As duas se uniram por achar que é hora de voltar a conversar sobre problemas concretos. João Gabriel de Lima para o Estadão:
A
direita brasileira se dividiu. Uma parte está com Bolsonaro, outra
apoia Lula. O cisma nas direitas, que surpreendeu os brasileiros, é
fenômeno mundial. Na Europa, já faz algum tempo que a política deixou de
ter dois lados. O espectro ideológico se divide em três: esquerda,
direita e direita radical – ou “populist radical right” (PRR), no jargão
dos cientistas políticos.
A
direita tradicional diverge da esquerda em temas econômicos: prefere o
setor privado como motor da economia, e não o Estado, e vê a
prosperidade como principal fator de inclusão social, e não as políticas
distributivas. O partido que representa a direita na Espanha é o PP,
Partido Popular. Em Portugal é o PSD, Partido Social Democrata. No
Brasil, os votos da direita costumavam desembocar no PSDB.
A
direita radical tem pouco em comum com a tradicional. Seu foco são a
guerra cultural e o ataque aos consensos do mundo moderno. Na Europa,
opõe-se ao multiculturalismo e defende restrições à imigração. Na
América Latina, a obsessão é a pauta de costumes – a expressão
“ideologia de gênero”, pouco usada na Europa, foi criada num congresso
episcopal no Peru.
Em
Portugal, a direita radical é representada pelo partido Chega, de André
Ventura. Na Espanha, pelo Vox, de Santiago Abascal. No Brasil, é
irresistível chamar esse radicalismo tropicalizado de “direita do B” –
com o “B” do bolsonarismo. Bolsonaro é desprezado pela direita
tradicional europeia, mas tem o apoio de Ventura e Abascal.
Simone
Tebet, que representou a direita tradicional nas eleições deste ano,
foi uma das primeiras a apoiar Lula. João Amoêdo, fundador do Partido
Novo, seguiu o mesmo caminho. “Decidi votar no PT, pela primeira vez na
vida, porque com Bolsonaro há um risco efetivo de autoritarismo”, diz
Amoêdo, entrevistado no minipodcast da semana. Para ele, interferências
na composição do Supremo, por exemplo, seriam um passo para a
“venezuelização” do Brasil.
Os
estudiosos europeus fazem uma distinção entre “direita radical” e
“extrema direita”. A “direita radical” quer transformações profundas na
sociedade, mas pela via parlamentar. Já a “extrema direita” flerta com o
autoritarismo. Amoêdo e Tebet – além dos empresários e economistas
liberais que apoiam Lula – acham que Bolsonaro está no segundo caso.
“Precisamos
retomar a discussão sobre economia e projetos de país”, diz Amoêdo.
Direita e esquerda se uniram contra a “direita do B” por achar que a
pauta de costumes gera excesso de ruído, e é hora de voltar a conversar
sobre os problemas concretos dos brasileiros – entre eles, a qualidade
da nossa democracia.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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