Desafortunadamente para a floresta, para o Brasil e para o mundo, no primeiro mandato de Lula, a Amazônia sofreu como nunca antes desde o início do monitoramento. Essa é uma conta que não dá para apagar. Leonardo Coutinho via Gazeta do Povo:
Dos
oito países que compartilham a Amazônia com o Brasil, nenhum tem o
histórico e capacidade de monitorar a floresta como os brasileiros
fazem. Está no site
do Inpe a mais completa radiografia do desmatamento – ano a ano, desde
1988. Sendo assim, é acessível e fácil verificar qualquer informação
sobre a evolução da devastação. Mais do que isso, é no site do Inpe que
está a prova de quem está mentindo ou não nesta campanha, quando o
assunto é a preservação da Amazônia.
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva adora dizer que foi quem mais
reduziu o desmatamento. As agências de checagem já verificaram que não é
bem assim. Classificam como “erro”, até.
O
sobe e desce dos indicadores do desmatamento nos últimos 34 anos mostra
que o “erro” de Lula foi ainda mais grosseiro. Objetivamente
contabilizando a média de desmatamento por cada ciclo de governo, Lula
estaria justamente na posição inversa a que ele e o PT vendem e na qual
seus seguidores teimam em acreditar.
No ranking
da devastação, o primeiro mandato de Lula ocuparia a primeira posição.
Em seu governo, a floresta perdeu 21.617 km2 por ano. Os governos de
Fernando Henrique Cardoso ocupam a segunda (segundo mandato) e a
terceira posição (primeiro mandato).
Desafortunadamente
para a floresta, para o Brasil e para o mundo, no primeiro mandato de
Lula, a Amazônia sofreu como nunca antes desde o início do
monitoramento. Essa é uma conta que não dá para apagar.
Lula
tem em seu favor uma queda acentuada na devastação na segunda metade de
seu primeiro mandato, que impediu a tendência trágica de seu governo
que, além de ter a estrela do ambientalismo global Marina Silva como
ministra do Ambiente, contava com a simpatia das ONGs em atividade na
Amazônia. Muitas delas, por sinal, perderam nomes de seus quadros que
foram transplantados para repartições dos órgãos ambientais.
A
queda das taxas parece ter arrefecido o compromisso de Lula em proteger
a floresta. O sintoma mais evidente foi como Marina Silva se demitiu do
governo em maio de 2008, ano em que a taxa de desmatamento voltaria a
empinar depois de três anos de quedas sucessivas.
Marina enviou uma carta
para Lula na qual deixou claro que não tinha mais condições de
trabalhar. “Esta difícil decisão, Sr. Presidente, decorre das
dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento
à agenda ambiental federal”, escreveu a então ministra. Ela se queixou
do fato de ter sido tratorada pelo grupo desenvolvimentista liderado
pela “Mãe do PAC”, Dilma Rousseff.
Era de conhecimento público que Marina havia sido pressionada
a abrir a porteira de projetos de infraestrutura na Amazônia,
afrouxando as regras de licenciamento. Ao recusar-se a deixar passar a
boiada (como definiu certa vez o ex-ministro bolsonarista Ricardo
Salles), Marina já havia colocado o cargo à disposição ainda no começo
do segundo mandato de Lula.
Se,
com Marina, a Amazônia já estava em segundo plano, sem ela a floresta
parecia ser candidata a ser transformada em um grande estacionamento.
Não demorou para Marina deixar o PT e
se aventurar-se no PV, partido pelo qual saiu candidata à presidência
da República em 2010. Derrotada por Dilma e tratada como traidora por
muitos petistas, a ex-ministra do Meio Ambiente fundou a Rede.
O
ex-presidente e candidato Lula trata seu desempenho na área ambiental
como algo espetacular e digno de celebração. Pura autoindulgência de
dimensões amazônicas.
Jair
Bolsonaro, que herdou uma curva ascendente do governo Temer e registra
taxas crescentes, está fora do pódio dos campeões do desmatamento, mas
não está longe dele. Na quarta posição, seu governo coincide com um
período de alta valorização do dólar e de pressão por alimentos. A
tempestade perfeita para expansão da fronteira agrícola. Fatores
econômicos que são agravados por uma ruptura nas ações de comando e
controle na selva. Bolsonaro pouco fez para reverter a situação.
Os
debates – eleitorais ou não – tergiversam o essencial sobre a região. A
Amazônia não é só um amontoado de árvores com uma biodiversidade sem
igual. A floresta comporta metrópoles como Belém e Manaus. Uma lista
consistente de cidades médias e uma infinidade de municípios, vilas e
assentamentos que, junto com os índios e ribeirinhos espraiados pela
mata, formam uma população de mais de 30 milhões de habitantes.
A gritaria oculta o fato de que a Amazônia é pobre.
Muito pobre. A lista dos municípios com os piores índices de
desenvolvimento humano do Brasil é dominada pelas cidades amazônicas.
Pensar
somente nas árvores, criminalizar quem vive na floresta ou pensar que a
subsistência delas deve ser construída sobre uma lógica extrativista
pré-industrial é cruel.
A
Amazônia é uma terra de mitos. O seu próprio nome é derivado de um. Mas
é preciso parar por aí. Não haverá salvação para a Amazônia sem passar
pelo desenvolvimento de seus habitantes. E a salvação aqui não tem
relação alguma com a catástrofe ambiental que é iminente há quase 40
anos. A região precisa de governança, modernidade, trabalho e renda para
valer. Blá blá blá de campanha não vai proteger a Amazônia e nem cuidar
de quem vive nela.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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