sábado, 1 de abril de 2023

A professora morta em sala de aula revive a lembrança sempre gloriosa do Profeta Gentileza

 



José Datrino, o Profeta Gentileza – Produtos Sustentáveis Feitos no Brasil

Datrino, o Profeta Gentileza, personagem lendária do Rio

Antonio Carlos Rocha

Em março de 2010 eu lecionava em uma escola estadual da periferia de Duque de Caxias, RJ, Baixada Fluminense. O ano letivo estava recomeçando, após o carnaval. Como de hábito, entrei na sala de aula, fiz a chamada, conversei um pouco com os alunos e expliquei que nós iríamos fazer uma redação, para aferir como eles andavam em relação à Língua Portuguesa.

Lá no fundo da sala um adolescente disse que não ia fazer. Então, ponderei:

– Como é que eu terei condições de te dar uma nota se você não faz a redação pedida?

Para minha surpresa, fato que nunca havia acontecido comigo, o jovem falou:

– Eu vou te matar…

JOGO DE PALAVRAS – Não levei a sério a ameaça e aproveitei para fazer um jogo de palavras entre os verbos “matar e mudar”, esclarecendo sinônimos:

– Tudo bem, você pode “mudar” à vontade para o lado onde eu quero chegar, que é a melhoria do vocabulário e dos textos que vocês vão escrever agora.

A turma riu e uma aluna exclamou:

– Professor, ele não vai matar o senhor, ele só está brincando.

– Pessoal, ao trabalho, canetas e folhas soltas dos seus cadernos, vou levar as redações para casa, para corrigi e trago na próxima aula – incentivei.

OUTRA AMEAÇA – A interferência da aluna se fazia necessária, pois, umas semanas antes, em outra turma, um outro aluno também disse que ia matar uma professora. Esta ficou em choque, saiu de sala, foi na direção e pediu transferência de unidade escolar, temendo que cumprissem a ameaça.

De minha parte, procurei me manter calmo e tranquilo, fruto de quem pratica o Zen-Budismo há 50 anos, especialmente nas horas difíceis, e contornei o assunto.

As ameaças quase sempre são uma prática deletéria que muitos alunos bagunceiros fazem. Amedrontam professores para que abandonem a escola, e os estudantes ficam sem aulas, com o tempo vago para brincar. Uma vez comentei com tais alunos que isso era uma atitude equivocada e não significava vitória alguma da parte deles o fato de faltar professores porque estão com medo de agressões.

MORTE DA PROFESSORA – Tais lembranças me vem à mente quando leio estarrecido a morte de uma colega professora em uma escola de São Paulo, com 71 anos. Eu também, em setembro próximo completo 71 anos e me solidarizo com os feridos e seus familiares orando por plena recuperação. Quanto à Mestra que morreu apunhalada, minhas reverências e que seu Espírito-Alma descanse em paz, votos de solidariedade extensivos aos parentes.

Outro dia escrevi aqui sobre o Decadentismo nas Artes e na Política. Infelizmente o problema também se encontra em outras áreas da sociedade.

Ainda bem que a Secretaria Estadual de Educação aqui no Rio tem anualmente uma semana anual “Gentileza gera Gentileza”, onde os colégios realizam projetos sobre a vida e a obra do Profeta Gentileza que andava pintando os muros da cidade, principalmente nas pilastras próximas à Rodoviária Novo Rio.

PROFETA GENTILEZA – Foi feito um filme documentário e escreveram-se alguns livros sobre o assunto. O pacifista José Datrino (1917-1996), o Profeta Gentileza, também foi homenageado por Gonzaguinha com uma canção, na década de 1980. Depois, nos anos 1990 foi a vez de Marisa Monte falar bem dele musicalmente.

Datrino nasceu em Cafelândia, interior de São Paulo e construiu sua trajetória no Rio a partir dos anos 1960, quando familiares faleceram no incêndio de um circo em Niterói. Em 2009 a Rede Globo, em uma telenovela, fez homenagem à exemplar caminhada carioca do Profeta urbano.

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