domingo, 31 de julho de 2022

Manifesto pela democracia já passa de 500 mil assinaturas, com adesões em ritmo acelerado

 



Charge do Duke (otempo.com.br)

Pedro do Coutto

Falando na Folha de S. Paulo, edição deste sábado, o professor Celso Campilongo, que teve a iniciativa e coordena o manifesto em defesa da democracia contra as ameaças do presidente Jair Bolsonaro, revelou que até sexta-feira à tarde, o documento já contava com mais de trezentas mil assinaturas, incluindo a Federação dos Bancos, a Fiesp, entidades de classe, eleitores e eleitoras, acentuou que a “Carta às brasileiras e aos brasileiros”, a ser lida em 11 de agosto na Universidade de Direito da USP continua aberta e recebendo adesões.

No momento que escrevo este artigo, o documento já ultrapassa meio milhão de assinaturas. O advogado Marco Aurélio Carvalho, da corrente Prerrogativas, disse que há um sentimento generalizado da sociedade em relação ao tema, incluindo figuras representativas do universo jurídico. O juiz federal Ricardo de Castro Nascimento vai além e, na sua impressão, o manifesto ultrapassará um milhão de adesões. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, está empenhado na participação do maior número possível de pessoas.

Enquanto isso, Bolsonaro – revela Cristina Camargo, Folha de S. Paulo – lançou o seu manifesto no Twitter sobre democracia com apenas 27 palavras. Disse que é a favor da democracia e que o seu texto é uma resposta à “Carta às brasileiras e aos brasileiros”. Na minha opinião, se é para defender a democracia, ele deveria aderir ao regime de liberdade vigente no país, e não dizer que representa uma resposta.

POOL DE EMISSORAS –  O consórcio de imprensa formado pela Folha de S. Paulo, pelo O Globo, pela TV Globo, pela GloboNews, pelo Uol e pelo Estado de São Paulo, resolveram realizar um debate entre quatro principais candidatos que possuem pontos no Datafolha no dia 14 de setembro. Portanto, inclui Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e quem aparecer na quarta colocação.

A presença de Lula deve se confirmar, uma vez que, quando a questão do debate foi colocada, ele condicionou a sua participação a um pool  de emissoras. Bolsonaro ainda é uma incógnita quanto a sua presença.

LULA ARTICULA APOIO – Nesta semana, Lula deve se encontrar com André Janones e Luciano Bivar, candidatos à Presidência da República, no sentido de que se integrem na sua campanha para as eleições de 2 de outubro. Pelas declarações, tanto de Lula, quanto de André Janones, a adesão do candidato do Avante parece um assunto confirmado.

Lula está obtendo apoio de candidatos do MDB em estados do Nordeste. Seu empenho é vencer a eleição no primeiro turno, o que conseguiria se as eleições fossem hoje.

EXEMPLOS DE COLLOR E DILMA – A manifestação de 11 de agosto, pelo número de apoiadores que já alcançou, lembra os movimentos populares que culminaram com a queda de Fernando Collor e Dilma Rousseff. Os dois movimentos lotaram a Avenida Paulista e a Avenida Atlântica no Rio. Inclusive, contra Dilma houve um milhão de pessoas na Paulista.

Não há governo que resista, quando um milhão de pessoas vão às ruas para protestar e defender a sua substituição. Aliás, na sexta-feira, na Folha de S. Paulo, o economista Edmar Bacha, numa entrevista, chamou atenção para esse aspecto nos desfechos políticos.

DESEMPREGO –  O IBGE anunciou na sexta-feira que o desemprego no país recuou para 9,3%, descendo assim para praticamente 10 milhões de pessoas que perderam a colocação no mercado de trabalho. A mim, a notícia surpreende, sobretudo porque o mesmo IBGE anunciou que 33 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome e 60 milhões vivem num clima de insegurança alimentar para o dia seguinte. A reportagem é de Leonardo Vieceli, Folha de S. Paulo.

Não vejo sinceramente a correlação entre a queda do desemprego com o aumento do Auxílio Brasil, que aliás ainda não começou a ser pago. O IBGE, segundo a reportagem, está atribuindo uma reação da economia no campo do consumo aos efeitos de uma retomada das atividades econômicas, incluindo, assinalou o instituto, a liberação de recursos adicionais pelo aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600. Não identifico nenhuma relação entre um auxílio para os que estão na fome com a retomada da economia brasileira.

O economista Rodolpho Tobler, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, prevê que a aparente recuperação do emprego resista à passagem de 2022 para 2023; pensamento que é acompanhado por outro economista, Eduardo Vilarim, do Banco Original. Para ambos os profissionais, a reação que o IBGE anuncia perderá o ritmo até o final do ano. Talvez, penso, perderá o ritmo a partir de 2 de outubro, data do primeiro turno das eleições. Inclusive, completando a contradição, o próprio IBGE já informou uma redução da renda do trabalho e a presença de praticamente 40 milhões de empregados informais na força nacional de trabalho.

ICMS  –  Manoel Ventura e André de Souza, O Globo, focalizam recursos ao STF de 11 estados da Federação, entre eles, São Paulo, Rio e Minas Gerais, para que sejam suspensos os pagamentos de suas dívidas como consequência da redução do ICMS sobre os combustíveis.

A mesma reportagem em seu bloco final, focaliza dados da dívida pública brasileira, e acentua que ela caiu pelo sétimo mês seguido, mas chega a 78,2% do Produto Interno Bruto. Volto a tocar no assunto. O leitor fica sem saber direito sobre qual valor absoluto a percentagem recai. O ministro Roberto Campos sempre chamava atenção para esse defeito. É preciso que a percentagem seja explicada sobre qual valor absoluto ela recai. Não sei o motivo pelo qual same matérias restritas sobre a percentagem.

CORRUPÇÃO – A reportagem de Igor Gielow, Folha de S. Paulo de sábado, e o resultado aponta que 73% acreditam que haja corrupção no governo Bolsonaro. A pesquisa focaliza o tema na atual gestão, mas penso que não há uma exclusividade no caso, e que a corrupção ganhou uma velocidade extraordinária a partir de 1996, quando foi aprovada a emenda constitucional quando permitiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso.

A partir daí, o custo da corrupção foi se agigantando, transformando-se de exceção em uma regra, sobretudo nas estatais. Tenho a impressão que não existe nenhum contrato, nenhuma compra de material que não inclua o fator comissão num percentual que cresce de um ano para outro. Com isso, a honestidade – estava outro dia comentando com o meu amigo Ruy Castro – que se for editado um dicionário sobre a corrupção, terá que ser atualizado o verbete da honestidade. Pois a honestidade passou de ser uma virtude para sociedade num meio defeito.

Ser honesto, para muitos dirigentes políticos e da administração pública, está se transformando num fator de exclusão. A qualquer dia,  um dirigente ou um parlamentar vai dizer ao seu amigo: “Você vai colocar fulano em tal colocação? Não faça isso, ele é honesto. Vai nos atrapalhar”.

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