não for.
Até
aquele momento, a operação contra o PCC era motivo de orgulho no
governo, por razões óbvias: além da vitória contra um dos mais
insidiosos grupos criminosos do mundo, fruto de cuidadoso trabalho de
inteligência, a ação impediu um atentado contra um dos principais
opositores do governo, o senador Moro, mostrando que a máquina do
Estado, neste caso, funcionou de maneira apartidária. Não demorou para
que o ministro da Justiça, Flávio Dino, celebrasse essa conquista como
um contraste evidente em relação ao governo anterior, de Jair Bolsonaro,
que tudo fez para transformar a PF em polícia a seu serviço e contra
desafetos. Lula poderia ter seguido o exemplo de Dino, mas escolheu a
leviandade, mostrando que teorias da conspiração estapafúrdias não são
monopólio do extremismo bolsonarista.
Lula
da Silva deve ter lá suas razões para não gostar de Sérgio Moro.
Afinal, passou mais de 500 dias na cadeia depois de condenado pelo então
magistrado. Não se espera, portanto, que o petista perdoe Moro, mas um
estadista, como o que Lula da Silva pretende ser, é justamente aquele
que é capaz de deixar de lado suas eventuais mágoas pessoais em nome dos
interesses nacionais. E é também aquele capaz de demonstrar empatia com
a aflição alheia, mesmo que seja a de seu maior adversário. Se Moro e
sua família estavam sob ameaça, como mostraram as investigações, então o
presidente da República tinha o dever de respeitá-los. Sendo incapaz de
dirigir uma palavra de solidariedade a Moro, que então se calasse.
No
afã de atacar Moro, Lula acabou desprestigiando seu ministro da
Justiça, Flávio Dino, que passou os últimos dois dias dando inúmeros
detalhes sobre a operação contra o PCC e festejando o fato de que a
investigação “é tão séria que foi feita em defesa da vida e da
integridade de um senador de oposição ao nosso governo”. Ora, se o
presidente da República desconfia que tudo isso não passa de “armação de
Moro”, das duas, uma: ou Flávio Dino pede demissão por ter sido feito
de bobo pelo senador ou é demitido por Lula, pois o presidente acha que
ele foi feito de bobo.
Tudo
considerado, o discurso de Lula da Silva é um acinte. Lança aleivosias
como se estivesse no botequim, como se não fosse o chefe de Estado, a
quem cabe a responsabilidade de liderar a ofensiva contra o crime
organizado. Em lugar de assumir a condição de presidente da República e,
assim, dar apoio a um senador ameaçado por perigosíssimos delinquentes,
Lula se comportou de modo irresponsável e primário. Não foi Moro,
apenas, o desrespeitado pelo presidente: foi a República. Porque não é
republicano deixar que malquerenças pessoais contaminem o discurso e a
prática presidenciais.
É,
ademais, o tipo da reação que alimenta o ódio que tanto mobiliza os
radicais no País há tempo demais. Lula precisa sair da cadeia de uma vez
por todas, parar de ruminar vingança contra seus carrascos reais e
imaginários e assumir, com espírito conciliador, a Presidência da
República, para a qual foi eleito com a promessa de pacificar o Brasil.
Postado há 1 week ago por Orlando Tambosi
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