Grupo fecha lojas físicas e descobre que é impossível ser bem-sucedido em todas as áreas de negócios. Como ela, outras big techs também não vão bem. Reportagem de Amauri Segalla para a Veja:
A
Amazon ocupa um lugar de destaque na prateleira das empresas mais
inovadoras de todos os tempos. Em 1994, o americano Jeff Bezos pediu
demissão da gestora de investimentos onde trabalhava, juntou 10 000
dólares e abriu uma livraria on-line que mudou o mundo para sempre. Se
fosse preciso sintetizar o que Bezos fez, ele garantiu uma experiência
rápida e prazerosa de compras virtuais e abriu caminho para que o
comércio eletrônico se tornasse popular em qualquer lugar que houvesse
conexão com internet. O resto é história. Como se sabe, no entanto, as
grandes companhias também são feitas de fracassos — e eles acabam de
bater à porta do gigante chamado agora de “big tech”. Há alguns dias, a
Amazon anunciou o fechamento de ao menos 68 lojas físicas, entre
livrarias, pop-ups (espaços temporários que vendem principalmente
eletrônicos) e supermercados. Até alguns estabelecimentos autônomos,
aqueles que não exigem atendimento humano e prometiam revolucionar a
experiência do consumidor, estão sob risco. Pela primeira vez, a Amazon
descobriu que é impossível ser bem-sucedida em todas as categorias de
produtos.
APPLE STORE - Loja em Pittsburgh, nos EUA: o gigante da maçã não demitiu
A
investida do conglomerado nos locais feitos de tijolos começou em 2015,
quando inaugurou a primeira unidade da Amazon Books. Depois vieram a
Amazon Fresh, um supermercado com boa variedade de itens, a Amazon Go,
rede autônoma sem atendentes, e outros projetos menos glamourosos, como
pop-ups aqui e ali. Os especialistas não entenderam o movimento da
empresa. Embora possuísse vantagem competitiva no comércio eletrônico, a
Amazon estava decidida a ir na contramão do varejo. Para ficar mais
claro: enquanto muitos diziam que as unidades físicas estavam mortas,
ela achou que os dois modelos — o de tijolos e o digital — poderiam
conviver de forma harmoniosa. “Mas aí veio a pandemia, que consolidou
novos hábitos de consumo, e os planos tiveram de ser revistos”, diz o
consultor Eduardo Tancinsky.
As
lojas físicas enfrentaram nos tempos recentes o que o mundo corporativo
chama de “tempestade perfeita”. A explosão do comércio eletrônico e o
avanço dos recursos tecnológicos tornaram a vida digital onipresente. No
Brasil, grandes redes de livrarias como Cultura e Saraiva foram
golpeadas pela nova realidade, e o fantasma da falência está aí para
comprovar a teoria. E há ainda outro complicador: o varejo físico é um
território sangrento, com competidores lastreados por décadas de
experiência e conhecedores das armadilhas que ferem os novatos. A Amazon
deu as costas a tudo isso, acreditando que as inovações digitais como
as lojas autônomas seriam suficientes para seduzir o público. Não foram.
AMAZON FRESH - Supermercado em Londres: é difícil sobreviver em um ramo com alta competição e rivais históricos
Em
defesa da Amazon, é preciso dizer que as outras big techs também não
vão bem. Desde o ano passado, elas começaram a demitir em massa depois
de contratar loucamente, no embalo da nova era digital. Juntas,
Alphabet (controladora do Google), Meta (ex-Facebook), Disney e Yahoo!,
além da própria Amazon, mandaram embora ou estão prestes a eliminar
60 000 profissionais. A crise acertou em cheio o bolso dos donos dessas
empresas. Apenas Jeff Bezos viu sumir 80 bilhões de dólares de seu
patrimônio em 2022. A exceção é a Apple, que tem passado incólume pela
crise. Sob a liderança de Tim Cook, a empresa da maçã adotou um modelo
de gestão comedido, sem planos mirabolantes que a colocassem sob risco.
Para
a Amazon, a saída foi acelerar novas frentes de negócios. Na semana
passada, sua divisão de carros autônomos, a Zoox, pôs nas ruas uma frota
de táxis sem motoristas. Os veículos, que nem sequer têm volantes,
começaram a circular em vias públicas da Califórnia, mas apenas em
roteiros delimitados. Dona dos direitos de jogos da NFL (a liga do
futebol americano) e da Premier League (campeonato inglês de futebol), a
empresa também ampliará as transmissões esportivas ao vivo em seu canal
de streaming. São iniciativas que pretendem aliviar os estragos
causados pelas lojas físicas. Ainda assim, está mais claro do que nunca:
para a Amazon, negócio bom mesmo é o comércio eletrônico.
Publicado em VEJA de 1º de março de 2023, edição nº 2830
Postado há Yesterday por Orlando Tambosi
Nenhum comentário:
Postar um comentário