sexta-feira, 30 de setembro de 2022

4 fatores que dificultam a eleição decidida no 1º turno

 


Segundo cientistas políticos, quatro fatores podem definir se a corrida eleitoral acaba neste domingo (2/10) ou só no dia 30. Entenda cada um deles. 


Tribuna da Bahia, Salvador
30/09/2022 06:00
29 minutos
Foto: Reproduução / TRE-SC

Por Thais Carrança, BBC News Brasil em São Paulo 

As pesquisas eleitorais mais recentes, que indicam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com mais de 50% dos votos válidos ou muito próximo disso, aumentaram a expectativa de que a eleição presidencial de 2022 possa ser definida já no primeiro turno, em 2 de outubro. Os bolsonaristas também acreditam na vitória do mito no primeiro turno. Uma eleição sem prognóstico. 

A campanha petista trabalha para que isso ocorra, incentivando o voto útil e o comparecimento às urnas no dia da votação. 

Já a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) se esforça para que haja segunda turno, o que daria aos eleitores mais tempo para sentirem a melhora recente da economia, impulsionada por estímulos como o Auxílio Brasil de R$ 600 e o corte do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis. 

Segundo cientistas políticos, quatro fatores podem definir se a corrida eleitoral acaba neste domingo (2/10) ou só no dia 30. Entenda cada um deles. 

1) Lula tem vantagem apertada nos votos válidos 

Para que a eleição seja definida em primeiro turno, é necessário que o candidato mais votado tenha mais do que 50% dos votos válidos, que é a soma de todos os votos, descontados brancos, nulos e abstenções. 

Nas pesquisas já divulgadas nesta última semana antes da votação, Lula registrou 48% dos votos válidos na pesquisa estimulada FSB/BTG Pactual, 49% na Atlas, 50,5% na Genial/Quaest e 52% na Ipec. 

Mas, como a margem de erro das pesquisas varia entre 1 ponto (Atlas) e 2 pontos (FSB, Quaest e Ipec) para mais ou para menos, é difícil saber se o petista tem de fato a maioria da preferência dos eleitores. 

Desde a redemocratização, apenas duas eleições para presidente do Brasil foram encerradas de primeira: as duas vitórias de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1994 e 1998, tendo Lula como principal adversário. 

Nos demais seis pleitos (em 1989, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018), houve segundo turno. 

2) O peso das abstenções 

Um segundo fator de dúvida para uma possível vitória de Lula em primeiro turno é qual será o percentual de comparecimento às urnas em 2022. Isso porque a abstenção nas eleições tem crescido ano a ano, um fenômeno também identificado em outros países. 

Junto aos votos brancos e nulos, as abstenções determinam o número de votos válidos. Além disso, o perfil dos eleitores faltantes pode influenciar no resultado. 

"Nem todo mundo que é apto — que está registrado para votar, que tem título de eleitor — vai votar. Por uma série de razões, no Brasil, historicamente, pessoas mais pobres e menos escolarizadas tendem a votar menos", diz Meireles, do Cebrap. 

No entanto, observa Meireles, os analfabetos representam apenas 4,5% dos eleitores, um peso relativamente pequeno dentro do total. 

3) A incógnita do voto útil 

Muita gente deixa para decidir o voto na véspera, principalmente para os cargos de senador e governador dos Estados, que são cargos sobre os quais as pessoas acabam se informando menos ao longo da campanha eleitoral, deixando para tomar uma decisão em cima da hora. 

Por isso não surpreende que as pesquisas mostrem resultados diferentes dos votos efetivamente apurados nesses casos, mais do que na eleição presidencial, observa Meireles. 

Mas, nas eleições presidenciais, dois fenômenos podem causar mudanças de última hora nos resultados eleitorais: o voto útil e movimentações entre os indecisos. 

"O voto útil é o daquela pessoa que, dado as pesquisas de véspera, ela decide alterar seu voto estrategicamente, pensando em ter maior influência no resultado final ou votar no candidato vencedor, para sentir que seu voto não foi desperdiçado", diz o pesquisador do Cebrap. 

4) O movimento dos indecisos 

Por fim, a última incógnita para saber se vai haver segundo turno para presidente ou não está na movimentação dos indecisos. 

Segundo a pesquisa FSB/BTG Pactual dessa segunda-feira (26/9), por exemplo, 86% dos eleitores diziam que sua decisão de voto no primeiro turno já está tomada e não vai mudar, enquanto 13% afirmavam que ainda poderiam mudar de ideia. 

Apesar do percentual de certeza de voto ter se mantido mais alto ao longo de toda a corrida eleitoral de 2022 do que em eleições anteriores, a parcela de indecisos ainda é relevante. 

"O indeciso, em geral, é uma pessoa que não acompanha tanto política. É uma camada da população que está entre a classe média e um pouco mais baixo do que isso, um pouco mais feminina do que masculina. Essas pessoas acabam decidindo o voto muito na última hora", diz Meireles.

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