Coluna de Carlos Brickmann, a ser publicada nos jornais de quarta-feira, 5 de outubro:
Dizem
que errar é humano, mas tudo tem limites. O erro tem de servir para ser
corrigido. Não é impossível que haja pesquisas nacionais compradas, mas
é improvável: é muita gente envolvida, coordenação entre diversas
empresas, dificílima viabilidade. E, pior ainda, as empresas reduzem sua
credibilidade perante o mercado. O mais provável é o erro.
Relembrando:
a Ford, inconformada com a perda da liderança do mercado para a GM,
decidiu lançar um carro imbatível. Fez uma pesquisa nacional e apurou
que os consumidores queriam um carro discreto, econômico, familiar.
Lançou o Edsel, com o nome do herdeiro da empresa. Um notável fracasso: o
pesquisado respondia àquilo que imaginava ser o que se esperava dele,
mas na verdade queria um carrão chamativo, de alta potência, símbolo de
sucesso, de status.
A
empresa de pesquisas Gallup passou a usar perguntas que indicavam
contradições entre o desejo real e a resposta, digamos, politicamente
correta. Houve também as pesquisas que indicavam a vitória do candidato
republicano Thomas Dewey contra o presidente Truman, com vantagem tão
grande que houve jornais que cravaram Dewey presidente. De novo, houve
modificações na metodologia das pesquisas.
Aqui
está na hora de fazer isso. Pode ter havido mudanças de última hora, é
verdade; é parte do jogo. Mas voto envergonhado, resposta contraditória,
tudo tem de ser detectado. A confiabilidade exige uma reformulação.
Por falar nisso
E
hoje à noite sai a primeira pesquisa do segundo turno, elaborada pelo
Ipec a pedido da Globo. A margem de erro prevista é de 2 pontos
percentuais.
A batalha dos apoios
A
pesquisa que não erra, a das urnas, coloca Lula com seis milhões de
votos à frente de Bolsonaro. Mas Bolsonaro demonstrou muito mais força
do que se esperava e está em campanha pesada. É jogo aberto. Conseguiu o
apoio dos governadores de Minas e do Rio, eleitos no primeiro turno,
rachou o PSDB de São Paulo.
Lula
conseguiu o apoio de Ciro Gomes e de Simone Tebet, aproximou-se de
parte do empresariado. Mas há dois fatos inegáveis: o primeiro,
Bolsonaro bateu Lula em São Paulo, berço político do petista e do PT;
segundo, o surpreendente desempenho de Bolsonaro coincidiu com a maior
queda do dólar desde 2018 e a Bolsa teve seu melhor dia em dois anos.
Mais
do que coincidência, isso indica que o mercado viu com bons olhos a
alta do bolsonarismo. E, aparentemente, a chuva de apoios ao voto útil
em Lula não rendeu muito em termo de votos.
Cartas na mesa
É
provável que o mercado não seja tão bolsonarista quanto parece, e sinta
também a necessidade de entender melhor o que Lula pretende fazer na
área econômica. “La garantía soy yo” é pouco. Agora, Lula precisa
mostrar quais são seus planos, tornar-se mais previsível, abrir-se para
conversas sobre o que pensa sobre gastos, inflação, desestatizações,
agronegócios e coisas semelhantes.
Bolsonaro não é mistério: seu governo é assim mesmo.
Quem tem a força
O
PL, partido de Bolsonaro, ampliou muito sua bancada federal, outros
partidos de sua base também cresceram, mas que ninguém se iluda: a força
do bolsonarismo é o próprio Bolsonaro, não os partidos. Foi ele que
elegeu candidatos que jamais atuaram em política, como o general Eduardo
Pazuello, o general Mourão, a ministra Damares, o filho Eduardo. Muitos
dos que romperam com ele foram vítimas de campanhas cruéis de
destruição de imagem e perderam centenas de milhares de votos, como
Janaína Pascoal, Joice Hasselmann, Alexandre Frota, general Santos Cruz,
Abraham Weintraub – todos derrotados na eleição. Sérgio Moro está com
Bolsonaro.
A humilhação
O
governador de São Paulo ofereceu o apoio a Tarcisio de Freitas, que vai
disputar o segundo turno contra Fernando Haddad, do PT. Tarcisio
aceitou o apoio, mas rejeitou a presença do governador em seu palanque.
Em resumo, pode articular, negociar, mas não diga nada ao eleitor.
No muro, invisível
O
PSDB, pela primeira vez, ficou fora do segundo turno presidencial; pela
primeira vez desde 1994, perdeu o governo de São Paulo e não foi nem
para o segundo turno. Não tomou posição como partido e ficou em cima do
muro. E rachou: Tasso Jereissati, Aloysio Nunes, os “cabeças brancas”
estão com Lula, os mais jovens fecham com Bolsonaro. José Serra, símbolo
do partido, não se elegeu. Eduardo Leite por pouco não fica fora do
segundo turno no Rio Grande do Sul. Vai disputar com Onyx Lorenzoni.
A verdade dos fatos
Ganhe
quem ganhar, já se sabe quem vai governar: o Centrão. E cada vez mais
poderoso, seja com Bolsonaro, a quem apoia, seja com Lula, a quem pode
apoiar. O Centrão não tem preconceitos. Acerta direito e apoia.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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