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Lula pediu união, mas para reverter o projeto de destruição que, na sua visão, estava em vigor até agora. Diogo Schelp para a Gazeta do Povo:
Ao contrário do que havia antecipado Alexandre Padilha,
ministro de Relações Institucionais do novo governo, nos discursos de
posse de Lula não predominou o "tom de união do País". Ao contrário, se
comparado ao discurso de vitória eleitoral,
na noite de 30 de outubro, a promessa de união ou de pacificação
nacional foi a grande ausente do discurso de posse no Congresso
Nacional. O tema só apareceu com mais peso no posterior pronunciamento
no parlatório do Palácio do Planalto, nos trechos em que Lula se
comprometeu a governar para todos os brasileiros, apesar das diferenças.
O
que de fato marcou os discursos de posse de Lula foi o vigoroso rechaço
ao governo de seu antecessor, Jair Bolsonaro. Este foi acusado por Lula
de ter feito uma gestão de destruição de políticas públicas. As
palavras "destruição" ou "destruir" foram repetidas cinco vezes na fala
no Congresso.
Ao
relembrar a campanha eleitoral, Lula fez uma análise maniqueísta das
visões de mundo que nela se enfrentaram. A dele e de seu grupo político
seria "centrada na solidariedade e na participação política e social
para definição democrática do destino do país", enquanto a outra, "no
individualismo, na negação da política, na destruição do Estado em nome
de supostas liberdades individuais".
Lula
disse que "nunca os recursos do Estado foram tão desvirtuados em
proveito de um projeto autoritário de poder" e que "nunca a máquina
pública foi tão desencaminhada dos controles republicanos" — omitindo,
claro, que em governos anteriores do PT os recursos do Estado e a
máquina pública foram, sim, usados de maneira inédita com o propósito de
perpetuar um projeto de poder.
O
novo presidente disse, também, que o diagnóstico do estado atual do
governo recebido da equipe de transição é "estarrecedor", pois recursos
para áreas essenciais teriam sido esvaziados e que estatais e bancos
públicos teriam sido dilapidados. Segundo ele, "os recursos do país
foram raspados para saciar a estupidez dos rentistas, de acionistas
privados nas empresas públicas". E foi apenas nesse ponto, ao prometer
"reconstruir o país", que Lula afirmou que fará "um Brasil de todos e
para todos".
Uma
das frases mais significativas do tom predominante no discurso de posse
no Congresso é aquela em que Lula ao mesmo tempo acusa os adversários
do que há de pior, a inspiração fascista, e anuncia que lidará com eles
com os poderes da democracia: "O mandato que recebemos aceita
adversários inspirados no fascismo com poderes que a Constituição
confere à democracia."
Lula
diz que não trará revanche a esses adversários (e, implicitamente,
àqueles que clamaram por golpe em desrespeito ao resultado das
eleições), e sim o rigor da lei. "Não carregamos nenhum ânimo de
revanche contra os que tentaram subjugar a nação a seus desígnios
pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei que errou
responderá por seus erros com direito a ampla defesa dentro do devido
processo legal". Ou seja, apesar de negar revanchismo, ele vê, sim, a
necessidade de responsabilização criminal de ex-integrantes do governo,
"direito a ampla defesa dentro do devido processo legal".
Fica
claro, em um dos trechos, que, para Lula, entre aqueles que deverão ser
atingidos pelo "primado da lei" é o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Quando fala das mortes pela pandemia de covid-19, Lula diz que a
"atitude criminosa de um governo negacionista, obscurantista, insensível
à vida" e "a responsabilidade por esse genocídio hão de ser apuradas e
não devem ficar impunes".
O
discurso de posse de Lula no Congresso contém uma longa lista de
medidas de governos anteriores (principalmente de Bolsonaro, mas também
de Michel Temer) que serão revogadas, entre os quais a regra do teto de
gastos até o acesso mais fácil dos cidadãos às armas.
Depois,
em discurso no parlatório do Palácio do Planalto, criticou a violência
política na campanha eleitoral e deu mais peso à ideia de união
nacional, para "reconstruir" o país. Ou seja, Lula pediu união, mas para
reverter o projeto de destruição que, na sua visão, estava em vigor até
agora.
Mais
do que um discurso de união ou de pacificação, o que Lula apresentou
foram falas de ruptura em relação aos últimos seis anos e com pretensões
de refundação nacional.
Postado há 1 hour ago por Orlando Tambosi
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