BLOG ORLANDO TAMBOSI
Coluna de Carlos Brickmann, a ser publicada nos jornais de sábado, 28 de agosto:
Ninguém
vence. É raríssimo que, num debate ou numa comparação entre
entrevistas, algum candidato suba o suficiente para aparecer melhor na
fila. Alguns podem cair, se fizerem besteiras grandes; mas subir é
pouquíssimo provável. Em alguns anos de experiência em campanhas
eleitorais, vê-se que o adepto de um candidato geralmente considera que
ele foi o vencedor. De certa forma, é um comportamento natural: se ele
compartilha das simpatias e antipatias do candidato, tende a
considerá-las superiores às dos adversários. Veja bem, não falei em
ideias: aí a coisa é muito mais difícil, já que é preciso primeiro
tentar descobrir o que o candidato pensa de verdade, se é que pensa.
Há
fatos indiscutíveis: Lula fica muito à vontade em entrevistas, enquanto
Bolsonaro é mais travado. E daí? Daí, nada: quem já gosta de Bolsonaro
acha que ele dominou o palco. Voto envolve muita emoção, muito mais
emoção do que racionalidade. Há a questão do carisma, da capacidade do
candidato de envolver afetivamente seus eleitores. Jânio Quadros tinha
carisma para fazer o que a nenhum outro candidato seria permitido. Ou
alguém imagina que Michel Temer possa tirar um sanduíche do bolso num
ato público?
É
por isso que um candidato mais bem colocado nas pesquisas prefere, se
tiver chance, não comparecer a debates. Corre o risco de perder
eleitores, raramente consegue uma vitória significativa, perde tempo se
preparando.
Alguém garante que Bolsonaro e Lula vão hoje ao debate da Band?
Hora H
Tanto
Lula como Bolsonaro já disseram que vão ao debate, desde que seu
principal adversário também vá. Só há um jeito de saber: esperar o
momento em que as câmeras mostrem o palco. Nenhum quer se arriscar a
virar o alvo preferido de todos os demais candidatos. Nenhum, também,
gostaria de ver seu nome à frente de uma cadeira vazia. E o debate da
Band é um dos pontos altos da campanha: a Bandeirantes o promove desde a
redemocratização. E tradicionalmente é o primeiro da temporada de
debates.
Comparando as entrevistas
Frase
notável vista em Twitter postado por Pedro Pamplona (@pedromcp) a
respeito de algumas entrevistas do Jornal Nacional: “Bolsonaro mente
mal. Lula mente bem. Ciro mente complicado”.
O dia seguinte
Debate
no dia 28, pesquisa do Ipec na noite do dia 29, segunda-feira. É a
segunda pesquisa do Ipec, criado por antigos executivos do Ibope. Já
está sendo efetuada em todo o país, com dois mil entrevistados, e margem
de erro de dois pontos percentuais. Na primeira pesquisa, realizada há
duas semanas, Lula era o líder, com 44%, seguido por Bolsonaro, com 32%,
Ciro Gomes, com 6%, e Simone Tebet, 2%. A nova pesquisa já mostrará o
resultado de três fatos ocorridos nos últimos dias: as entrevistas ao
Jornal Nacional, o Auxílio-Brasil, que terá completado 20 dias (e cujos
benefícios a Bolsonaro poderão ser medidos) e a ofensiva bolsonarista
contra as religiões de matriz africana, comandada pela esposa do
candidato, Michele Bolsonaro, e líderes neopentecostais que foram
aliados dos governos petistas e mudaram de lado.
Mais um
Nesta
semana, o segundo submarino fabricado no Brasil deve ser lançado ao
mar, nos últimos testes antes da incorporação à frota. O primeiro a
ficar pronto, o Riachuelo, deve ser incorporado à frota no dia 1º de
setembro, a próxima quinta-feira. A Marinha deve ainda fabricar mais
dois submarinos do mesmo tipo, classe Scorpene, de propulsão
convencional, com tecnologia francesa. Um quinto submarino, de propulsão
nuclear (e armamento convencional), depende de alguns detalhes: após
alguns rearranjos no mapa mundial de submarinos nucleares, a Alstom
francesa recuperou sua unidade de tecnologia, que tinha sido vendida à
GE, e hoje pode fornecer ao Brasil o que falta ao submarino sem
interferência americana. Só que tanto Bolsonaro quanto o ministro Paulo
Guedes têm-se dedicado a falar mal da França e a destratar suas
autoridades, o que dificulta as negociações.
Oportunidade adiada
O jurista Ives Gandra da Silva Martins, comentando a notícia publicada no dia 24, nesta coluna, sobre o submarino nuclear brasileiro, enviou a nosso site Chumbo Gordo (www.chumbogordo.com.br) a seguinte mensagem:
“Quando
o almirante Othon (Othon Luiz Pinheiro da Silva, responsável pela
produção brasileira de navios propelidos por energia atômica) era o
diretor de Aramar, estávamos para ter um submarino nuclear brasileiro,
com tecnologia própria, em 2002. Havia quase 500 PhDs trabalhando no
projeto, uma equipe que desenvolveu o mais barato programa de
enriquecimento de urânio do mundo. Visitei Aramar com o almirante em
2002 e vi o protótipo (com 1/5 do tamanho) do submarino. Os presidentes
que sucederam a Collor se desinteressaram em construí-lo. Uma pena!”
Uma pena. O Brasil não perde a oportunidade de perder oportunidades.
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