sábado, 1 de abril de 2023

Brasil tem problemas econômicos graves que Lula jamais conseguirá entender

 



Chargistas e cartunistas imaginam o novo governo - 01/11/2022 - Poder -  Folha

Charge do Galvão Bertazzi (Arquivo Google)

William Waack
Estadão

Mike Tyson tinha um soco formidável e uma perfeita definição do que é estratégia: “Todo mundo tem um plano até levar um soco na boca”. Supondo que Lula tenha como plano transformar o Brasil segundo suas visões políticas, já levou vários socos na boca. Em outras palavras, nenhum plano resiste ao primeiro contato com a realidade. É o que está acontecendo com os planos do presidente.

Promessas de campanha não cabem no Orçamento. Não cabem na nova constelação de poder no sistema de governo, com a ampliação das prerrogativas do Congresso. Não cabem num ambiente político de polarização calcificada e enorme oposição social ao governo do PT.

GASTAR SEM LIMITE – O cerne do plano de Lula é bem evidente. Trata-se de poder expandir sem muitos limites os gastos públicos esperando que tragam progresso para o País. Enquanto ele, árbitro e negociador máximo, acomoda no “gogó” interesses diversos e antagonismos que vão surgindo pelo caminho. Se deu certo antes, vai dar certo agora.

Ocorre que a realidade mudou nos últimos 20 anos talvez além da capacidade de compreensão do presidente. O Brasil tem produtividade e competitividade (fora o agro) estagnadas há décadas. E, na média dos últimos dez anos, exibe crescimento pífio com dívida pública maior. As previsões para o crescimento neste ano são, no fundo, mais do mesmo.

Instinto e experiência política dizem a Lula que sua popularidade vai se deteriorar rapidamente – portanto, sua capacidade de lidar com o Congresso –, se não apresentar resultados econômicos convincentes com muita brevidade. Daí a ânsia em martelar uma redução da taxa Selic, entendida por Lula como única condição agravante imediata da economia.

PERCEPÇÃO DE RISCO – De fato, as taxas de juros são perversas no Brasil, mas por outro motivo. Elas são altíssimas no curto prazo, mas também no longo. O que traduz expectativas baixas e percepção de risco alta por parte dos agentes econômicos.

Quebrar esse “ferrolho” (que é, em parte, profecia que se autocumpre) exigiria de Lula brutal adaptação de seu plano – é o que implica a definição de Tyson. Seria aceitar regras rígidas e impopulares de limite de crescimento de gastos e renunciar a exceções da regra – o contrário do que vem tentando.

Lula acha que os socos que está levando na boca vêm do presidente do BC e do presidente da Câmara. Na verdade, está sendo golpeado pela realidade de ele mesmo mandar menos, e ter dificuldades severas de coordenação política num país enfrentando desafios profundos que ele mal consegue entender. O pior do nocaute é não saber de onde vem.

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