Exposição
sedentária às telas piora as funções executivas das crianças, como
lembrar, prestar atenção, regular emoções e comportamentos, além de
atrasar a fala e deixar pais estressados
“Eu
sei que errei e acabei liberando muito cedo o uso das telas”. Essa é a
frase dos pais modernos que mais tem se repetido no consultório da fonoaudióloga e diretora da BabyKids Especialidades, Daniella Sales Brom. Ela tem recebido casais cada vez mais pais preocupados com o desenvolvimento das crianças e, alerta que, o tempo de tela pode ser um dos vilões para que as crianças demorem a desenvolver a fala e outras habilidades cruciais para o seu desenvolvimento.
Muitos
estudos já mostravam o impacto negativo do uso excessivo de eletrônicos
e da falta de atividades físicas e ao ar livre. Mas, um artigo
publicado no “The Journal of Pediatrics” provou que crianças pequenas
fisicamente ativas que passam, no máximo, uma hora por dia em frente às
telas têm melhor desempenho em funções como memória, atenção e controle
das emoções. A pesquisa avaliou a influência desses fatores no
desenvolvimento das “funções executivas” (capacidade de memória,
planejamento, atenção, regulação de pensamentos, comportamentos e
emoções).
“O
momento das refeições é quando os pais mais corridos usam muito as
telas porque a criança come mais rápido e sem reclamar porque não presta
atenção. Mas isso impacta diretamente no desenvolvimento da fala, no
desempenho da fluência e na intenção do diálogo. A comunicação é uma via de mão dupla, mas com telas acaba sendo uma via de mão única
e, quando a criança não desenvolve de maneira adequada essas
habilidades de comunicação, interação social e das funções executivas na
infância, pode ter impactos nas próximas fases da vida”, explica
Daniella.
Crianças mais sedentárias e pais mais estressados
A grande exposição das crianças às telas também inclui maior exposição aos anúncios
de brinquedos e outros produtos de consumo, causando maior frequência
de pedidos das crianças e negativa dos pais, que acabam se sentindo
frustrados. Um estudo feito na Universidade do Arizona, nos Estados
Unidos, mostrou que quanto maior o tempo de exposição dos filhos às telas, mais irritados eram os pais.
“Apesar de dar um pouco de descanso para os pais, o momento em que a criança está em frente às telas inclui um bombardeio sensorial com o barulho dos vídeos e a superestimulação de compra.
Outra coisa que causa ansiedade e irritação nos pais é saber que
precisam deixar a criança com o celular, ter que abrir mão de assistir
noticiários ou outras coisas para deixar a criança assistir algo na TV
em troca de momentos para si. Com mais tarefas em casa, e com pais mais
envolvidos na educação das crianças, o estresse realmente aumenta”,
finaliza Daniella.
Como equilibrar o uso das telas na prática?
Segundo orientações da Academia Americana de Pediatria, bebês
com menos de dois anos não deveriam ter acesso aos eletrônicos (TVs,
telas ou jogos de videogames e computadores); entre dois e cinco anos o
tempo máximo de telas deve ser uma hora por dia, minimizando o uso deles sempre que possível. O prejuízo causado pelos joguinhos são frustração, irritabilidade e agitação e O
vício nas telas também causa maior disposição à problemas de atenção e
hiperatividade, sono, baixo rendimento escolar, obesidade e dificuldade
de interação social. Nem os desenhos animados “educativos” têm benefícios comprovados para ganho de habilidades cognitivas e de linguagem.
Em
seus atendimentos, o que Daniella sugere para as famílias -
principalmente crianças atípicas ou com interesse restrito, que ficam
mais tempo ainda nas telas ou com dificuldades de interação ou
comunicação - é que os pais criem um quadro de rotina com hora marcada.
“As telas podem estar incluídas, mas é preciso outras atividades, como
ler um livro ou brincar juntos. A família é que dá o exemplo. Então,
quanto mais tempo os pais ficam no celular, mais eles dão a oportunidade
para que essa criança também queira ficar”, explica a fonoaudióloga.
Outro ponto bem interessante levantado por Daniella é que a criança gosta de viver no mundo real o que ela vive nas telas.
“Se ela assiste alguma coisa sobre fazer bichinhos com massinha, tente
fazer essa atividade com massinha com ela, envolva seu filho nas
atividades de vida diária (AVDs), como o preparo de um bolo, leve a
criança para a cozinha para que ela ajude nisso. Assim, a criança vai se
acostumando a ter essa rotina fora das telas. Além disso, é sempre
interessante incluir atividades físicas para ganho de habilidades
motoras, além de estimular a interação social, melhorar o bem-estar,
atividades de concentração e de relaxamento”, finaliza Daniella.
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